Vida, trabalho e percepções dos catadores de material reciclável da Associação dos Agentes Ambientais de Santa Helena-PR

Abstract

Ao longo da existência do ser humano no planeta terra, as atividades antrópicas têm deixado consequências. A produção de bens de consumo em larga escala, pautada no modelo capitalista, tem gerado grande quantidade de resíduos ao redor do mundo, tornando-os uma problemática ambiental mundial. Para mitigar esta problemática, a reciclagem dos resíduos sólidos se tornou uma necessidade. Para que este processo ocorra, é necessária a aplicação de uma força de trabalho para realizar o processo de catação, separação, limpeza de resíduos que podem ser recicláveis. Nesse contexto surge a figura do catador de material reciclável. Embora fundamental para este processo, estes trabalhadores vivem à margem da sociedade e muitas vezes em condições de trabalho questionáveis. Sendo assim, esta pesquisa visa compreender as condições sociais e de trabalho dos catadores de material reciclável, bem como a percepção destes catadores em relação ao seu trabalho, como este trabalho afeta suas vidas e quais são suas perspectivas em relação às atividades que desempenham. Para isso, foi realizado um estudo de caso na Usina de Valorização de Recicláveis (UVR) do município de Santa Helena – PR. Os catadores da referida UVR estão organizados na Associação dos Agentes Ambientais de Santa Helena (AAA-SH), que conta atualmente com 90 associados. Estes foram convidados a responder uma entrevista semiestruturada cujo objetivo foi obter dados sociodemográficos, o resgate histórico do trabalho na AAA-SH, percepção em relação ao seu trabalho e em relação ao contexto social das atividades desenvolvidas. Esta pesquisa, com carácter descritivo, exploratório e analítico, teve seus dados analisados de forma qualiquantitativa. A análise quantitativa foi realizada por meio de estatística descritiva para os dados sociodemográficos, enquanto a análise qualitativa foi realizada por Análise de Conteúdo. A pesquisa mostrou que a maioria dos participantes são mulheres, pardas, com idade entre 26 e 35 anos e que não concluíram o ensino fundamental. A renda dos catadores na Associação fica em torno de um salário mínimo, mas é variável, dependendo da oscilação do preço do mercado. Embora contribuam com a previdência social, não possuem outros direitos trabalhistas, como férias, licença saúde e décimo terceiro. Os catadores percebem a importância do seu trabalho para a sociedade, mas mesmo assim relatam sofrer com a discriminação e descaso com seu trabalho, visto que relatam encontrar em meio aos recicláveis material orgânico e lixo hospitalar. Os dados levantados mostraram as múltiplas vulnerabilidades a que estão submetidos esses trabalhadores, podendo contribuir com ações para melhoria dos processos de trabalho, elaboração de políticas públicas de apoio e, consequentemente, melhor integração entre os trabalhadores e a sociedade.