Use este identificador para citar ou linkar para este item: http://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/handle/1/32944
Título: Tecnologias do morar: domesticidades e desigualdades de raça, gênero e classe na revista de arquitetura A Casa (1923-1952)
Título(s) alternativo(s): Technologies of dwelling: domesticities and inequalities of race, gender and class in the brazilian architectural magazine A Casa (1923-1952)
Autor(es): Pereira, Juliana Regina
Orientador(es): Santos, Marinês Ribeiro dos
Palavras-chave: Arquitetura e sociedade
Arquitetura de habitação - Periódicos
Arquitetura - Brasil - Séc. XX
Tecnologia
Estilo de vida
Decoração de interiores
Classes sociais na comunicação de massa
Interseccionalidade (Sociologia)
Architecture and society
Architecture, Domestic - Periodicals
Architecture - Brazil - 20th century
Technology
Lifestyles
Interior decoration
Social classes in mass media
Intersectionality (Sociology)
Data do documento: 1-Set-2023
Editor: Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Câmpus: Curitiba
Citação: PEREIRA, Juliana Regina. Tecnologias do morar: domesticidades e desigualdades de raça, gênero e classe na revista de arquitetura A Casa (1923-1952). 2023. Tese (Doutorado em Tecnologia e Sociedade) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2023.
Resumo: A presente tese investiga a influência da revista A Casa, uma publicação especializada em arquitetura residencial no Brasil, na produção de desigualdades estruturais nas formas de organização da sociedade por meio da vida doméstica. Desenvolvido a partir do conjunto disponibilizado pela Hemeroteca Digital Brasileira, neste estudo analiso como a revista, ao longo de seu período de circulação entre 1923 e 1952, desempenhou importante papel na construção de identidades e subjetividades relacionadas ao morar. Por meio da abordagem interseccional, levo em consideração como diferentes dimensões sociais – em especial raça, gênero e classe – interagem e influenciam as experiências individuais e coletivas dos sujeitos retratados na revista. Nesta tese, a revista A Casa é tratada como um artefato tecnológico que produziu discursos e práticas relacionadas à construção, decoração e organização do lar. Observo, desse modo, como essas práticas são imbuídas de concepções culturais de raça, gênero e classe, contribuindo para a produção de diferenças estruturadas sobre esses marcadores. Ao analisar os periódicos, destaco como a revista investiu em estratégias discursivas relacionadas à modernização do espaço doméstico, promoção de um ideal de “bom gosto” e produção de estilos de vida. Nesse contexto, o espaço doméstico se configura como campo de disputa por representações de poder entre diferentes sujeitos e atores sociais. Dentre os principais objetivos da tese coloco a identificação e compreensão das estratégias utilizadas pela revista para materializar desigualdades entre sujeitos, as quais denomino “tecnologias do morar”. Este conceito visa dar coesão e coerência à organização da sociedade a partir do espaço doméstico, e é operacionalizado na revista A Casa por meio do estabelecimento de matrizes de inteligibilidade estruturadas sobre oposições binárias como público/privado, masculino/feminino e patroas/empregadas. Por meio do conteúdo veiculado, a revista constrói discursos que reforçam e naturalizam desigualdades sociais, associando o espaço doméstico ao fazer feminino e estabelecendo uma hierarquia do trabalho entre arquitetos e/ou decoradores, donas de casa e trabalhadoras domésticas. Essas representações também invisibilizam a presença das mulheres negras nos espaços domésticos, contribuindo para a marginalização e estereotipação dessas mulheres. Também exploro como a revista emprega a figura feminina como parâmetro estético para a comparação entre corpo e objeto doméstico, reforçando a equiparação entre o corpo feminino idealizado como branco, jovem e magro, e o embelezamento do lar. Destaco a atuação das tecnologias do morar na produção de sujeitos que, atravessados por marcadores sociais da diferença, moldam suas formas de habitar e existir no mundo. Concluo que essas tecnologias são informadas por preceitos científicos que em sua época foram tidos como neutros e universais, mas que, na realidade, perpetuam assimetrias de raça, gênero e classe. Por meio dessa análise, fica justificada a contribuição do presente estudo no entendimento da revista A Casa como agente histórico, enriquecendo, assim, a compreensão da produção de diferenças sociais no interior espaço doméstico a partir da mediação com a tecnologia e com os discursos propagados pela mídia.
Abstract: The present thesis investigates the influence of the magazine “A Casa”, a specialized publication in residential architecture in Brazil, on the production of structural inequalities in the organization of society through domestic life. Developed from the corpus provided by the Brazilian Digital Periodicals Library, this study examines how the magazine played a significant role in constructing identities and subjectivities related to dwelling during its circulation period between 1923 and 1952. Employing an intersectional approach, I consider how different social dimensions —especially race, gender, and class —influence the individual and collective experiences of the subjects portrayed in the publication. In this thesis, “A Casa” is treated as a technological artifact that produced discourses and practices related to the construction, decoration, and organization of the home. I observe how these practices are imbued with cultural conceptions of race, gender, and class, contributing to the production of structural inequalities based on these social markers. Analyzing the periodicals, I emphasize how the magazine endowed discursive strategies related to the modernization of domestic space and the promotion of an ideal of “good taste”. In this context, the domestic space emerges as a place of tension between different subjects and social actors vying for representations of power. Among the main objectives of the thesis is the identification and understanding of the strategies employed by the magazine to materialize inequalities among subjects, which I term “technologies of dwelling”. This concept aims to provide cohesion and coherence to the organization of society taking the domestic space as its breeding ground. In the case of “A Casa”, the technologies of dwelling operate matrices of intelligibility structured on binary oppositions such as public/private, male/female, and employers/domestic workers., The magazine constructs discourses that reinforce and naturalize social inequalities, associating domestic space with feminine activities and establishing a hierarchy of labor between architects/decorators, housewives, and, mostly black female, domestic workers. These representations also marginalize and stereotype the presence of black women in domestic spaces. I also explore how the journal employs the female figure as an aesthetic parameter for the equivalence between the body and the domestic object, reinforcing the fusion between the idealized slender, white and young female body and the beautification of the home. I highlight the role of technologies of dwelling in producing subjects who shape their ways of inhabiting and existing in the world in mediation with social markers of inequality. I conclude that these technologies are informed by scientific precepts that were considered neutral and universal in their time but, in reality, perpetuate asymmetries of race, gender, and class. Through this analysis, the contribution of this study to understanding “A Casa” as a historical agent is justified, thus enriching the comprehension of the production of social differences within the domestic space through mediation with technology and the discourses propagated by the media.
URI: http://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/handle/1/32944
Aparece nas coleções:CT - Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade

Arquivos associados a este item:
Arquivo Descrição TamanhoFormato 
tecnologiasmorardomesticidadesdesigualdades.pdf5,17 MBAdobe PDFThumbnail
Visualizar/Abrir


Este item está licenciada sob uma Licença Creative Commons Creative Commons