UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ CÂMPUS PATO BRANCO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL CLARIANA MARIA WERKAUSER BRESSIANI FORMAÇÃO POR ALTERNÂNCIA E A SUSTENTABILIDADE DA AGRICULTURA FAMILIAR PATO BRANCO 2012 CLARIANA MARIA WERKAUSER BRESSIANI FORMAÇÃO POR ALTERNÂNCIA E A SUSTENTABILIDADE DA AGRICULTURA FAMILIAR Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento Regional, do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Área de Concentração: Desenvolvimento Regional Sustentável. Orientadora: Profa. Dra. Hieda M. Pagliosa Corona Coorientador: Dr. João Alfredo Braida PATO BRANCO 2012 Catalogação na Fonte por Elda Lopes Lira CRB9/1295 B843f Bressiani, Clariana Maria Werkauser Formação por alternância e a sustentabilidade da agricultura familiar / Clariana Maria Werkauser Bressaini. Pato Branco – 2012. 171f. : il. ; 30 cm Orientadora: Hieda Maria Pagliosa Corona Coorientador: João Alfredo Braida Dissertação (Mestrado) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional. Pato Branco / 2012. Bibliografia: f. 142-147 1.Pedagogia da alternância. 2.Agricultura familiar. 3.Sustentabilidade. 4.Educa ção do campo . I.Corona, Hieda Maria Pagliosa, orient. II. Braida, João Alfredo, cooorient. III. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional. IV. Título. CDD (22. ed.) 330 À Deus, mestre dos mestres que me fez compreender que a vida só tem sentido quando os sonhos realizados refletem a sabedoria dos que o souberam conquistar, acreditar sempre, desistir nunca! À minha família, que sempre me deu forças para superar todos os obstáculos e seguir em frente com coragem e persistência. Ao meu querido esposo Marcelo quem escolhi para seguir meu caminho onde juntos construímos nossa história de superações e conquistas, ele que sempre esteve comigo e me incentivou a prosseguir em minhas aspirações. Aos meus pais, Elpidio e Noeli, que me ensinaram que a fé, o caráter e a humildade são requisitos fundamentais para conquistas de nossos ideais. Minha querida irmã Luciana, Vilson, Andressa e Aline por acreditarem em meu potencial e estarem sempre presentes nos momentos importantes e necessários de minha vida. À meus Avós paternos e maternos (In-Memoriam) seus sonhos estão refletindo-se em minha conquistas. AGRADECIMENTOS Este momento é realmente muito importante, pois agradecer é um ato de humildade e reverenciar aqueles que estiveram em todos os momentos fazendo parte desta formação científica comprometidos na construção de uma sociedade com indivíduos mais conscientes e responsáveis pelos rumos do planeta, oportunizo-os a um agradecimento especial. Quero lembrar com carinho de todos aqueles que de uma maneira ou outra estiveram presentes nos momentos operacionalizados através do ensino, extensão e pesquisa. Meu eterno agradecimento a minha querida Orientadora Professora Dra. Hieda Maria Pagliosa Corona por ter depositado em minhas aspirações a confiança de contribuir nesta etapa de pesquisa sua imprescindível colaboração no desenvolvimento deste trabalho. Assim estendo meus sinceros agradecimentos ao meu Coorientador Professor Dr. João Alfredo Braida. Agradeço ao Coordenador do PPGDR professor Dr. Edival Sebastião Teixeira e a Professora Dra. Maria de Lurdes Bernartt e também meus sinceros agradecimentos aos demais professores, que ministraram com desenvoltura as aulas e atividades propostas. Um agradecimento especial aos professores que participaram da Banca de Qualificação e Defesa, Nilvania Aparecida de Mello, Ivete Inês Pastro, Ângela Maria Damasceno Ferreira e Luci Mary Duso Pacheco. Meu sincero agradecimento a todos os colegas onde juntos passamos momentos de aprendizado, apreensão e também alegrias, todos tiveram um brilho especial e próprio, onde participaram trocando experiências importantes. Em especial as minhas duas colegas mais próximas Arminda e Andreia que ao passar o tempo percebi que nossa simples amizade possibilitou uma grande afeição e assim proporcionando futuras aspirações. Agradeço a Universidade Tecnológica do Paraná- Campus Pato Branco, que oferece um amplo espaço estrutural e um Corpo Docente capacitado para o trabalho educativo comprometido com o Desenvolvimento Regional. Também quero lembrar com carinho de meus colegas de trabalho que sempre souberam compreender meus momentos de ausência e a necessidade de minha formação para contribuição ainda maior em nossa Instituição de Ensino. Meus agradecimentos aos professores, monitores e jovens egressos do CEFFA de Dois Vizinhos que prontamente se dispuseram a fornecer todos os dados necessários ao desenvolvimento deste trabalho. Aos agricultores familiares da Comunidade Mazurana, que nos receberam em todas as etapas da pesquisa repassando informações de suas propriedades rurais e suas opiniões sobre as questões previstas. [....] A ciência do sábio espalha-se como água que transborda, e o conselho que ele dá permanece como fonte de vida (Eclesiástico 20-21). [....] Não há empecilhos técnicos e científicos para mudança do rumo do desenvolvimento rural no Brasil. Os verdadeiros obstáculos são de natureza político ideológica. Portanto somente uma vontade coletiva impulsionada pela experimentação social em curso será capaz de fazer frente as forças conservadoras que vem bloqueando as transformações nas instituições científico acadêmicas (Petersen, 2009). RESUMO BRESSIANI, Clariana Maria Werkauser. Formação por alternância e a sustentabilidade da agricultura familiar. 171 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional)– Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional - Área de Concentração: Ambiente e Sustentabilidade. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Pato Branco, PR, 2012. A presente dissertação aborda sobre os aspectos sociais, econômicos e ambientais a partir da dinâmica dos agricultores familiares e jovens egressos do Centro Familiar de Formação por alternância (CEFFA), residentes na comunidade Mazurana - município de Dois Vizinhos - Estado do Paraná. O objetivo central foi compreender como a formação por alternância repercute no processo de gestão das famílias agricultoras com vistas à sustentabilidade. Foram pesquisadas as 47 famílias da comunidade, o que permitiu evidenciar que as condições gerais tendem de razoáveis para boa nas questões sociais e econômicas, e razoável nas questões ambientais. As evidências no que se refere somente às famílias dos jovens egressos demonstraram ser as mesmas as que apresentam condições que variam de boa, razoável e precárias, o que leva a constatação de que o CEFFA atende as famílias mais empobrecidas. As entrevistas com a equipe e egressos vinculados à CFR para analisar a relação entre o CEFFA e as famílias através das ações desenvolvidas junto a elas, como os projetos de vida dos jovens. As informações revelaram que o processo de formação contempla aspectos preconizados pela PA, com clara influência do modelo produtivista e tecnicista. O CEFFA desenvolve toda a sua proposta de formação a partir da Pedagogia da Alternância, a qual oportuniza uma formação integral, técnico/científica e orientação profissional através do diálogo de saberes a partir do contexto familiar social e educativo de forma interdisciplinar. Os aspectos gerais da pesquisa demonstraram ações favoráveis e desfavoráveis ao CEFFA em torno da sustentabilidade. Estes dados apontam para a necessidade do CEFFA aprofundar o debate sobre o papel da educação do campo em torno de políticas públicas, desempenhar uma reflexão permanente sobre os instrumentos da PA e adequar-se a diversidade de condições e realidades dos sujeitos do campo. Palavras-chave: Pedagogia da alternância. Agricultura familiar. Sustentabilidade. Educação do campo . ABSTRACT BRESSIANI, Clariana Maria Werkauser. Formation by rotation and the sustentability of familiar agriculture. 171 f. Master’s Degree (Regional Development Master’s Degree) - Postgraduate Program in Regional Development. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Pato Branco, PR, 2012. The present Master’s Degree approaches the social economic and environmental impacts from the familiar farming and the young graduates dynamic of the Familiar Formation center by rotation (CEFFA), from Mazurana community – Dois Vizinhos town - Parana. The main objective is to understand how the formation by alternantion affects the management process of family farming considering the sustainability. It was investigated 47 families in the community, which has highlighted that the general conditions tend from reasonable to good in the social and economic issues and reasonable in environmental issues. The conditions of the family from the young graduates are variable among good, reasonable and precarious, which leads to the perception that the CEFFA serves the most impoverished families. Interviews with staff and graduates related to the CFR to analyze the relationship between CEFFA and families through the actions developed with them, as the life projects of young. The information show that the formation process includes components recommended by the PA, with a clear influence of the productivist and technicist model. The CEFFA develops all its training proposal from the Pedagogy of Rotation , which nurture an integral training, technical / scientific and professional guidance through the dialogue of knowledge from the social and family context of education in an interdisciplinary way. Overall the survey results shows the favorable and unfavorable actions related to CEFFA around sustainability. Points to the need of CEFFA in deepen the debate related to rural education around public policies, play a reflection on the instruments of PA and adapt to diverse conditions and realities of the subject. Keywords: Pedagogy of alternation. Family farm. Sustainability. Rural education. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Imagem 1 - Mapa Estado do Paraná e foto aérea da cidade de Dois Vizinhos. UTFPR, Campus Pato Branco, 2012....................................................................... 67 Imagem 2 - Foto aérea da Comunidade Mazurana........................................................... 72 Imagem 3 - Vista Parcial da Comunidade Mazurana...................................................... 72 Imagem 4 - Vista Parcial do Centro de Formação por Alternância - Dois Vizinhos – PR 81 Imagem 5 - Vista aérea da Propriedade (A) - Dois Vizinhos – PR.................................. 100 Imagem 6 - Vista aérea da Propriedade (B) - Dois Vizinhos – PR.................................. 106 Imagem 7 - Vista aérea da Propriedade (C) - Dois Vizinhos – PR................................. 113 Imagem 8 - Vista aérea da Propriedade (D) - Dois Vizinhos – PR................................... 120 Imagem 9 - Vista aérea da Propriedade (E) - Dois Vizinhos – PR.................................. 126 Imagem 10 - Vista aérea da Propriedade (F) - Dois Vizinhos – PR................................... 131 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Comparativo entre agricultura patronal e agricultura familiar.......................... 28 Quadro 2 - Condições de moradia....................................................................................... 57 Quadro 3 - Escolaridade. .................................................................................................... 58 Quadro 4 - Utilização de transporte. ................................................................................... 58 Quadro 5 - Acesso à saúde................................................................................................. 59 Quadro 6 - Acesso a lazer. ................................................................................................. 59 Quadro 7 - Bens móveis. ...................................................................................................... 60 Quadro 8 - Tamanho da casa.............................................................................................. 61 Quadro 9 - Renda Familiar.................................................................................................. 61 Quadro 10 - Cuidados com o solo......................................................................................... 62 Quadro 11 - Utilização de maquinário e equipamentos....................................................... 62 Quadro 12 - Uso de Insumos................................................................................................. 63 Quadro 13 - Preservação ambiental....................................................................................... 63 Quadro 14 - Mudanças nos últimos 20 anos.......................................................................... 64 Quadro 15 - A respeito de árvores plantadas.......................................................................... 64 Quadro 16 - Saneamento...................................................................................................... 65 LISTA DE SIGLAS ARCAFARSUL Associação das Casas Familiares do Sul do Brasil ASESSOAR Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural CEFFA Centro Familiar de Formação por Alternância COASUL Cooperativa Agroindustrial do Sul Ltda CONTAG Confederação Nacional doa Trabalhadores na Agricultura COOPERHAF Cooperativa de Habitação dos Agricultores Familiares CTB Codigo de Transito Brasileiro CUT Central Única dos Trabalhadores DESER Departamento de Estudos Sócio Econômicos Rurais FAO Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação FETRAFSC Federação Estadual do Trabalhadores na Agricultura Familiar IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação MST Movimento Sem Terra ONG Organização não Governamental PA Pedagogia da Alternância PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar RS Rio Grande do Sul SANEPAR Compannhia de Saneamento do Paraná SC Estado de Santa Catarina UNEFAB União Nacional das Escolas Família Agrícola do Brasil UTFPR Universidade Tecnológica Federal do Paraná SUMÁRIO 1 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 14 1.1 OBJETIVOS............................................................................................................. 18 1.1.1 Objetivo Geral.......................................................................................................... 18 1.1.2 Objetivos Específicos.............................................................................................. 18 CAPÍTULO I - REFERENCIAL TEÓRICO.................................................................. 19 1.1 O DESENVOLVIMENTO NO CONTEXTO DA SOCIEDADE MODERNA...... 19 1.2 CONCEITOS E DINÂMICA DA AGRICULTURA FAMILIAR........................... 19 1.3 A AGRICULTURA FAMILIAR: CAMINHO PARA SUSTENTABILIDADE..... 29 CAPÍTULO II- EDUCAÇÃO DO CAMPO................................................................... 36 2.1 EDUCAÇÃO DO CAMPO: LIMITES E POSSIBILIDADES................................ 36 2.2 PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA: AÇÃO EDUCATIVA INTEGRAL............. 44 CAPÍTULO III – PESQUISA NA COMUNIDADE MAZURANA............................... 54 3.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.............................................................. 54 3.1.1 Diagnóstico Social.................................................................................................... 57 3.1.2 Diagnóstico Econômico............................................................................................ 60 3.1.3 Diagnóstico Ambiental ............................................................................................ 62 3.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO: COMUNIDADE MAZURANA........................................................................................................... 66 3.3 CARACTERIZAÇÃO DO CONCEITO DE COMUNIDADE: DINÂMICA SOCIAL DAS FAMÍLIAS........................................................................................ 68 3.4 DINÂMICA DO CEFFA DE DOIS VIZINHOS...................................................... 80 3.5 OS PROJETOS DE VIDA E O DESENVOLVIMENTO DOS EGRESSOS DO CEFFA...................................................................................................................... 99 3.6 ASPECTOS GERAIS EVIDENCIADOS PELA TRAGETÓRIAS DAS FAMÍLIAS EM RELAÇÃO AO CEFFA................................................................. 136 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 140 REFERÊNCIAS....................................................................................................... 142 APÊNDICE A - FORMULÁRIO DEPESQUISA DE CAMPO COMUNIDADE MAZURANA 149 APÊNDICE B - FORMULÁRIO DE PESQUISA DE CAMPO CEFFA DOIS VIZINHOS 160 APÊNDICE C - TRAJETÓRIA DAS FAMÍLIAS EM RELAÇÃO AO CEFFA DE DOIS VIZINHOS 168 ANEXO A - TERMO DE CONSSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 171 14 1 INTRODUÇÃO A presente dissertação de mestrado está vinculada a uma problemática comum de pesquisa que envolve além da autora desta dissertação, mais duas mestrandas do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Pato Branco. O objetivo geral é entender se programas ou políticas públicas desenvolvidas por organizações não governamentais (ONG) e órgãos públicos da cidade de Dois Vizinhos alinham-se aos preceitos do desenvolvimento da agricultura familiar, numa perspectiva sustentável. Ou seja, entender como a atuação do Centro Familiar de Formação por Alternância (CEFFA), da Cooperativa de Crédito Rural Cresol e da agência do Banco do Brasil, no que se refere à concessão de crédito via PRONAF, contribuem ou não para o desenvolvimento sustentável. Para tal finalidade a escolha do grupo foi pelo município de Dois Vizinhos, especificamente a comunidade rural Mazurana1.Tal escolha ocorreu a partir de informações locais das entidades e instituições envolvidas na pesquisa, através de indicações de que nesta comunidade existia agricultores familiares que desenvolviam ações em suas propriedades e comunidade, passíveis de serem analisadas, no caso específico deste trabalho, era a comunidade que mais tinha egressos da CEFFA. O tema comum está estruturado em três eixos articuladores: as formas de gestão das três organizações e suas consequências nas ações para a sustentabilidade da agricultura familiar; o percurso histórico das famílias agricultoras em seus estabelecimentos, visando identificar a influência de políticas públicas e ou de programas ou ações das instituições citadas, o processo de seu desenvolvimento; a situação de vida das famílias agricultoras dessa comunidade, sob os aspectos ambientais, sociais e econômicos. Especificamente, a pesquisa individual proposta nesta dissertação tem como objetivo avaliar como a Pedagogia da Alternância contribui na formação dos jovens no sentido do desenvolvimento da agricultura familiar em bases sustentáveis. Para tanto, foi selecionada a comunidade Mazurana, porque são7 famílias com egressos do CEFFA, de um total de 47 famílias. 1Mazurana: nome dado a comunidade pelos agricultores, sendo o sobrenome de uma família de Italianos que desbravou a localidade. 15 A pedagogia da alternância (PA), cuja proposta metodológica que fundamenta os Centros Familiares de Formação por Alternância (CEFFAs, nomenclatura reconhecida em todo o Brasil e estabelecida para padronização de todas as instituições que trabalham com formação por alternância ou CFR, também chamada localmente de Casa Familiar Rural) propõe em seus objetivos e ações concretas voltadas para as famílias rurais a sustentabilidade econômica, social e ambiental. Cada jovem que integra este processo de formação desenvolve um projeto de vida que deve ser acompanhado pela equipe de monitores técnicos e professores do CEFFA nas propriedades rurais. Parte-se da hipótese de que através da formação integral preconizada pela PA, os jovens desempenham um papel de sujeito/ator interferindo no desenvolvimento da agricultura familiar em bases sustentáveis. As reflexões feitas neste trabalho permitem uma análise dos trabalhos desenvolvidos pelos CEFFAs, para que possam orientar melhorias futuras nas ações desempenhadas. Contribuirão possibilitam nortear as dinâmicas atuais, seus limites e possibilidades no entorno das ações pedagógicas propostas pela Pedagogia da Alternância. Contribuir no processo educativo dos CEFFAs; para conhecimento mais amplo do trabalho realizado pelas famílias envolvidas com a educação do campo e sua inserção econômica, social e ambiental na região de atuação dos CEFFA de Dois Vizinhos; para conhecimento técnico científico, pela pesquisa e extensão acadêmica, parceiros e simpatizantes do trabalho com educação do campo; por fim, para a situação atual dos jovens e famílias dos egressos, suas dinâmicas desenvolvidas no contexto da agricultura familiar. As discussões em torno do espaço educativo desenvolvido nos capítulos propostos trarão uma perspectiva teórica e metodológica dos debates em torno da pedagogia da alternância e suas ações em torno das questões sociais, econômicas e ambientais sob a dinâmica comunitária das famílias agricultores. As políticas públicas em prol da agricultura familiar surgiram, no Brasil, como diz Santilli (2009), a partir de meados da década de 1990, em decorrência das mudanças econômicas vindas do Estado. Foram dois os fatores principais que motivaram o surgimento dessas políticas públicas: a crescente necessidade de intervenção estatal frente ao quadro crescente de exclusão social e o fortalecimento dos movimentos sociais rurais. Desse modo, dar condições de incorporação e acesso às políticas voltadas ao incentivo às comunidades marginalizadas era necessário. A Região sul é caracterizada pela presença marcante da agricultura familiar, ocupando a grande maioria dos estabelecimentos rurais sendo responsável por importante 16 parcela da produção agrícola. Ao longo das últimas décadas, entidades representativas, através de ONGs, visam lutar por políticas públicas específicas para o setor. No bojo dessas lutas está o debate e a afirmação do papel do “ser agricultor e agricultora” familiar no atual processo de desenvolvimento (WANDERLEY, 1999, p.44). Nesse contexto, a formação por alternância resulta da necessidade de buscar soluções para os problemas encontrados pelos agricultores familiares no cotidiano da vida familiar. A necessidade de transpor as dificuldades que o poder público deixou de solucionar no contexto educativo, através da pedagogia da alternância, a qual visa contribuir com a mudança social, a partir da relação entre teoria e prática, educação e trabalho, com originalidade da formação escolar na relação com as famílias; o protagonismo dos agricultores, suas necessidades e anseios, estabelecendo perspectivas tanto para o avanço na educação do campo como no desenvolvimento local. As Universidades, através do ensino, pesquisa e extensão, tornaram-se meios para contribuir de maneira efetiva na formação de educadores do campo. Podem, ainda, constituir- se num espaço de pesquisa e reflexão sobre o papel da prática educativa voltada para o espaço rural, sendo necessário recolocar o debate sobre a educação do campo no contexto do desenvolvimento sustentável da agricultura familiar e, consequentemente, na superação dos problemas vinculados à formação teórico/prática no processo da Pedagogia da Alternância. O aspecto da formação por alternância debatido sob uma perspectiva educativa diferenciada e alternativa dos agricultores familiares através do processo associativo e comunitário possibilitará analisar os padrões educativos vigentes e ações de formação interdisciplinares. Diante deste quadro evidenciaras práticas no ensino, extensão e pesquisa nos CEFFAS, instigam e inquietam aos monitores, professores e coordenadores. São, portanto, os caminhos traçados por esta prática que induzem a pesquisadora e autora do presente trabalho a estudar os reflexos do desenvolvimento teórico (aulas teóricas realizados nas alternâncias) e prático (trabalhos práticos no meio de vivência) que as famílias desenvolvem junto a suas propriedades abordando seu potencial junto ao processo de formação dos jovens egressos. O presente trabalho visa compreender, a partir da prática pedagógica da alternância, a realidade das famílias do meio rural, no que diz respeito ao seu desenvolvimento no processo de sustentabilidade e aos aspectos sociais, ambientais e econômicos que o envolvem, visando o seu envolvimento na propriedade, sua inserção comunitária e os reflexos no desenvolvimento local. No entanto, é importante uma discussão em relação ao propósito 17 educativo dos Centros Familiares de Formação por Alternância, seus atores, relações estabelecidas a partir do contexto da família, principal fator de desenvolvimento educativo. A questão orientadora do trabalho é: a educação promovida pelo Centro de Formação por Alternância de Dois Vizinhos conduz a mudanças nos processos de gestão das famílias agricultoras da comunidade Mazurana que contemplem práticas sustentáveis nos aspectos econômico, social e ambiental? Para responder a questão acima apresentada é que a presente dissertação foi construída. Assim, inicialmente, no decorrer do primeiro capítulo, tratar-se-á de alguns conceitos teóricos que contemplam temas como: uma crítica aos reflexos da modernidade no contexto da agricultura familiar; a crise do modelo de desenvolvimento preconizado pela modernidade capitalista; o debate do desenvolvimento sustentável refletido no contexto da agricultura familiar, conceitos da agricultura familiar e multifuncionalidade. O segundo capítulo tratará da importância da educação e seus reflexos no contexto de formação de sujeitos atores; da educação para o desenvolvimento local e sustentável, bem como, do processo de desenvolvimento da educação do campo. Em seguida, um debate sobre a crise na educação e sua relação com o desenvolvimento sustentável, finalizando com a proposta desafiadora e alternativa fundamentada na Pedagogia da Alternância. Também pretende abordar práticas metodológicas do processo que envolve várias áreas do conhecimento através de práticas interdisciplinares desenvolvidas pelos Centros de Formação por Alternância. Por fim, o terceiro capítulo apresentará os resultados da pesquisa com todas as famílias da comunidade, das entrevistas com a equipe do CEFFA, e com os egressos. Inicia-se com a apresentação do município de Dois Vizinhos, em seguida com algumas características da comunidade Mazurana. Através da dinâmica de trabalho realizada pelo CEFFA do município de Dois Vizinhos, buscou-se evidenciar a trajetória desta instituição educativa e sua atuação com os jovens egressos e suas famílias. Nesse contexto é que foram analisados os relatos sobre os projetos de vida dos egressos e suas ações locais, voltadas para sustentabilidade da agricultura familiar. 18 1.1 OBJETIVOS 1.1.1 Objetivo Geral Compreender como a formação por alternância na Casa Familiar Rural(CFR) de Dois Vizinhos repercute no processo de gestão das famílias agricultoras, com vistas à sustentabilidade. 1.1.2 Objetivos Específicos Analisar como as famílias entendem e atuam no processo de formação do educando, no contexto da pedagogia da alternância; Constatar se ocorrem inovações a partir da formação através da Casa Familiar Rural no processo de gestão familiar; Identificar as condições socioeconômicas e ambientais dos estabelecimentos familiares; Analisar se as mudanças promovidas pela Casa Familiar Rural conduzem à sustentabilidade das famílias; Verificar as expectativas das famílias e do jovem em relação a propriedade à partir da Formação por Alternância. 19 CAPÍTULO I REFERENCIAL TEÓRICO 1.1 O DESENVOLVIMENTO NO CONTEXTO DA SOCIEDADE MODERNA O triunfo da modernidade racionalista rejeitou, esqueceu e encerrou as instituições e tudo que parecia resistir ao triunfo da razão. O mundo em seu estado capitalista, aceita e escolhe a ideia de modernidade. As sociedades são, em sua maioria, influenciadas por novas formas de produção consumo e comunicação. No entanto, todos nós estamos embarcados na modernidade, é necessário saber se como sujeitos viajantes levados por anseios e esperanças e conscientes de rupturas inevitáveis. No entanto a entrada da modernidade no sentido de uma decolagem supõe um esforço violento para sair da tradição, expondo-se mais ao perigo, visando após este processo um estado de conforto, na busca de gozar uma ordinária libertação em que a ação do conflito e esforços de cada país durante um século vislumbrasse o acesso à democracia, à abundância e a felicidade (TOURAINE, 1994, p. 214). A ação econômica, através da extrema autonomia do modelo capitalista, torna a sociedade individualista, os sujeitos desenvolvem suas atividades e buscam seus anseios como se não estivessem inseridos num ambiente de possibilidades recíprocas de ação coletiva. Touraine (1994, p.216) faz referência à modernidade diretamente relacionada não somente à racionalização, mas também à formação dos sujeitos no mundo, responsáveis por si mesmos e pela sociedade. Nesse processo, estão presentes os modos de vida e produção que as antigas gerações estabeleceram, através da construção empírica, o que não é apenas um mero acaso, tem implicações culturais importantes. A sociedade nunca produziu tantas formas de desigualdade e desajustes nos aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais, resultados visíveis de um modelo econômico capitalista, esgotado em suas próprias raízes funcionais. Essa desestabilização degradou principalmente as relações sociais, tornando os sujeitos individualizados e competitivos, respondendo positivamente aos reflexos do neoliberalismo. Nesse sentido, “o capitalismo global penetrou em todos os interstícios da individualidade, da subjetividade e do cotidiano, 20 convertendo a ambição de ganho no valor mais alto do homem, em motivação para a inovação, em razão de ser no mundo” (LEFF, 2001, p. 57). O lado mais visível da modernidade evidencia-se quando Giddens (1991, p.28) diz que, numa sociedade mais de troca do que de produção, a industrialização oportunizou um estado consumista, de forma que a necessidade de troca constante, a insaciável busca do moderno leva os indivíduos a perderem sua identidade, colocando o “ser” em relação inferior ao “ter”. E que os modos de vida produzidos pelo mundo moderno desvencilharam as pessoas de todos os tipos tradicionais de ordem social, de forma que não existem precedentes (GUIDENS 1991,p.14). Todavia, a necessidade de uma reavaliação dos hábitos e costumes, das formas de organização socialista remetem a um paradigma complexo, propondo mudanças nas estruturas socioeconômicas e ambientais do planeta. A teoria da complexidade levantada por Morin busca “unir as noções antagônicas para pensar os processos organizadores produtivos, e criadores no mundo complexo da vida e da história humana” (MORIN, 2000, p. 204). As condições da evolução técnica e científicas, segundo Touraine (1994), vincularam o sujeito ao racionalismo, à instrumentalidade, à fragmentação do conhecimento, não se tratando de uma aversão à racionalidade humana, mas um debate na perspectiva de também valorizar a subjetivação do sujeito. Para tanto, há necessidade de uma reflexão no que tange a ações e reflexos da modernidade, a partir de seu desenvolvimento técnico industrial. Como descreve Morin (2000, p.71), a civilização ocidental soltando as amarras do passado acreditava dirigir-se ao futuro de progresso infinito movidos pelos avanços da conjuntos da ciência, da razão, da história, da economia e democracia. Se a modernidade se define como incondicional no progresso, na tecnologia, na ciência, no desenvolvimento da economia, então esta modernidade está morta. Ficam evidentes os riscos e os limites estabelecidos pelas ações voltadas a racionalização, contudo, aprendemos com Hiroshima que a Ciência era ambivalente, vimos a razão retroceder e o delírio stalineano colocar a máscara da razão histórica, que nem uma parte o triunfo da democracia estava assegurada em definitivo, que o desenvolvimento industrial podia causar danos a cultura e mortais poluições e que a civilização do bem estar podia causar ao mesmo tempo o mal-estar (MORIN, 2000, p.71). 21 Segundo Touraine (1994) a racionalidade moderna prende o homem numa prisão, de maneira que as ações desenvolvidas o expõem ao risco. Isso se refletiu pelas ações do homem quando buscou dominar o mundo através da ciência e da técnica, enquanto a eficiência e o “poder” somente seriam desenvolvidos pela racionalidade humana. A sociedade industrial tinha a pretensão de administrar e controlar os riscos sociais, econômicos, políticos e ambientais, pois a organização da vida social resume-se não apenas na emancipação dos indivíduos, mas também na racionalização da produção. Os conflitos e contradições demonstram que a sociedade, partindo de seus próprios princípios, torna possíveis atitudes que desafiam seus próprios limites, pois a capacidade de desenvolvimento científico, racional, histórico, econômico e democrático burlou todo um contexto de conscientização que viria a contrapor catástrofes e consequências irreversíveis para humanidade. No entanto, possibilidades de reflexão, a partir de uma construção educativa que resgate uma relação de vida mais sustentável e socialmente justa, tornam possível um confronto, em que os desajustes causados pela modernidade, distanciando o homem da natureza, levam a uma reavaliação de valores humanos e éticos. Assim, se é verdade que o gênero humano, dialoga cujo cérebro/mente não está encerrada, possui em si mesmo recursos criativos inesgotáveis, pode-se então vislumbrar para o terceiro milênio a possibilidade de uma nova criação cujos germes e embriões foram trazidos pelo século XX: a cidadania terrestre. E a educação, que é, ao mesmo tempo, transmissão do antigo e abertura da mente para receber o novo, encontra-se no cerne desta nova missão. (MORIN, 2000, p.72). Os reflexos ocorridos na natureza são uma demonstração clara do esgotamento dos limites racionais gestados na modernidade, no entanto, surge uma utopia ambiental, que proporciona formas de mobilização social e produtiva, permitindo novos processos democráticos dos governos em busca de desenvolver um ambiente sustentável (LEFF, 2001). Surge também o debate sobre a sustentabilidade que, vinculada à globalização, vem questionar a racionalidade que provoca a crise ambiental. Assim, o desenvolvimento dos últimos quarenta anos demonstra gradativamente a auto confrontação com as consequências da modernidade e a emergência de uma “nova ordem social” (GIDDENS, 1991, p.13-14). O autor afirma que, em vez de a sociedade entrar num período de pós-modernidade, está alcançando um período em que as consequências da modernidade estão se tornando mais radicalizadas e universalizadas, os modos de vida “modernos” refletiram-se em todas as formas de ordem social. 22 O homem enquanto ser social, parte racional da natureza, inserido no progresso da industrialização, necessita de um novo paradigma para a sustentabilidade. Tal emergência torna-se evidente quando se trata do debate dos rumos do desenvolvimento. O modelo de industrialização levou a “individualização” e “globalização” em que a imagem social presume a divisão do trabalho, de forma competitiva, a sociedade torna-se diretamente influenciada pelos reflexos dos riscos sociais, econômicos e ambientais. A modernidade representou o distanciamento da sociedade e natureza, com reflexos no sentido de rural e urbano distanciaram-se, como se nunca houvesse alguma ligação natural, de modo que a produção e reprodução de bens e serviços não gerariam consequências desastrosas no desenvolvimento social, humano e, principalmente, ambiental. A crise do modelo racionalista leva a um novo modelo histórico que precisa ser desenhado. Segundo Altiere e Masera (2009), é extremamente necessário que ações concretas, que permitam operacionalizar os principais objetivos do desenvolvimento sustentável reduzam a miséria, gerando o abastecimento adequado de alimentos e a autossuficiência, conservação dos recursos naturais, autonomia das comunidades locais e a participação efetiva dos pobres das áreas rurais no processo de desenvolvimento, pois as iniciativas ainda estão sendo realizados “de cima para baixo” e não chegam às comunidades locais. No contexto rural bem como no espaço da agricultura familiar refletem ações autônomas como de resistência ao modelo de desenvolvimento moderno, assim é pertinente dialogar sobre a modernidade no mundo rural na agricultura familiar. Segundo Lamarche (1993), a agricultura familiar, por estar presente em todos os lugares do mundo, torna-se objeto de um novo desafio. Sabe-se que tribulações políticas e econômicas enfrentadas pela agricultura familiar geraram um excelente desempenho e capacidade de adaptação, mantendo-se em suas regiões e adaptando-se as novas situações, instabilidades climáticas, coletivização das terras e ou a mutação sociocultural influenciada pela economia de mercado. A agricultura familiar pode desenvolver um importante papel de fomento para a sustentabilidade perante a crise social e ambiental. Assim, o significado do termo “Desenvolvimento Sustentável” (DS) ainda se encontra em discussão [..] consideramos o DS um processo que leva a satisfação das necessidades humanas atuais (e futuras), começando com a satisfação das necessidades dos carentes, harmoniza com o meio ambiente e promove a autoconfiança dos países (ALTIERE; MASERA, ALMEIDA, 2009,p.73) 23 No entanto, estas considerações nos possibilitam alguns questionamentos em torno dos modos de vida no espaço rural, Pode-se, por exemplo, afirmar que os agricultores se beneficiaram do progresso no caso específico de Sul do Brasil nos últimos 30 anos? A resposta é sim e não, pois as evoluções sociais se produzem sempre por diferenciações com, ao mesmo tempo, “ganhadores e perdedores”. E, além disso, a evolução dos modos de vida compreende numerosas dimensões que não têm nenhuma razão para evoluírem positivamente e ao mesmo tempo. Pode-se enriquecer à custa de um trabalho longo e mais penoso, que polui, degrada e encurta a expectativa de vida. Mas pode-se ganhar menos, vivendo-se melhor, com menos degradação ambiental e melhor qualidade de vida. Onde está o progresso? (ALMEIDA; NAVARRO, 2009, p. 35). O conceito sobre sustentabilidade legitimou-se no debate mundial a partir da Conferência de Estocolmo, Suécia, em 1972, e consolidou se na Conferência das Nações Unidas, através da Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento, ocorrida no Rio de Janeiro - ECO 92, quando foi amplamente difundido. Nasce, partindo de um momento histórico em que há exploração descontrolada dos recursos naturais, contaminação dos alimentos, o aumento da pobreza, entre outros. Surge, assim, a visão de que a variável ambiental não prejudica o capital, ao contrário pode ser congregada de forma positiva à gestão da produção. A época que vai de Estocolmo a Rio 92, foi caracterizada por contínuas catástrofes ambientais com muitas vítimas, tanto nos países mais industrializados, como nos em desenvolvimento, que fazem soar o alarme na sociedade civil. Segundo Romani (2004), o tema da problemática ambiental volta à carga no âmbito da ONU com o relatório Brundtland que lança as bases difusas da ideia de desenvolvimento sustentável. O novo conceito ainda será alvo de intensos debates principalmente durante e logo após a Rio 92, mas desbancará em nível institucional as propostas ecológicas mais radicais e será a coqueluche do começo do século XXI. Em termos de discurso, sustentabilidade é a nova palavra que viabilizaria através de um conjunto de políticas públicas (ambientais, educativas, normativas) e da internalização do problema pelos consumidores e pelos agentes gestores da produção, a possibilidade de salvação do planeta. Os debates no campo histórico nos aspectos sustentáveis voltam-se para um aporte complexo de acordo com Cavalcanti (1994, p.8), 24 a moderna sociedade industrial se caracteriza, por sua vez, por fluxo de sentido único, em que matéria e energia de baixa entropia se convertem continuamente em matéria e energia de alta entropia, são integrados nos ciclos materiais da natureza. Não se pode ter sustentabilidade dessa forma. Um modelo sustentável tem que se basear em fluxos que sejam fechados dentro da sociedade ou ajustados aos ciclos naturais [...].Este é um desafio ponderável para a compreensão científica das relações entre o homem e seu referencial ecológico, entre sociedade e natureza. Isso teria uma relevância, não impediria o crescimento econômico. Assim, diminuídas as diferenças, a questão ambiental finalmente passa a ser um problema de grande distinção a partir da metade da década de 1990. Com a modernização, o objetivo, para o mundo rural, era transformar as unidades camponesas em estabelecimentos familiares viáveis e capazes de responder às exigências básicas do processo de industrialização, promovendo um novo modelo agrícola baseado na “revolução verde” (No final da década de 1950 e início da de 1960, o processo pelo qual o modelo agrícola dependente de insumos industriais e da mecanização se estendeu por várias regiões do mundo tornou-se conhecido como “Revolução Verde”, e se caracterizou pela associação de insumos químicos (adubos e agrotóxicos), mecânicos (tratores, colheitadeiras mecânicas etc.) e biológicos (variedades melhoradas) a qual se expandiu rapidamente pelo mundo, intensificando a padronização das práticas agrícolas e a artificialização do ambiente natural). As consequências desse processo foram marcantes: a aceleração do êxodo rural, a degradação ambiental pela contaminação e manejo descontrolado dos recursos naturais, desestruturação social das comunidades locais pela competitividade do sujeito “agricultor”. Dado este modelo, a busca do processo de desenvolvimento sustentável para o rural apresenta-se em diferentes planos. É durante a crise que surge o resgate, também, de valores humanos, éticos e culturais que sucumbiram pela modernidade. A promoção de estratégias, segundo Altiere e Masera (2009) e de um planejamento em que se enfatizam métodos e procedimentos para atingir o desenvolvimento sustentável em termos ambientais e sociais, começando pela satisfação das necessidades humanas, equidade na distribuição da terra e melhoria da qualidade de vida. Como trata Almeida e Navarro (2009), o que está em jogo, na atualidade, é o nascimento de um novo modelo de desenvolvimento ou de organização social focado em bases sociais econômicas e ambientais voltadas para a sustentabilidade. O tipo de agricultor, individualista, competitivo, questionador sobre a organicidade da vida social nos moldes tradicionais emergiu com grande desenvoltura. Essa característica, herdada do desenvolvimentismo, repercute e define os modos de competência dos agricultores e, nesse 25 aspecto moldam os sistemas técnicos que devem ser operacionalizados. Assim, o desenvolvimento é um processo único, que leva os sujeitos do atrasado, ao moderno tendo uma concepção linear. O “modelo” moderno, “desenvolvimentista”, assumido por uma parcela dos agricultores, passou a ser, o único possível e desejável. No entanto, é na emergência da reversão da crise, social, ambiental e econômica que o fator educativo para um outro desenvolvimento surge. Sachs (2010), no dossiê de teorias sócios ambientais afirma, é sobre as ruínas desses paradigmas que teremos de construir projetos novos e plurais. Para debatê-los, precisamos de um conjunto de ideias que organize o quadro conceitual dessa discussão. Não digo que a teoria do desenvolvimento forneça respostas prontas, uma espécie de prêt-à-penser. Ao contrário, digo e repito: as ciências sociais, em particular no campo que aqui nos interessa, têm antes de tudo um papel heurístico. Servem para fazer as perguntas certas, para alimentar o debate de sociedade. As respostas, de seu lado, vêm da práxis política(SACHS,2010,p.9). Tal cenário, leva a propor uma reversão de valores e influências, em que a ordem racional do sujeito necessita ser revista. No entanto, essa necessidade do resgate de valores éticos, sociais, humanos e econômicos pode ser desenvolvida por práticas pedagógicas pertinentes para um desencadeamento de possíveis alternativas. A prática pedagógica de alternância, voltada a educação do campo, foi protagonizada pelos agricultores familiares para resistir aos reflexos negativos do progresso, ela torna-se uma das possibilidades. 1.2 CONCEITOS E DINÂMICAS DA AGRICULTURA FAMILIAR A compreensão da categoria social - agricultura familiar - segundo Wanderley (1999) está relacionada ao fato de que a propriedade e o trabalho estão intimamente ligados à família e que a combinação destes fatores, trazem características que tem consequências para a forma como esta agricultura age econômica e socialmente. Nela permanece um modo específico de organizar a produção “cujo funcionamento tem como referência a própria estrutura familiar da unidade de produção” (WANDERLEY, 1999, p. 44). Portanto, a agricultura familiar, tal como a concebemos, corresponde a uma unidade de produção agrícola onde propriedade e trabalho estão intimamente ligados à família. A interdependência destes fatores no funcionamento da exploração engendra necessariamente noções mais abstratas e complexas, tais como a transmissão do patrimônio e a reprodução da exploração (LAMARCHE,1993, p.15). 26 Para o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF)2, entra na categoria de Agricultor Familiar, quem apresenta até dois empregados efetivos, para o cultivo inferior a quatro módulos rurais3. Já para Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais (CONTAG), são considerados Agricultores Familiares quem não contrata mão de obra externa permanente e quem tem seu cultivo em menos de quatro módulos rurais. (SCHNEIDER, 2004). Esta agricultura adota a cooperação em família, ou seja, quem trabalha na terra geralmente são os próprios integrantes da família, que gerenciam, cuidam da terra e produzem para sua subsistência, sem haver necessidade de contratação de terceiros para efetivação dos afazeres na propriedade. Quem é o agricultor familiar, esse “pobre do campo” no Brasil e em outros países do Terceiro Mundo – ou esse trabalhador relativamente próspero, em regiões mais desenvolvidas – que responde por uma parcela cada vez mais importante do abastecimento alimentar urbano? Em geral, ele é proprietário da terra na qual produz. Não vende sua força de trabalho para viver, nem tem condições de colocar assalariados a seu serviço, o que lhe permitiria obter um lucro mais significativo. Ao mesmo tempo, pode estar integrado eficientemente ao mercado, sendo incapaz de incorporar os avanços da tecnologia e de adotar a especialização da produção (CABRERA, 1998, p. 34). Segundo o Estatuto da Terra 1964, o mesmo determina que, em linhas gerais, na menor unidade de terra onde uma família possa se sustentar ou, como define a lei: lhes absorva toda a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso social e econômico - e cujas dimensões, variáveis consoante diversos fatores (localização, tipo do solo, topografia, etc.), são determinadas por órgãos oficiais. Por estes critérios, uma área de várzea de meio hectare pode configurar, em tese, um módulo rural - ao passo que 10 hectares de caatinga podem não atingi-lo(ESTATUTO DA TERRA, 1964, p.1). Assim, justifica-se o histórico que considera, 2O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) destina-se ao apoio financeiro das atividades agropecuárias e não agropecuárias exploradas mediante emprego direto da força de trabalho do produtor rural e de sua família. (www.bcb.gov.br). 3 MÓDULOS RURAIS: é uma unidade de medida, expressa em hectares, que busca exprimir a interdependência entre a dimensão, a situação geográfica dos imóveis rurais e a forma e condições do seu aproveitamento econômico(http://www.incra.gov.br). 27 a agricultura familiar é aquela em que a gestão, a propriedade e a maior parte do trabalho vêm de indivíduos que mantêm entre si laços de sangue ou de casamento. Que esta definição não seja unânime e muitas vezes tampouco operacional é perfeitamente compreensível, já que os diferentes setores sociais e suas representações constroem categorias científicas que serviram a certas finalidades práticas: a definição de agricultura familiar, para fins de atribuição de crédito, pode não ser exatamente a mesma daquela estabelecida com finalidades de quantificação estatística num estudo acadêmico. O importante é que estes três atributos básicos (gestão, propriedade e trabalho familiares) estão sempre presentes em todas elas (SCHNEIDER, 1999, p.15). Diferentemente da agricultura familiar, pode-se dizer que Agricultura Patronal tem seu processo produtivo organizado de forma centralizada, com ênfase na produção em escala, práticas agrícolas padronizadas, mão de obra contratada e utilização de tecnologia de ponta. (NAZZARI; BERTOLINI; BRANDALISE, 2007). Já para os agricultores familiares, essa realidade não é a mesma, no entanto a produção alcança patamares consideráveis para a categoria. Assim, alterações no meio ambiente socioeconômico e institucional vêm impondo transformações significativas no meio rural. A inovação e a flexibilidade das organizações nos dias de hoje é um dos principais fundamentos de uma boa gestão, principalmente quando se trata de uma organização familiar rural que tem que se adaptar a essas mudanças para sobreviver num ambiente de mercado hostil, no qual os agricultores facilmente são excluídos (PORTELA; LAFORGA; SOBER, 2008, p.2). No entanto, o baixo nível tecnológico dos agricultores familiares brasileiros não pode ser explicado apenas pela falta de tecnologia adequada: ao contrário, em muitos casos, mesmo quando a tecnologia está disponível, não se transforma em inovação em razão da falta de capacidade e de condições para inovar. O reconhecimento de que o desempenho e a viabilidade dos agricultores dependem de um conjunto de fatores e agentes formam um sistema, mais ou menos, integrado ou harmônico, desloca a análise para a cadeia agroindustrial e requer um enfoque sistêmico(BATALHA; BUAINAINB; SOUZA FILHO, 2005, p. 44). Para uma análise mais precisa das categorias estabelecidas no espaço rural é necessário entendermos suas dinâmicas produtivas, seguir um comparativo entre os modelos “Agricultura Patronal” e “Agricultura Familiar”(Quadro 1), baseado em estudos realizados por Taschetto e Walkowicz (2007,p.24), e INCRA/FAO [....]. Agricultura Patronal Agricultura Familiar 28 Completa separação entre a gestão e o trabalho Trabalho e gestão intimamente relacionados Organização Centralizada Direção do processo produtivo assegurada diretamente pelos produtores Ênfase da especialização e escala Ênfase na diversificação Ênfase nas práticas agrícolas padronizáveis Ênfase na durabilidade dos recursos e na qualidade de vida Trabalho assalariado predominante, Trabalho assalariado complementar Tecnologias dirigidas à eliminação das decisões de “terreno” e de “momento”. Decisões imediatas, adequadas ao alto grau de imprevisibilidade do processo produtivo. Quadro 1 - Comparativo entre agricultura patronal e agricultura familiar Fonte:Nazzari; Bertolini; Brandalise, (2007, p. 25) Na Agricultura Familiar, o trabalho e a gestão estão intimamente relacionados, quem administra também trabalha na propriedade, na maioria das vezes, membros da própria família; a mão de obra externa quando utilizada, é somente para complementar o trabalho da família; a produção é diversificada; embora sua área seja três vezes menor que a patronal, possui praticamente a mesma participação no global da produção; o sistema de produção intensiva permitindo a manutenção de quase sete vezes mais pessoas empregadas que a agricultura patronal, criando um emprego a cada 9 ha4(CADERNO 3 AGRICULTURA FAMILIAR, 2001, p.13-15). A heterogeneidade e a desigualdade na distribuição de estabelecimentos e de produção são marcantes na agricultura familiar. A Secretaria de Agricultura Familiar, órgão do Ministério do Desenvolvimento Agrário, separa os agricultores em três grupos: 1) os que estão inseridos no campo de atividades econômicas integradas ao mercado, classificados como capitalizados; 2) os descapitalizados ou em transição, mas com algum nível de produção destinada ao mercado; 3) os residentes no espaço rural, assalariados agrícolas e não agrícolas com produção agropecuária voltada quase que exclusivamente para o próprio consumo (VOGT, 2002). Quando se fala em agricultura familiar, fala-se também do desenvolvimento rural sustentável. E falar do desenvolvimento rural sustentável é falar de um novo modelo de desenvolvimento para o campo, isto é, de um modelo econômico, social e ambiental justo 4HECTARE: Medida de superfície (simb.: ha) igual a cem ares ou a um hectômetro quadrado (dez mil metros quadrados): um quilômetro quadrado tem 100 hectares. (Dicionário Aurélio, 1996) 29 para o Brasil. Para isso, é preciso partir da matriz do desenvolvimento para que assim se possa chegar a intervir na questão do fortalecimento da agricultura familiar como alternativa para o desenvolvimento rural sustentável (CADERNO DE ESTUDO AGRICULTURA FAMILIAR, 2003). 1.3 AGRICULTURA FAMILIAR: CAMINHO PARA SUSTENTABILIDADE O fortalecimento da agricultura familiar é citado como um dos requisitos fundamentais para a caminhada rumo à agricultura sustentável. O debate sobre o tema agricultura familiar tem aumentado e está repercutindo em diversos espaços como órgãos públicos, sociais do campo e, até mesmo, no meio acadêmico, devido à alta complexidade e à importância dessa população rural. Devido aos inúmeros desafios que ocorre no meio rural, a agricultura familiar tem aprofundado o debate a respeito do seu projeto de produção, visando a uma nova estratégia de organização, produção e comercialização com sustentabilidade e autonomia, diferenciada do modelo do agronegócio (ASSESOAR, 1999). As políticas públicas em prol da agricultura familiar surgiram, no Brasil, a partir de meados da década de 90, em decorrência do contexto de mudança econômicas, vinda do Estado. Foram dois os fatores principais que motivaram o surgimento dessas políticas públicas: a crescente necessidade de intervenção estatal frente ao quadro crescente de exclusão social e o fortalecimento dos movimentos sociais rurais. A agricultura familiar enfrentou por décadas o êxodo rural e o enfraquecimento da chamada: “pequena propriedade”, “pequena produção” e da “produção familiar”, pressionar por políticas públicas para este segmento, que historicamente vem lutando incessantemente para preservar seu lugar na sociedade. No entanto, a agricultura familiar desenvolveu um papel fundamental no debate, no que tange a práticas sustentáveis, a exemplo da agroecologia e da multifuncionalidade. Nesse aspecto, é primordial que a Agricultura Familiar, assim como a reforma agrária, sejam vistas pela sociedade, evidenciando a importância na geração de empregos, na produção de alimentos e na distribuição de renda e terra. A produção familiar tem-se revelado como desejável, social, econômica e ecologicamente adequada (ASSESOAR, 1999). Assim, 30 [...]é através da democratização das políticas públicas que se pode caminhar na construção de um processo de desenvolvimento que seja sustentável, não apenas no ponto de vista ecológico e mais equitativo do ponto de vista social e econômico, mas principalmente sustentável do ponto de vista político (SILVA,2009. p.109). Se a Agricultura Familiar está sendo vista como amais adequada social, econômica e ecologicamente, distinguindo-se da Agricultura Patronal, é necessário repensar o modelo de desenvolvimento e de ocupação do espaço rural, para que não siga o mesmo modelo de produção da Agricultura Patronal, explorando desenfreadamente a terra, sem respeito ao meio ambiente e tornando impossível uma agricultura sustentável5. No contexto geral, toda a unidade de produção e vida familiar deve diminuir seus passivos ambientais, para estar em conformidade com a Lei Ambiental. Proteger as fontes e nascentes, manter as matas ciliares e reservas legal são ações que além de ser dever do indivíduo é uma forma de proteger o meio ambiente e melhorar a qualidade de vida da população (ASSESOAR, 2008). Vinculada ao mercado de trabalho, segundo Abramovay (1992) a Agricultura Familiar é uma forma de produção que oferece características vantajosas para a sociedade em que está inserida. Absorve tecnologia, aumenta a produtividade, transfere os ganhos de produtividade para a economia, proporciona alimentos baratos em abundância, dá continuidade à produção, mesmo numa realidade de mercado de preços variáveis. Há na agricultura familiar uma importante eficiência no uso dos recursos, pois, os capitais pertencentes aos Agricultores Familiares dificilmente migram para outros setores da economia ou para outras regiões, obedecendo primeiramente ao critério de continuidade na profissão de agricultor. Ao analisar os limites da racionalidade econômica, Abramovay (1992) ressalta o caráter incompleto da racionalidade econômica do campesinato, pois, segundo o autor, o camponês representa um modo de vida, tendo na família e na comunidade sentido para sua atividade. No contexto geral, a agricultura familiar é o que se pode chamar de setor base, ou seja, principal setor econômico no que se diz respeito à geração e à manutenção de postos de trabalho no campo. Assim, 5Agricultura sustentável: Agricultura sustentável pode ser definida pela busca da maior produtividade possível com maior grau de preservação da natureza, incluído aí a preservação do solo, da água e do ar entre os ciclos produtivos (http://www.embrapa.br/kw_storage/keyword.2007-06-04.2687250964). 31 no contexto do setor agrícola, a Agricultura Familiar é a principal responsável pela geração e manutenção desses postos de trabalho. Para cada trabalhador ocupado na Agricultura Patronal é necessário utilizar mais de 67 hectares em média. Enquanto isso, na Agricultura Familiar a média é de menos de 8 hectares (DESER, 2001, p. 20). A agricultura familiar brasileira é responsável por um papel importantíssimo na geração de emprego e renda, segurança alimentar, preservação ambiental e, consequentemente, no desenvolvimento socioeconômico do país (ROMERO, 1998).Na agricultura familiar utilizam-se os recursos naturais como a água e a terra para suprir o ser humano, com alimentos e roupas. Consiste numa importante atividade derivada da ação do homem e sua realização adequada e competente é crucial para o desenvolvimento socioeconômico de um país e significa um aspecto-chave no processo do desenvolvimento sustentável. Existe uma conscientização sobre a necessidade de transformar setores agrícolas em espaços sustentáveis. A procura por alimentos, por certo, aumentará em todos os países. As estimativas atuais indicam que para o ano de 2025 haverá três bilhões de pessoas a mais para se alimentarem e se vestirem. Contudo, as probabilidades de desenvolvimento sustentável estarão cada vez mais longínquas se a questão de degradação ambiental como o desmatamento, os incêndios florestais, a degradação do solo, a sobrexploração, a contaminação da água e a perda da biodiversidade não forem reprimidas e revertidas. No entanto no debate apresentam-se questões importantes, assim, elaborado, pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, o Relatório Brundtland aponta para a incompatibilidade entre desenvolvimento sustentável e os padrões de produção e consumo, trazendo à tona mais uma vez a necessidade de uma nova relação “ser humano-meio ambiente”. Ao mesmo tempo, esse modelo não sugere a estagnação do crescimento econômico, mas sim essa conciliação com as questões ambientais e sociais(RELATÓRIO BRUNDTLAND, 1987, p.1). Estando presentes principalmente no debate ambiental global, o que é importante saber é que esta compreensão foi o resultado de um longo debate travado no Brasil e em diversas outras partes do mundo. Um debate que, à exemplo também do conceito de sustentabilidade, reflete uma disputa árdua de posições entre interesses às vezes bastante conflitantes, em torno dos sentidos que a "Segurança Alimentar" vai adquirindo (MENEZES, 1998,p.1). 32 Os produtores de uma agricultura sustentável não são apenas econômicos, mas também ecológicos e sociais. Por isso, em quase todas as definições apresentam-se os seguintes elementos: Melhoria e a conservação da fertilidade e da produtividade do solo com estratégias de manejo (insumos de baixo custo); Satisfação das necessidades humanas; Viabilidade econômica; Equidade e a melhora da qualidade de vida dos agricultores e da sociedade; Minimização dos impactos, proteção e melhoria do ambiente; Durabilidade do sistema em longo prazo no lugar da rentabilidade em curto prazo. Isto é, a agricultura sustentável deve abarcar as dimensões econômicas, sociais e ambientais. Segundo Santille (2009), as práticas promovidas para o desenvolvimento da agricultura sustentável são: cultivos tradicionais, cultivos de cobertura, rotação de cultivos, integração de sistemas agropecuários e sistemas agroflorestais. Estes últimos convertem-se em agroecossistemas que, sobre os ecossistemas naturais, permitem criar sistemas para a obtenção de plantas ou animais de consumo imediato ou transformáveis. Tais técnicas agroecológicas têm como objetivo melhorar o equilíbrio do fluxo de nutrientes e conservar a qualidade dos solos, fomentar a agro biodiversidade, minimizar o uso de insumos externos e conservar e resgatar os recursos naturais. A sustentabilidade na agricultura é comumente melhorada ao se combinarem práticas tradicionais com tecnologias modernas, tais como a plantação simultânea, a agro silvicultura, os pastos florestais, a rotação e a lavoura de conservação. O benefício destas práticas dá-se nos cultivos que exploram diferentes recursos ou que atuam entre si, evitando a erosão e perda de nutrientes. No contexto agrícola, os reflexos da modernidade conduzem os países industrializados a adotarem políticas de apoio à Revolução Verde na agricultura, garantindo aos produtores preços estáveis e crédito facilitado; a dotarem também medidas para facilitar o escoamento dos produtos, a aquisição de máquinas, adubos e fertilizantes químicos etc, pois pretendem acelerar a revolução agrícola e liberar mão de obra para a indústria e para o setor de serviços(SANTILLI,2009). Foram desenvolvidas variedades vegetais de alta produtividade, que dependiam, entretanto, da adoção de um conjunto de práticas e insumos conhecidos como “pacote 33 tecnológico” da revolução verde (insumos químicos, agrotóxicos, irrigação, máquinas agrícolas etc.), um modelo tecnológico nada sustentável. Foi criada também uma estrutura de crédito rural subsidiado e, paralelamente, uma estrutura de ensino, pesquisa e extensão rural associadas a esse modelo agrícola. Com apoio de órgãos governamentais e de organizações internacionais, a revolução verde expandiu-se rapidamente pelo mundo, promovendo uma intensa padronização das práticas agrícolas e artificialização do ambiente natural do campo segundo Santilli (2009),porém, quando a sustentabilidade agrícola é deixada de fora da política econômica parecem lógicas as distorções que ameaçam a sustentabilidade. Os subsídios que incentivam o uso ineficiente dos insumos e recursos, as práticas produtivas que degradamos recursos naturais, e os programas de apoio a renda que restringem a rotações de cultura, podem, todos, perecerem válidos socialmente. De fato todos eles implicam altos custos sociais (ALTIERE, 1998, p. 75). No entanto, a Revolução Verde, um dos principais argumentos para a disseminação desse modelo de produção agrícola (gestado nos Estados Unidos e na Europa) para os países em desenvolvimento foi a promessa de que ela acabaria com a fome no mundo. Isso, evidentemente, não ocorreu por várias razões. O impacto da modernização agrícola e da revolução verde foi extremamente desigual em todo o mundo e apenas segmentos sociais e econômicos muito específicos beneficiaram-se dos avanços tecnológicos e dos aumentos de rendimento e de produtividade ocasionados pela substituição dos sistemas agrícolas tradicionais pelos sistemas modernos. Os resultados demonstram que a agricultura moderna caracterizou uma situação desigual e contraditória do que teria oportunizado um sucesso unânime no ambiente rural, mas se faz necessário ressaltar que o espaço rural assume grandes características de potencialidade e auto estruturação, o que pode ser verificado no debate sobre a agricultura familiar e a multifuncionalidade. As famílias rurais, segundo Maluf (2003, p. 136 - 139), têm um caráter pluriativo e multifuncional, isso nos leva observar as várias funções atribuídas à agricultura faz surgir a ideia de multifuncionalidade. Esta característica contribui para a valorização do fomento onde as políticas de crédito a produção saiam de seu caráter convencional. 34 A agricultura de base familiar precisa de estímulo e apoio para que façam surgir as múltiplas funções associadas as atividades não agrícolas através das ações de saberes próprios. As comunidades rurais desenvolvem características que superam barreiras do mundo globalizado, “pois se trata da manutenção do tecido cultural e social, da promoção da segurança alimentar, da preservação dos recursos naturais, para se reproduzir socialmente e economicamente” como salienta Maluf (2003p.139). Com a globalização, a vida no campo sofreu significativas transformações influenciando os agricultores a se vincular a políticas publicas, nem sempre satisfatórias, que os determina como devem ser organizadas as questões produtivas e comerciais. No entanto, a multifuncionalidade e o caráter pluriativo das famílias rurais nos traz um aspecto importante neste debate, pois a capacidade de dialogar em um universo complexo vem a reforçar seu papel no âmbito territorial, social constituído pela diversidade familiar. A construção social do mundo rural elencada por características próprias reforça sua independência. O espaço rural afetado pelos impactos da modernização da agricultura familiar desenvolveu mecanismos próprios de superação; isso se evidencia quando se observam as organizações sociais locais, as quais buscam novas alternativas de desenvolvimento através de articulações específicas, ou seja, através de projetos educacionais, reorganização do setor produtivo e políticas públicas voltadas às necessidades do campo. O desenvolvimento rural está presente em muitos debates atuais relacionados aos aspectos sociais, econômicos e ambientais; visa à construção de um modelo de desenvolvimento pautado na sustentabilidade, voltado para superação de desigualdades do meio rural e resgate de valores socioambientais. Assim sob a égide da educação do campo abrem-se possibilidades para a agricultura familiar desenvolver suas potencialidades. Através de seu potencial técnico e produtivo mostra que as influências da modernidade ocasionaram mudanças profundas no desempenho das atividades, desde o manejo dos recursos à forma com que se desenvolvem as ações sociais. A agricultura familiar, relacionada aos aspectos multifuncionais e pluriativos, vem a desempenhar aspectos importantes para ampliação dos horizontes e valorização do campo como um espaço fundamental para geração de alimentos para consumo próprio e para comercialização, possibilitando, assim, uma construção de conhecimento gradativa e voltada para os valores que o próprio espaço “campo” dispõe em seu ambiente. Sabe-se que os efeitos da crise ambiental, social e econômica está presente no dia-dia dos agricultores familiares; assim, os reflexos negativos, de maneira geral, atingem diretamente as comunidade rurais; Assim a educação e o trabalho precisam de 35 reconhecimento amplo e gradativo. Neste contexto o próximo capítulo buscará um debate em torno de educação do campo na perspectiva da formação por alternância como ação integral vinculada aos preceitos de uma educação diferenciada para os sujeitos que vivem no campo. 36 CAPÍTULO II EDUCAÇÃO DO CAMPO 2.1 EDUCAÇÃO DO CAMPO: LIMITES E POSSIBILIDADES No pensamento de Paulo Freire encontra-se referencias para fundamentar o debate em torno da educação do campo, numa perspectiva crítica sob a educação contemporânea. Diz o autor que se ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho e que os homens se libertam em comunhão, então há a necessidade do trabalho coletivo, do diálogo, do respeito às ideias, concepções e limitações do outro. Para Freire, o diálogo crítico é libertador, e por isso supõe a ação. Por esta razão, deve ser levado a feito com os “oprimidos, qualquer que seja o grau em que esteja a luta por sua libertação. Não um diálogo às escâncaras, que provoca a fúria e a repressão maior do opressor” (FREIRE, 1987, p. 29). Nesse sentido, o ato pedagógico, o trabalho docente tem um caráter politizador, uma perspectiva emancipatória assim como afirma o autor ação política junto aos oprimidos tem de ser, no fundo, "ação cultural” para a liberdade, por isso, ação com eles. A sua dependência emocional, fruto da situação concreta de dominação em que se encontram e que gera a sua visão inautêntica do mundo não pode ser aproveitada a não ser pelo opressor, este é que se serve da dependência para criar mais dependência. O papel do educador não é de um expectador, ele exige ação e reação para a superação da contradição opressor-oprimidos, é preciso que eles se convençam de que o trabalho que executam exige deles, a partir do momento em que o assumem a sua responsabilidade total. Cabe aos educadores o desafio de cultivar uma postura dialógica e crítica diante do mundo, que se assumam enquanto seres epistemologicamente curiosos diante dos fatos, realidades e fenômenos que constituem seu próprio mundo. Em relação à educação e ao conhecimento, é preciso ter clareza para perceber que devem partir da construção coletiva mediada dialogicamente, que devem articular dialeticamente a experiência da vida prática com a sistematização rigorosa e crítica. O processo de construção do conhecimento implica uma relação dialógica (FREIRE, 1977). 37 O processo educativo é dialógico, pois sem diálogo não há educação. A educação com este propósito torna-se um processo de conhecimento no qual todos ensinam e todos aprendem, um processo criador e recriador. Isso implica que o educador deve assumir compromissos éticos e políticos, de intervenção crítica no mundo. A pedagogia freireana constitui-se na unidade dialética entre ação-reflexão-ação (práxis), que requer testemunho da ação (coerência). Este trabalho pedagógico conduz os sujeitos à libertação das amarras que o oprimem e da visão ingênua do mundo que o cerca. O ato educativo fundamentado no pensamento de Paulo Freire assume a tarefa de promover a superação da contradição, para que os homens possam reconhecer “o limite que a realidade opressora lhes impõe” (FREIRE, 1987, p. 19) e, com base no processo de reconhecimento, encontrem energias que conduzam a uma ação libertadora. Assim, compreendemos que os CEFFAS, se inserem nesta perspectiva de educação problematizadora da qual fala Freire. Elas estão proporcionando esta imersão crítica na realidade, desvelando-a para transformá-la. [...],E nisto a dinâmica da alternância é um instrumento importante [....] os jovens interagem entre a realidade da família, da propriedade, da comunidade, do meio ambiente, do meio sócio profissional, da cultura popular com a realidade da escola, da reflexão, do estudo, da leitura,. do saber sistematizado, mas também com o grupo, com os colegas com a equipe de monitores(RELATOS DE EXPERIÊNCIAS, REVISTA FORMAÇÃO POR ALTERNÂNCIA,2006,p.95). Nesse sentido, a educação do campo representa um contraponto à educação rural defendida pelas elites, porque se apresenta como a educação dos sujeitos do campo. Caldart (2004) destaca que mais que o direito da população ser educada no lugar onde vive, precisa ser respeitado o direito a uma educação pensada desde o seu lugar e com sua participação, vinculada a sua cultura e as suas necessidades humanas e sociais. O processo de valorização de sua cultura incentiva os sujeitos do campo a pensar e agir por si próprios, assumindo sua condição de sujeitos. Vale ressaltar que os termos - rural e campo - muitas vezes são confundidos, porém eles possuem sentidos diferentes. O sentido de educação rural remonta à política educacional do início e decorrer do século XX, cuja preocupação era com ações para superar o “atraso” presente entre os moradores e trabalhadores do espaço rural. Já a Educação do Campo refere- se à ação dos movimentos sociais e as parcerias em desenvolvimento, oriundas da dinâmica social do campo. Na atualidade, o campo aparece nas propostas educacionais dos movimentos sociais com ideia de valorização do trabalhador que atua no campo, que possui laços culturais relacionados à vida na terra (SOUZA, 2006). 38 A Educação do Campo nasceu dos movimentos sociais e das organizações sociais do campo, surgiu de lutas de quem estava inconformado com a situação vigente. Ela surgiu do meio dos sem terra, dos pequenos agricultores, dos atingidos por barragens, das mulheres camponesas, da juventude do campo, do meio das pastorais. E surgiu com a ajuda de vários estudiosos da educação brasileira. Isto porque os movimentos sociais pressionaram para reverter e redesenhar as imagens sociais, políticas e pedagógicas tão arraigadas culturalmente. Existe a necessidade de mudar esse entendimento, não mais como um lugar de anacronismo, de tradição, de preguiça, mas como território social e cultural dinâmico, como lugar de produção de vida, trabalho, cultura, saberes e valores (ARROYO, 2005). A Educação do Campo deve ter como finalidade a produção e o trabalho como princípios educativos. Para isso, deve haver a percepção da articulação entre processos produtivos e culturais, entre produção de bens de vida e a produção como seres humanos. É a combinação de projetos de formação com a realidade das lutas e movimentos sociais que fornece sustentação ao princípio da Alternância como instrumento de desenvolvimento do meio, evitando assim a reprodução de velhas falácias que atribuem à educação, por si só, a capacidade de realizar transformações sociais, de impedir o êxodo rural, de promover a melhoria das condições de vida do agricultor, entre outras, que acabam por reduzir o velho discurso literal em função social da escola(SILVA, 2006, p.20). Estariam, então, dispostos a interpretar, a compartilhar, a descobrir e a aprender. Os conflitos que surgissem não seriam temidos; pelo contrário, representariam a possibilidade da abertura, do questionamento, da busca das respostas e da superação da condição de oprimidos. Estariam dispostos a lutar por políticas e práticas emancipatórias, conscientes de que têm um papel social a cumprir e têm o compromisso de contribuir para que as políticas públicas tenham e cumpram uma função social. Contudo, educação e conscientização caminham articuladas. Consciência de mundo constituem uma única realidade estruturada dialeticamente. Como o processo evolutivo, não tem fim. Nele, emergem progressivas novas realidades na subjetividade que pensa e age e na objetividade que mudada muda o ser que a muda. Com isso os homens conscientes pensam o mundo que os mesmos estão fazendo (MANFIO,1999,p.51). A educação do campo constituiu-se num dos espaços que contribuem para com a agricultura familiar através de ações conjuntas com as organizações do meio rural. É no 39 sentido da valorização de uma política pública de educação que contemple os saberes do campo que o sistema escolar moderno deixou de desempenhar. A necessidade de resgatar uma formação voltada para os valores sociais, econômicos e ambientais em bases sustentáveis. Por sua vez a Pedagogia da Alternância constituiu-se como um espaço educativo importante tanto na constituição do sujeito/ator (TOURAINE,1994) que participa ativamente das reivindicações e necessidades das comunidades rurais. Os sujeitos sociais excluídos precisam ser contemplados nas políticas públicas, pois, existe uma dívida histórica para com estas pessoas, e um dos direitos mais importantes, que lhes foi negado ao longo dos tempos é o direito à educação. Para isso, como assegura Damasceno (1993), há a necessidade de relacionar as políticas que foram adotadas para essa educação com a prática social mais ampla da sociedade brasileira, mais especificamente, com as formas adotadas pelo movimento do capital no campo. Nesta direção, os povos do campo reafirmam suas reivindicações e lutam por espaços dentro das políticas públicas, nas quais sejam apontadas diretrizes que atendam aos seus anseios e aos seus propósitos. Assim, as políticas públicas que existem para juventude rural, têm procurado priorizar o seu processo de participação social, visto que tem levado em conta as particularidades da atual geração que vive no campo, ao incorporar sua experiências e potencialidades no meio em que vivem. Esta prática se transforma num desafio importante a ser superado, uma vez que, ao pretender ampliar a participação social da juventude, as políticas de juventude nem sempre dão conta de estar presentes nas diversas localidades(SANTORI, 2008,p.11). Desse modo, a participação, da juventude para construção de perspectivas para, a mobilização social e política torna-se um elemento fundamental para a conscientização dos e das jovens como sujeitos de direitos e deveres, bem como portadores de especificidades e necessidades que devem ser reconhecidas na sociedade como demandas cidadãs legítimas(SANTORI, 2008,p.6). No seu artigo 28, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB -Lei n.°.394/96) estabelece em relação à educação das pessoas que vivem na área rural: na oferta de educação básica para a população rural, os sistemas de ensino proverão as adaptações necessárias a sua adequação às peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente: I- conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; II- organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar ás fases do ciclo agrícola e às condições climáticas; III- adequação à natureza do trabalho na zona rural. 40 O que se percebe com a LDB é que no formato no qual ela se apresenta a educação só acontece na escola, com isso não se respeita nem se valorizam todas as demais formas de aprendizagem e educação desenvolvidas fora da escola regular. Saviani (2000, p.163) destaca que existem contradições entre o que aborda a LDB em seu Art. 28, que se refere exclusivamente à educação escolar, já que não leva em conta a educação fora da escola, como, por exemplo, a educação que é desenvolvida nas realidades campesinas. Oportunizar aos indivíduos do campo que desenvolvem uma atividade agroalimentar a reestabelecer uma educação voltada para o resgate de valores empíricos em sua complexidade é oportunizar um autoconhecimento das capacidades muitas vezes ofuscadas pela modernidade e, assim, uma ação sem reflexão, alienada ao sistema. Pela Resolução nº 001/2002, foi aprovada a chamada Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas escolas do campo. Ela é constituída por um conjunto de recomendações aos governos sobre como fazer para que todas as crianças e jovens do campo tenham educação garantida e de qualidade. O artigo 6º se posiciona da seguinte forma: o Poder Público, no cumprimento das suas responsabilidades com o atendimento escolar e à luz da diretriz legal do regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, proporcionará Educação Infantil e Ensino Fundamental nas comunidades rurais, inclusive para aqueles que não o concluíram na idade prevista, cabendo em especial aos Estados garantir as condições necessárias para o acesso ao Ensino Médio e à Educação Profissional de Nível Técnico (BRASIL, 2002). O artigo 28 se dispõe neste sentido: na oferta da educação básica para a população rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias a sua adequação, às peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente: 1 – conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; 2 – organização escolar própria, incluindo a adequação do calendário escolar e fases do ciclo agrícola e as condições climáticas; 3 – adequação à natureza do trabalho na zona rural (BRASIL, 2002). Leis servem para afirmar o direito à educação dos povos do campo, no campo, de acordo com a realidade das comunidades e com o financiamento público. O processo interdisciplinar na formação precisa ser considerado como uma tentativa de reversão da crise educacional que vem emergindo. No entanto, 41 conforme profetiza Gimonet (2007), se não reduzirmos a alternância numa mera metodologia pedagógica, talvez ela seja o embrião em potencial do novo que os projetos de desenvolvimento precisam mobilizar e dinamizar para empreender a escola do futuro.(BEGNAMI, 2006,p.46) Deste modo, quando se fala de projeto de desenvolvimento educativo vinculado á sustentabilidade, faz-se necessário considerar a interdisciplinaridade e o dialogo de saberes. Como afirma Leff (2001, p.57), isso significa abrir fronteiras com diferentes campos científicos, a gestão ambiental do desenvolvimento sustentável exige novos conhecimentos interdisciplinares e o planejamento Inter setorial do desenvolvimento, é um convite aos cidadãos para participar na produção de suas condições de existência e em seus projetos de vida. É necessário reconhecer, na educação do futuro, um princípio de incerteza racional, pois a racionalidade corre risco constante, caso não mantenha vigilante a autocrítica quanto a cair na ilusão racionalizadora. E a verdadeira racionalidade deve ser não apenas teórica e crítica, mas também autocrítica. Assim, as estratégias educacionais para o desenvolvimento sustentável implicam a necessidade de reavaliar e atualizar os programas de educação ambiental, ao tempo que se renovam seus conteúdos com base nos avanços do saber e da democracia ambiental [...]. Isso coloca as necessidades de incorporar os valores ambientais e novos paradigmas de conhecimento na formação de novos atores da educação ambiental e do desenvolvimento sustentável(LEFF,2009, p.251). Morin (1921, trad. 2000) cita Marx, ao dizer que "os produtos do cérebro humano têm o aspecto de seres independentes, dotados de corpos particulares em comunicação com os humanos e entre si". Refere-se às crenças e ideias muitas vezes reificadas, corporificadas, a ponto de afirmar que "as crenças e ideias não são somente produtos da mente, mas também seres mentais que têm vida e poder; e assim, podem possuir-nos". O homem, na visão do autor, é prisioneiro, por vezes, de suas crenças e ideias, nos dias de hoje, assim como o foi, anteriormente, prisioneiro dos mitos e superstições. O inesperado, no dizer de Morin (2000), "surpreende-nos"; acostumamo-nos de maneira segura com nossas teorias, crenças e ideias, sem deixar lugar para acolher o "novo". Entretanto, o “novo" brota sem parar[...].É preciso destacar, em qualquer educação, as grandes interrogações sobre nossas possibilidades de conhecer. Por em prática as 42 interrogações constitui o oxigênio de qualquer proposta de conhecimento. E o conhecimento permanece como uma aventura para a qual a educação deve fornecer o apoio indispensável. Existe um problema capital, sempre ignorado, que é o da necessidade de promover o conhecimento capaz de aprender problemas globais e fundamentais para neles inserir os conhecimentos parciais e locais. A supremacia do conhecimento fragmentado - de acordo com as disciplinas - impede frequentemente de operar o vínculo entre as partes e a totalidade e deve ser substituído por um modo de conhecimento capaz de apreender os objetos em seu contexto, sua complexidade, seu conjunto. Para articular e organizar os conhecimentos e assim reconhecer e conhecer os problemas do mundo é necessário a reforma do pensamento. Entretanto, essa reforma não é programática, mais sim, paradigmática - é questão fundamental da educação, já que se refere à nossa aptidão para organizar o conhecimento, esse é o grande problema a ser enfrentado pela educação do futuro. A agricultura é diretamente atingida através de pacotes tecnológicos interferindo nas cadeias produtivas e nos costumes e saberes locais. Consequentemente percebe-se a necessidade de uma educação voltada para o meio rural, que interligue educação e trabalho no sentido de desenvolver potencialidades, considerando as características próprias das unidades de produção familiar. Evidencia-se nas ultimas décadas, demonstradas pelo crescente êxodo rural, influenciado pelo modelo capitalista moderno, que proporcionou um aumento do setor produtivo e uma contradição: a inclusão social e aceleração do número de marginalizados. Com base nessa análise, pode-se destacar a educação como potência quando voltada para uma lógica dialética que busca uma nova forma de construção do sujeito direcionado para a liberdade crítica, cidadania, coletividade e desenvolvimento humano, social, econômico e ambiental para os preceitos sustentáveis. Assim, as ações educativas direcionadas ao campo têm emergido em muitos lugares através de programas, de práticas comunitárias e de experiências pontuais. Vale ressaltar experiências, como trata Silva (2006), que promove melhores condições de vida, ou seja, que dá ênfase ao campo de forma sustentável. Exemplo são as práticas em CEFFAs na região sul, desenvolvidas pela ARCAFARSUL (Associação das Casas Familiares Rurais do Sul do Brasil) e ASSESOAR (Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural) como o projeto “Vida na roça” no Sudoeste do Paraná. Segundo Duarte (2003, p.73) a ação do projeto “Vida na Roça” é uma prática educativa voltada aos grupos sociais locais de comunidades rurais, o qual propiciou um 43 debate sobre o papel do estado e dos governos, através de práticas participativas. Foram construídas condições para fomentar o protagonismo dos sujeitos do campo. No entanto, as iniciativas devem ser consideradas, porque elas têm sido uma das marcas de resistência. A luta é no campo das políticas públicas, porque esta é a única maneira de universalizar o acesso de todo o povo à educação, uma educação voltada para as necessidades evidenciadas. As experiências já realizadas conduzem a um olhar para a educação do campo, não apenas como um direito, traduz outro desdobramento importante: uma política de educação que priorize o jeito de educar quem é sujeito deste direito, de modo a construir uma educação de qualidade que forme as pessoas como sujeitos de direitos e visualizem questões ambientais, sociais e econômicas. Contemplar, assim, várias áreas do conhecimento, das ciências naturais e sociais oportuniza um novo método de construção do conhecimento, que permitirá uma aproximação especifica à formação integral proposta pela pedagogia da alternância, uma interação entre o conhecimento popular e o conhecimento científico, ações teóricas e práticas familiares aprofundadas por ações interdisciplinares. Assim, percebe-se que a metodologia da Pedagogia da Alternância permite que o jovem possa ir e vir sem desvinculá-lo de seu meio sócio profissional. Mais que isso ela dá possibilidade ao jovem de diagnosticar sua realidade, refletir e transformá-la dando-lhe uma perspectiva de vida no meio ao qual está inserido (HILLESHEIM,KNOB, 2010, p. 54). Isso se justifica, pois a educação do campo elencada no processo pedagógico educativo dos CEFFAs tem uma metodologia própria que conduz as famílias a dinâmicas alternativas, para contrapor-se ao modelo dominante. Os sujeitos devem interferir na sociedade em busca de valores e perspectivas inovadoras e alternativas de desenvolvimento sustentável. A formação por alternância demonstra ser uma prática desafiadora e, ao mesmo tempo, uma possibilidade de contrapor o modelo moderno de educação que tem como pano de fundo uma formação alienada com base no individualismo. 2.2 PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA: AÇÃO EDUCATIVA INTEGRAL A Pedagogia da Alternância surgiu no sudoeste da França em 1935 (GIMONET, 2007) onde um grupo de agricultores, insatisfeitos com o sistema educacional vigente e seus 44 métodos de exclusão do rural, desenvolveu uma metodologia voltada a formação de jovens rurais oportunizando-os a uma formação humana, voltada para a realidade do campo e com um novo olhar para a qualificação, ao mesmo tempo sem deixar de lado seu meio familiar. No Brasil, atualmente, são 241 Centros de Formação por Alternância em 21 estados da federação. No Sul do Brasil, são 71 Casas Familiares Rurais espalhadas nos três estados, coordenados pela ARCAFAR-SUL (Associação Regional da Casas Familiares Rurais do Sul do Brasil). Uma educação humanista, estabelecida por meio de formação integral, com base na Pedagogia da Alternância como forma de enriquecer o conhecimento, considerando que tudo aquilo que o sujeito traz em sua bagagem de vivência familiar contribui para uma ação recíproca de troca entre o empírico e o científico e leva em conta a racionalização e a subjetivação do sujeito. Este viés de discussão leva a um debate do trabalho que se evidencia nos Centros de Formação por Alternância, e abre uma possibilidade de análise da práxis a partir dos reflexos do mundo moderno que reforçam a racionalização e o consumismo individualista, que colocam em cheque a subjetivação do sujeito, no que tange aos objetivos de uma formação integral desenvolvidos pelo CEEFAs. No entanto, a possibilidade da quebra de paradigmas promovida por esta nova forma de educação torna-se desafiadora, visto que. Através da aprendizagem, a partir da qualificação técnica, da formação de uma associação, das alternativas para extensão rural e das formas de cooperação foram estabelecidas condições favoráveis ao acesso das comunidades locais a uma nova forma de ensino. Nesse intuito, a formação por alternância (tempo de ensino aprendizagem no espaço educativo e tempo de vivências práticas no meio rural familiar) com novos conteúdos desenvolveu a família rural e suas potencialidades. A Pedagogia da Alternância, com sua metodologia específica, proporciona diferentes maneiras de ver, julgar e agir e contribui para o desenvolvimento do meio sócio- profissional dos jovens e suas famílias. Assim, em qualquer país-independente de suas etnias, religião, cultura, situação econômica- no que temos solicitado diretamente as famílias dos jovens quais são as expectativas que tem sobre a formação de seus filhos, o porquê de sua escolha pelo CEFFA a resposta é unânime: “para ser alguém” (MARIRRODRIGA; CALVÓ,2010,p.62). A Pedagogia da Alternância trabalha com quatro pilares contendo meios e finalidades. Os meios se constituem como a “alternância”, um método pedagógico, a “associação” formada por pais, famílias, profissionais e instituições; as finalidades, “formação integral” através de um projeto profissional e “desenvolvimento do meio” socioeconômico, 45 humano, político. Sua metodologia é composta por instrumentos que possibilitem uma troca de conhecimentos entre família/propriedade e espaço educativo, partindo de um plano de formação construído pelas famílias, monitores e conselho de administração. A articulação entre os pilares da Pedagogia da Alternância - consolidados a partir de um plano de formação desenvolvido em uma ação coletiva - buscam realizar um desenvolvimento integral das comunidades envolvidas(GIMONET, 1999, p.25) uma escola que seja a sua e da qual assume a gestão de todas as responsabilidades, agrupando-se em associação, uma forma jurídica que confere uma força e um poder. Uma escola para as famílias e agricultores “a pedagogia, as aulas, a formação encontram um direcionamento, adquirem sentido. A alternância vive quase por si mesma. Porém esta pedagogia nova não é evidente e precisa ser definida, iniciada e fundada” (GIMONET, 1999, p.25). É necessário, aproximar o debate teórico às questões práticas, cujos gargalos e limites evidenciados tornem-se um meio de crescimento e auto-organização: formar um contexto articulador das ações estabelecidas e ter um olhar mais acurado para o desenvolvimento do meio e associação local. Assim o desenvolvimento e efetivação da proposta educativa dos CEFFAS, segue seus os quatros pilares demonstrado na figura 1. FINALIDADES MEIOS FORMAÇÃO INTEGRAL Projeto pessoal de vida DESENVOLVI- MENTO DO MEIO Social, econômico, humano, político... A ALTERNÂNCIA Uma metodologia pedagógica adequada ASSOCIAÇÃO LOCAL: Pais, famílias, profissionais, instituições. OS 4 PILARES DAS CASAS FAMILIARES RURAIS E SEUS ATORES Figura 1 - Quatro Pilares do CEFFA. Fonte: Gimonet (2007) A inter-relação entre meios e fins tornam o ambiente propício a uma complexidade de componentes, pois essa estrutura pedagógica tem fundamentalmente o propósito de desenvolver sujeitos íntegros e capazes de transformar sua realidade. Assim, 46 a fórmula básica da Pedagogia da Alternância, como é fácil perceber, expressa um compromisso político bem preciso: rejeita a discriminação do homem e da cultura do campo, embasa o processo educativo na responsabilidade fundamental e inalienável da família e da comunidade, bem como na dialética entre prática e teoria(NOSELLA, 2007, p.8). O Plano de Formação propõe temas geradores que demonstram o que deve ser estudado pelos jovens durante o período letivo. No que se refere à maneira de se trabalhar com este método, busca-se seguir alguns instrumentos chamados de “caderno de alternância “contato individual” “plano de estudo”, “colocação em comum”, “visita de estudo”, “visita à propriedade“, “curso”, instrumentos que desempenham uma função necessária para o desenvolvimento do processo educativo em que os agricultores, junto a seus municípios, desenvolvem através de associações uma formação voltada a sua realidade local, em parcerias com órgãos públicos governamentais, não governamentais e buscam uma formação integral para a juventude rural. Assim, um plano de formação dos CEFFAs significa um projeto elaborado com uma finalidade e adequado a uma realidade concreta. O plano de formação permite, incluindo totalmente o programa oficial das matérias, o estudo da realidade do jovem, quer dizer de seu próprio meio familiar social e profissional. Portanto, o ponto de partida dos temas de estudo não são as matérias oficiais, mas sim os temas próprios à vida e à ocupação do jovem em vista de seu objetivo que, neste caso, é a orientação (CALVÓ, 2005,p. 28) Sobre esse assunto também retrata Gimonet, um plano de formação é uma ampla arrumação coerente da forma da educação e da orientação do alternante. Ele traduz o processo complexo, sistêmico e construtivista da formação alternada. Ele se destaca, assim, das organizações escolares costumeiras. Ele organiza e permite a gestão das operações pedagógicas. Ele representa o plano quadro que não é fixo e que se reconstrói permanentemente. Afixado como um grande quadro na sala dos monitores e/ou na sala do grupo de alternantes em questão, visualiza e baliza o percurso(GIMONET,2007,p.76) Os temas geradores também visam, segundo Gimonet (2007), orientar para a vida familiar, contemplando aspectos voltados para a alimentação, moradia, higiene, saúde, prevenção, atividades do trabalho, renda, lazer e meios de informação, a vida em comunidade, a população, as questões administrativas, o comércio, os artesões e os serviços; também destaca as questões do meio físico considerando as paisagens, o relevo, as vias hídricas, as florestas as questões ecológicas e todas as produções no contexto familiar. 47 Com este propósito o projeto do CEFFA vem desafiar uma educação restrita e fragmentada que a modernidade produziu, e através da efetivação de uma formação interdisciplinar diferenciada de outras metodologias que integram o sujeito, desenvolve um contexto de re-ligamento de práticas e hábitos que a modernidade desfez. O diálogo no espaço educativo está em contínuo confronto com o mundo atual e propõe uma quebra de paradigmas mergulhada na teoria da Complexidade. Assim, a educação voltada para o progresso no âmbito da modernidade, reforça o indivíduo influenciado pelo consumismo, adaptado a realidade, com poucas iniciativas de mudança. O espaço de construção escolar, por sua vez, quando sob a égide da racionalização moderna, põe em cheque valores e saberes construídos pelas comunidades locais, a padronização, especialização e fragmentação do conhecimento torna o ambiente escolar teórico, distanciado da prática social. A necessidade de resgatar valores éticos, sociais, humanos e econômicos pode ser desenvolvida por práticas pedagógicas pertinentes para um desencadeamento de oportunidades. A prática pedagógica da alternância protagonizada pelos agricultores para resistirem aos reflexos negativos do progresso torna-se uma das possibilidades. Assim, a maneira mais eficaz de enfrentamento das contrariedades e absurdos do sistema, que condiciona nosso modo de existir, é potencializar o CEFFA, onde trabalhamos, para que se torne polo de excelência educacional e lócus de construção de alternativas de sobrevivência da comunidade. Ao construir o projeto educacional e de promoção de comunidade os formadores realizam-se como edificadores(MANFIO, 2006,p.54). A Pedagogia da Alternância(PA) desenvolveu-se num ambiente com condições de debate em relação ao sentido de liberdade e de construção do sujeito crítico, dispondo de ferramentas metodológicas através da educação e do trabalho para que este método se evidencie. A alternância fundamenta um vínculo entre o espaço escolar e a propriedade rural, dá ênfase às relações familiares e suas formas de convivência. Isso torna o ambiente familiar e comunitário um espaço propício para a educação integralizadora. Os pilares da PA promovem a busca pelas condições sustentáveis de desenvolvimento pelo vínculo que estabelece entre teoria e prática, no sentido do fortalecimento dos agricultores familiares. Os atores envolvidos, entre eles a equipe de trabalho de professores e monitores técnicos, a Associação, famílias e jovens envolvidos, 48 favorecem a participação e envolvimento de todos no processo educativo dos CEFFA. Neste propósito, a equipe pedagógica do CEFFA, constituída pelos monitores e monitoras e outros agentes educativos, são os animadores do conjunto, e lhe dá a vida. [...] A rede dos parceiros co-formadores, composta pelos pais, os mestres de estágio e outros tutores [....] a estrutura educativa, ou seja, o conjunto das condições materiais, organizacionais, mas sobretudo psico- afetivas, para garantir uma qualidade de vida e um clima facilitador das aprendizagens e da educação, representada em um potencial maior do sistema de alternância(GIMONET, 2005, p.14). É necessário destacar que, a importância de sua adequada seleção está fora de dúvidas. Mas também os formadores podem [...] desvirtuar a Pedagogia da Alternância e sua aplicação nos CEFFA pela falta de colaboração com as famílias na construção anual, semanal e diária do Projeto pedagógico do Centro, e a escassa ou ausência de formação pedagógica no sistema de alternância. Por outro lado, por necessidades ou questões econômicas impostas pelas autoridades educacionais competentes, se adaptam a situação geral imposta, e como consequência cedem em aspectos fundamentais perdendo os valores originais(MARIRRODRIGA; CALVÓ,2010,p.126). A atuação dos educadores focada nas questões ambientais, sociais, econômicas reflete-se no processo de construção dos projetos de vida dos jovens. No entanto, da interação comunitária local. Assim, é a oportunidade que o CEFFA encontra para tornar-se um projeto de resultados concretos e transformadores. Na medida em que há inserção dos egressos com mobilidade social, seus objetivos estão sendo confirmados. O projeto não prescinde na formação geral, inclusive na perspectiva de continuação, mas direciona para a família e para comunidade de origem. A verdadeira transformação surge com a concretização das intenções, do planejamento, e da utilização dos recursos – terra, capital e trabalho (SANTOS; PINHEIRO, 2005, p.55). Também convém considerar que, quando o jovem torna-se protagonista de experiências inovadoras e bem sucedidas, seu exemplo tende a ser seguido por outros ao seu redor, ele torna-se uma referencia na região, o que lhe confere a capacidade de liderança. Um sujeito com habilidades diversas que transcendem o processo produtivo, podendo atingir as relações sociais, a capacidade de mobilização, de sensibilização, de empreender ações modernas e de elevado nível de sucesso e adaptabilidade ao contexto: portanto sustentável (SANTOS; PINHEIRO, 2005, p.55). 49 Percebe-se, a construção do resgate dos saberes locais leva a uma potencialidade de valores socioambientais de que emerge uma práxis sempre presente, porém camuflada pela ordem social do progresso. Os temas geradores (aspectos de interesse a ser estudado pelas famílias), considerando a metodologia adequada, trazem problemas e debates ignorados pelo currículo escolar vigente. É necessário entender-se que, a inserção dos jovens na agricultura familiar tem outros efeitos positivos, que superam a geração de renda. A possibilidade de garantia da sucessão das famílias no trabalho rural. A continuidade da ocupação da terra para produção de alimentos, de geração de renda e de qualidade de vida. É a manutenção da estrutura familiar e de sua história recheada de elementos culturais de riqueza insubstituível(SANTOS; PINHEIRO, 2005, p.55). Essa metodologia desperta nas famílias uma autoestima e valorização pessoal que transcende a técnica, uma capacidade de gerir condições que lhes proporcionem a busca de necessidades e possibilidades de concretizarem seus ideais. Gimonet (1999, p. 45), durante seminário Internacional da Pedagogia da Alternância, promovido pela UNEFAB-União Nacional da Escolas Família Agrícola do Brasil, considera que “A Pedagogia da Alternância, nos CEFFAs, dá a prioridade á experiência familiar, social e profissional, ao mesmo tempo, como fonte de conhecimentos, ponto de partida e de chegada do processo de aprendizagem, e como caminho educativo”. Este análise traz uma visão ampla e complexa que perpassa o quadro sistemático, linear e individualizado que está na base de grandes debates educativos que se direcionam aos sujeitos do campo. Portanto, o compromisso das famílias, a ‘militância’, merece um tratamento específico, no movimento dos CEFFA. Como qualquer instituição e movimento coletivo aberto, sejam, Cooperativas, Sindicatos, Grupos ou Associações, o nível de compromisso não é o mesmo em todas as pessoas que participam ,porque as motivações iniciais que as levam a participar são distintas e, uma vez dentro, podem resultar numa diversidade de situações, interesses, ou motivações (MARIRRODRIGA;CALVÓ,2010,p.68). O desenvolvimento de um CEFFA depende da maneira como seus gestores e parceiros visualizam as questões sociais, econômicas e ambientais e se propõem a desenvolver ações técnico científicas de compromisso com a agricultura familiar, considerando sua importância a nível local e global. Refletem-se, assim, as possibilidades para a participação efetiva da Pedagogia da Alternância no desenvolvimento sustentável e suas formas de arranjos produtivos, associativos e organizativos. O olhar para os problemas cotidianos da agricultura familiar, 50 entre eles a identidade com processos produtivos tradicionais, o autoconsumo, a segurança alimentar, entre outros, motivam a PA. Para tanto, a soberania alimentar é um direito dos povos, comunidades e Estados a definirem seu modo de produção de alimentos, de acordo com suas próprias necessidades, dando prioridade às economias e mercados locais e ao fortalecimento das camponesas e camponeses e da agricultura comunitária. Isso inclui o direito real à alimentação e à produção de alimentos. E uma estratégia necessária em nosso século para garantir o direito à terra, ao território, às águas, às nossas sementes, aos nossos animais e a biodiversidade (ZANOTTO, 2010,p.14). A prática pedagógica do CEFFAs é uma experiência interdisciplinar importante no desempenho das atividades que resgatam valores solidários voltados para a soberania alimentar e, em seu contexto estabelece relações de reciprocidade constantes. Isso se evidencia quando o plano de formação desenvolvido como eixo central de formação pode resgatar as questões de sustentabilidade. Todos os professores, monitores e famílias representadas pela associação do CEFFAs devem proporcionar conteúdos que contribuam para um raciocínio ordenado, voltado para o calendário agrícola combinados com as necessidades e anseios de seus atores, envolvidos, elaborando temas geradores que envolvam a formação científica, conhecimentos empíricos e trabalhe com perspectivas sustentáveis. Como tratam Peixoto, Dall’Aqua e Rodrigues (2007) os professores e monitores tem o dever e o desafio de monitorar, criar possibilidade de libertação aos jovens do CEFFA. Nesse sentido, convém entender que, a avaliação formativa se insere no centro do processo de formação do educando, considerando-o como um sujeito de sua aprendizagem e de um educador flexível e disposto ao diálogo, à compreensão, a ser um parceiro na construção do conhecimento. A escola passa a ser um centro de reflexão, construção e irradiação de cultura. A proposta pedagógica deve levar em consideração as inteligências múltiplas dos educandos, os diversos saberes, a bagagem cultural do educando, a família e seu meio (PEREIRA, 2005, p. 60). Esse novo paradigma curricular através da interdisciplinaridade, baseada na interdependência das diversas áreas do conhecimento, fundamenta uma nova proposta de ensino que oferece condições para que o conhecimento empírico e científico se mesclam. A interação social do grupo estabelece uma relação afetiva para que aconteça um trabalho coletivo influenciando ações coletivas e individuais, ou seja, uma interação de valores éticos e 51 morais intermediadas por reflexões e ações, um diálogo empírico e científico permanente. Assim, todo jovem é sujeito de si próprio, tem uma vocação, suas aptidões particulares, sua riqueza, e seu caráter original é insubstituível. Cada um no CEFFA, é convidado, como na vida, a desempenhar seu próprio papel. Com esse trabalho podemos incluir esses projetos profissionais de vida dos jovens no contexto dos CEFFAs (CALVÓ,2005, p.78). No entanto, evidencia-se que, as subjetividades juvenis estão cada vez menos determinadas pelas instituições tradicionais de socialização- a família a escola, o trabalho. Os jovens hoje tem como referencia os seus estilos e praticas culturais próprios, levando a que alguns vejam uma crise nas instituições clássicas de socialização. Ainda estas instituições têm que competir com a mídia e os novos estilos de vida e de consumo (LEÃO; FREITAS,2008, p. 27). É preciso levar em consideração que o debate da sustentabilidade retrata um desafio, pois as famílias e os jovens que na perspectiva da Formação por Alternância devem propor-se ao mesmo tempo, a estabelecer vínculos com valores de vida sustentáveis nas propriedades, no entanto são influenciados pela sociedade tecnicista voltada para desempenho de atividades e situações que geram a competitividade desmerecendo ações coletivas, através da formação integral. O desenvolvimento integral, estabelecido pela complexidade desta produção de conhecimento, traz aspectos do campo conforme trata Gnoatto (2006,p.78) na Revista Formação por Alternância, a sociedade rural está exposta ao contato direto com a natureza no meio rural, o homem conta com elementos e formas que fogem absolutamente ao controle humano. Ele vive em relação intima com a natureza e sabe qual é o seu limite, para melhorar ou controlar condições adversas ou favoráveis existentes. Na formação integral o jovem estabelece um vínculo importante com a família e com o espaço escolar possibilitando a construção do projeto de vida para o desenvolvimento pessoal e da propriedade rural, ou seja, o desenvolvimento de seu meio. Ao realizar as responsabilidades e os vínculos com a família estreitam-se de forma que a divisão do trabalho tanto no espaço escolar, como na propriedade, é desenvolvida de forma mais justa, 52 principalmente quando se trata de afazeres domésticos como os cuidados com a organização e limpeza da casa e horta doméstica. Assim como trata Leão e Freitas (2008), os próprios jovens organizados através da comissão de propriedade do CEFFA produzem diversos alimentos para o pensionato e exercitam práticas de liderança democrática. As tarefas de manutenção do ambiente são planejadas pela comissão de Sessão e Tarefas e são um importante instrumento para combater os preconceitos relacionados à divisão do trabalho(LEÃO; FREITAS,2008,p.39). Assim, a formação integral presume ações onde, a pedagogia da Alternância trabalha em sincronia com a escola e o trabalho, fazendo com que o jovem continue estudando e ao mesmo tempo não se desvincule da família, auxiliando com sua mão de obra; além disso, a proposta proporciona outras funções no desenvolvimento do meio; promover o desenvolvimento tecnológico, econômico e sociocultural da família do jovem, e consequentemente da comunidade(GNOATTO, 2006,p. 81). A alternância integra um espaço entre o meio-sócio-profissional e o Centro Escolar potencializando experiências que contribuam para uma aprendizagem que não se limita apenas ao espaço escolar, mas aos fundamentos baseados na práxis e alcança a ciência através de uma “pedagogia ativa” e não perde suas características próprias (GIMONET,2007). O modelo pedagógico da alternância, segundo Gimonet (2007, p.96) contribui, para o assumir da pessoa, lugar e poder, que lhe confere e lhe faculta tomar.” Sim não é abusivo afirmar que a alternância é uma pedagogia da adolescência, porque é uma pedagogia da Complexidade. A alternância. permite, de fato, ao adolescente caminhar no coração da complexidade. Essa práxis propõe uma ligação entre a formação integral do sujeito e desenvolvimento do seu meio de vivência, esta formação fornece caminhos e oportunidades de um resgate da autocrítica através da mediação entre a racionalização e a subjetivação, ou seja, do instrumental, da técnica e ciência e do sujeito humano crítico e liberto. A Formação por Alternância retrata uma realidade que vem sendo desenvolvida há muitos anos através de experiências educativas inovadoras protagonizadas pelos jovens e suas famílias, por atores educativos e por comunidades, associações e grupos diversos. Muitos projetos foram desenvolvidos e parcerias concretizadas com o objetivo voltado para o desenvolvimento local sustentável e anseios de uma cidadania plena e solidária. 53 O presente estudo trará para o debate aspectos relevantes visando uma compreensão mais aproximada da realidade contemporânea, voltada para as famílias rurais e buscar-se-á- realizar uma análise do projeto associativo a que se propõe o Centro Familiar de Formação por Alternância do Município de Dois vizinhos no Sudoeste do Paraná. 54 CAPÍTULO III PESQUISA NA COMUNIDADE MAZURANA 3.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A pesquisa realizada ocorreu levando em conta o método qualitativo e quantitativo, visando envolver as famílias da comunidade Mazurana do município de Dois Vizinhos. Assumiu-se que os limites geográficos da comunidade foram definidos a partir da noção de pertencimento das famílias residentes, respeitando as falas de líderes e agricultores, quando respondiam questões como “qual era sua comunidade e “Onde era o limite da comunidade”. Assim foram pesquisados todas as famílias pertencentes a este espaço geográfico comunitário. É pertinente ressaltar a importância metodológica da opção pela pesquisa que leve em conta os aspectos qualitativos e quantitativos pois permitem uma análise das informações de forma mais ampla e complexa. Segundo Richardson (2008) a metodologia quantitativa contribui para análises estatísticas, porém coloca várias limitações a pesquisa social; já a metodologia de pesquisa qualitativa propõe uma análise mais situacional dos pesquisados. Estes métodos proporcionam uma ampla investigação do objeto a ser estudado, no entanto são complementares apesar das diferentes abordagens existentes, passam pelos processos de planejamento, coleta de dados e análise das informações. A pesquisa de campo aconteceu em três etapas, a primeira foi a visita com entrevista aberta com a equipe do CEFFA de Dois Vizinhos, onde obteve-se um relato de sua organização e dinâmica de funcionamento, bem como responderam a um pequeno roteiro de questões sobre as práticas que utilizam na relação CEFFA e famílias dos jovens; uma segunda etapa foi as entrevistas com base em um formulário adaptado de Corona et al (2006) com todos os responsáveis pelos estabelecimentos da comunidade Mazurana, levantando dados sociais, econômicos e ambientais; a terceira etapa foi a entrevista com base em um roteiro com os jovens egressos e suas famílias, na comunidade. 55 As questões do formulário base das entrevistas com todas as famílias foram construídas levando em conta os aspectos sociais, econômicos e ambientais, tomando o cuidado em não direcionar os possíveis resultados, respeitando o sigilo dos entrevistados. Para tanto, foram elaboradas questões fechadas e abertas, de modo a contemplar todos os quesitos propostos. A pesquisa envolveu, também, uma investigação documental que visou analisar os projetos de vida dos jovens, Atas, Regimento Interno e Estatuto da Associação. A metodologia utilizada buscou elementos teóricos e práticos á luz da prática direcionada a sustentabilidade. Em relação à Pedagógica de Alternância no que diz respeito ao CEFFA de Dois Vizinhos foram realizadas entrevistas semiestruturadas a fim de levantar dados relevantes, ou seja, uma visão do corpo docente sobre o desempenho das famílias que estivesse vinculado aos trabalhos desenvolvidos, a partir da dinâmica do Plano de Formação construído no processo da PA. Em relação às famílias da comunidade Mazurana foi realizada uma visita a fim de estabelecer uma aproximação da realidade das propriedades, percepções voltada aos preceitos da sustentabilidade da agricultura familiar. Em relação as famílias de jovens egressos residentes na comunidade, a ação do CEFFA, e reflexos direcionados aos projetos de vida dos egressos, aspectos de desenvolvimento sustentável em seu meio de vivência. Os formulários em Apêndice foram utilizados nas três etapas: o primeiro foi aplicado durante a entrevista com os nove membros do CEFFA, a fim de conhecer a sua realidade, a dinâmica utilizada pelos professores, monitores e presidente da associação. Na ocasião buscou-se saber, também, em qual comunidade residia o maior numero de famílias com jovens egressos do CEFFA. As informações se direcionaram para comunidade Mazurana, porque lá havia 10 egressos pelos registros encontrados, sendo sete famílias porque havia 3 famílias com irmãos egressos. Durante a pesquisa, constatou-se que uma família havia migrado para a cidade, o que resultou em 6 famílias entrevistadas. Na segunda etapa foi realizado o levantamento da realidade das famílias pertencentes a comunidade Mazurana num total de quarenta e sete propriedades visitadas, para buscar informações que permitissem constatar possíveis aproximações aos preceitos de sustentabilidade, levando em conta aspectos econômicos, sociais e ambientais. Com base nos levantamentos gerais da comunidade constatadas na segunda etapa, foram localizadas as seis propriedades dos jovens egressos. 56 Com base nestas informações iniciou-se a terceira etapa da pesquisa de campo, a qual foi realizada direcionando a realidade das famílias dos egressos do CEFFA, procurando constatar a relação entre as ações pedagógicas e o desenvolvimento das famílias, a partir da execução ou não dos projetos de vida propostos para o final dos três anos no CEFFA. Esta ultima etapa a luz da temática da sustentabilidade trouxe informações precisas da situação atual dos sete jovens egressos do CEFFA e suas influencias nas famílias e comunidade. O diagnóstico geral da pesquisa em torno das três fases possibilitou a análise do CEFFA de Dois Vizinhos e seu impacto para agricultura familiar. Após o término da pesquisa de campo, pelos dados tabulados, permitiu-se a construção de um quadro síntese considerado por todas as mestrandas, ou seja, uma primeira aproximação com a realidade local. Após este processo o grupo de mestrandas realizou uma tabulação dos dados e informações, trabalhadas posteriormente segundo o interesse das dissertações individualmente. Neste trabalho foi elaborado um segundo quadro síntese, apenas das famílias de egressos, o que permitiu comparar com a totalidade das famílias da comunidade. O cruzamento dos dados permitiu comparar a situação econômica, social, ambiental dos jovens egressos do CEFFA residentes na comunidade perante as demais famílias entrevistadas. É importante destacar que o trabalho de análise das informações colhidas a campo oportunizou um conjunto de conhecimentos, ampliados pelos relatos informais sobre as experiências das famílias, práticas e técnicas realizadas a partir dos projetos de vida dos jovens e de suas histórias. O registro e uso dos depoimentos gravados e das fotos feitas durante as entrevistas foram consentidos por todos os entrevistados. Tal consentimento está registrado no “Termo de Consentimento Livre Esclarecido” conforme anexo (A), fornecido pela UTFPR- Campus Pato Branco, o qual foi assinado por todos. O compromisso assumido foi manter o sigilo das identidades das seis famílias envolvidas na ultima fase da pesquisa. Foi usado o programa - earth.google.com/intl/pt/ - para acessar por imagem de satélite as propriedades dos jovens egressos. Para finalizar, é necessário detalhar a metodologia para a construção de cada indicador (social, econômico e ambiental) como parte do diagnóstico que permita uma melhor aproximação com a realidade pesquisada. Foi considerado “pesos” utilizando três níveis para a tabulação e elaboração de cada indicador. Três estratos: Tipo 1 é a somatória que somam os menores valores, que indica situação precária; Tipo 2 somam um valor mediano, considerado 57 intermediário ou razoável, por fim o Tipo 3 com somatória que mostra melhores condições – boas condições. Essas considerações permitem assim uma visualização das tipologias conjuntas transformadas em um único quadro síntese, que permite fazer um diagnóstico dos agricultores familiares e da comunidade, a luz do desenvolvimento sustentável. Em seguida será detalhado cada um dos tipos, segundo os pesos dados para cada indicador. 3.1.1 Diagnóstico Social Para constituir o formulário de diagnóstico social foram selecionadas questões que se vinculam ao Artigo 25º, nº 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos: toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou outros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade. Dessa forma, foram utilizadas as seguintes questões: a) Condições de moradia (Quadro 2): Pesos Peso 01 Peso 02 Peso 03 Tipo da Casa Madeira Mista Alvenaria Estado Precário Razoável Bom Banheiro Externo Interno Água Não Encanada Encanada Telefone Não Tem Utiliza o Público Fixo Próprio Utiliza de Outros Celular Quadro 2 – Condições de Moradia Fonte: Quadro explicativo do instrumento do diagnóstico social 58 b) Escolaridade Na pontuação da escolaridade foram consideradas as pessoas maiores de quinze anos. Então, as situações foram pontuadas em conformidade com o quadro 3: Idade/Pesos Peso 01 Peso 02 Peso 03 15 até 18 anos Sem Escolaridade Ensino Fundamental Incompleto Ensino Fundamental Completo Pré-Escola Ensino Médio Incompleto ou Completo Acima de 18 anos Sem Escolaridade Ensino Fundamental Completo Ensino Médio Completo Pré-Escola Ensino Médio Incompleto Ensino Superior Incompleto Ensino Fundamental Incompleto Ensino Superior Completo Quadro 3 - Escolaridade Fonte: Quadro explicativo do instrumento do diagnóstico social Dos resultados obtidos foi feito uma média geral da família para que aqueles que tivessem mais membros não pontuassem mais do que os que tinham menor número de membros na família. Dessa forma, foi atribuído 1 para o precário, 2 para razoável e 3 para bom, somado todas a pontuação da família e dividido pelo número de membros. Assim, as médias equivalentes a 1 até 1,5 foram consideradas precárias, de 1,5 até 2,5 foram consideradas razoáveis e, finalmente, de 2,5 a 3 ficaram na categoria bom. c) Utilização de Transporte (Quadro 4) Peso 01 Peso 02 Peso 03 Outros Coletivo Público Carro próprio Coletivo Privado Moto própria Quadro 4 – Utilização de Transporte Fonte: Quadro explicativo do instrumento do diagnóstico social A opção “outros” foi considerada como precária, pois, entendeu-se que ela pode se referir a meios de transporte como bicicleta própria ou de outros e de outros meios que não são os contemplados nas alternativas, portanto, provavelmente mais precários que aqueles. 59 d) Acesso a Saúde (Quadro 5) Peso 01 Peso 02 Peso 03 Não tem acesso Acessa apenas no posto da comunidade Tem acesso a outros locais, além do posto da comunidade Quadro 5 – Acesso a Saúde Fonte: Quadro explicativo do instrumento do diagnóstico social Em outra questão foi especificado qual acesso o agricultor tem, se em hospital particular, público, na cidade, na região, etc. e) Acesso ao Lazer (Quadro 6) Peso 01 Peso 02 Peso 03 Não tem acesso Acessa na comunidade Acessa na comunidade e fora dela Quadro 6 – Acesso a Lazer Fonte: Quadro explicativo do instrumento do diagnóstico social Esse item está no mesmo caso do acima, o agricultor pode acessar o lazer somente na comunidade ou participar em outras comunidades, ou mesmo na cidade e fora dela. Ao todo foram nove questões nesse diagnóstico que contemplaram todos os itens abordados acima. Desse modo, a pontuação mínima que o agricultor poderia fazer seria nove e a máxima 31 caso ele tivesse itens a mais, como no caso de ter carro e moto ou telefone fixo e também celular. Neste caso, fez-se a conta: 31 – 9 = 22 / 3 = 7,333 Assim, definiu-se o intervalo de uma categoria a outra, ficando agrupados os resultados da seguinte forma: Precário 9 – 16,33 Razoável 16,33 – 23,66 Bom 23,66 – 231 60 Embora a realidade social contenha aspectos abstratos e subjetivos, tentou-se com esse diagnóstico exprimir essa realidade quantitativamente utilizando algumas variáveis relevantes para medir o suficiente para uma vida digna. 3.1.2Diagnóstico Econômico Esse diagnóstico foi construído a partir de dados relacionados ao número de bens móveis, tamanho da casa e renda familiar, conforme explicado nos quadros 7; 8; 9. a) Bens móveis (Quadro 7) Descrição/Pesos Peso 01 Peso 02 Peso 03 Eletrodomésticos e Eletrônicos Até 4 equipamentos De 5 a 7 equipamentos Acima de 7 equipamentos Veículos Bicicleta Moto Carro Caminhão Equipamentos Mecânicos De 0 a 1 equipamentos De 2 a 4 equipamentos Acima de 4 equipamentos Quadro 7 – Bens móveis Fonte: Quadro explicativo do instrumento do diagnóstico econômico Eletrodomésticos e eletrônicos foram caracterizados dessa forma, pois, na realidade da agricultura familiar itens como: geladeira, fogão a gás, chuveiro elétrico e rádio seriam quase que comuns a todos, somando quatro equipamentos. Outros itens somam-se a esses, sendo muito comuns também, tais como TV, antena parabólica, tanquinho ou a máquina de lavar roupa e, conforme mostrarão os dados, itens menos comuns como o computador e freezer. Nos veículos incluiu-se a bicicleta, pois, é bastante comum no meio rural utilizá-la como meio de transporte. Considera-se também que se tornou uma opção bastante recomendável pela não emissão de gases poluentes, como é o caso dos outros veículos. Além disso, ela é considerada um veículo pelo Código de Transito Brasileiro (CTB), que define bicicleta como um “veículo de propulsão humana, dotado de duas rodas, não sendo, para efeito deste Código, similar à motocicleta, motoneta e ciclomotor” (Anexo I do CTB). Dos equipamentos mecânicos considerados foram os seguintes: trator, grade, motores, pulverizador mecânico, plantadeira, colheitadeira, micro trator, ordenhadeira mecânica e tanque de expansão. 61 b) Tamanho da Casa(Quadro 8) Descrição/Pesos Peso 01 Peso 02 Peso 03 Tamanho da Casa Até 20m² por pessoa De 20 a 40m² por pessoa Acima de 40m² por pessoa Quadro 8 – Tamanho da Casa Fonte: Quadro explicativo do instrumento do diagnóstico econômico O padrão de medidas considerado foi baseado no tamanho médio das moradias populares construídas na região: 50m². No campo se coletou a metragem da casa, então, para compor o diagnóstico foi construída uma questão do tamanho da casa por membro da família. c) Renda Familiar(Quadro 9) Descrição/Pesos Peso 01 Peso 02 Peso 03 Renda Bruta Mensal Per Capita Renda até ½ Salário Mínimo De ½ a 1 ½ Salário Mínimo Acima de 1 ½ Salário Mínimo Renda Familiar nos Últimos 20 anos Diminuiu Mesma Aumentou Quadro 9 – Renda Familiar Fonte: Quadro explicativo do instrumento do diagnóstico econômico Da mesma forma que o tamanho da casa, a renda foi coletada levando em conta o total do ano, já que suas principais fontes de renda não são mensais. Então, para compor o diagnóstico foi somado o total da renda anual da família, que foi composto pela renda oriunda da lavoura, pecuária, aposentadoria, trabalho assalariado não agrícola e agrícola e outros, e dividido pelo número de meses e pelo número de membros da família. O salário mínimo considerado foi o vigente no estado do Paraná no ano de 2010, equivalente a 545,00 reais. Ao todo foram seis questões que compuseram o diagnóstico econômico. Dessa forma, a pontuação mínima que o agricultor poderia fazer seria seis e a máxima 21. Então, fez-se a seguinte equação: 21 – 6 = 15 / 3 = 5 Assim, definiu-se o intervalo de uma categoria a outra, ficando agrupados os resultados da seguinte forma: Precário 6 – 11 Razoável 11 – 16 Bom 16 – 21 62 3.1.3 Diagnóstico Ambiental Na construção do diagnóstico ambiental pensou-se em contemplar a realidade da produção, preservação ambiental e saneamento. Dessa forma, se considerou as seguintes questões, conforme quadro 10; 11; 12; 13; 14; 15; 16. a) Produção – cuidados com o solo(Quadro 10) Descrição/Pesos Peso 01 Peso 03 Curva de nível ou terraceamento Não Sim Rotação de culturas Não Sim Prática de Queimadas Sim Não Adubação verde Não Sim Adubação orgânica Não Sim Plantio direto Não Sim Erosão nos solos Sim Não Adubo químico Sim Não Inseticida Sim Não Herbicida Sim Não Fungicida Sim Não Quadro 10 – Cuidados com o solo Fonte: Quadro explicativo do instrumento do diagnóstico ambiental Foram dedicadas várias questões a avaliação da produção, pois, é o fenômeno de maior impacto no âmbito da agricultura familiar. Essas questões não pontuam nível intermediário (razoável), pois, referem-se às práticas relacionadas à produção. A pontuação intermediária se faz na junção de questões benéficas e ações não recomendáveis ao meio ambiente, como é o caso do plantio direto que, do ponto de vista ambiental é uma ação menos agressora ao solo. Contudo, o ideal é que esteja combinada com a curva de nível ou terraceamento. Destaca-se que as queimadas, conforme o Art. 27 do código florestal é uma prática proibida: “É proibido o uso de fogo nas florestas e demais formas de vegetação”. Descrição/Pesos Peso 01 Peso 02 Peso 03 Uso de Máquinas e Equipamentos Utiliza trator, grade, Pulverizador Mec., Plantadeira, Colheitadeira Utiliza trator, grade e equipamentos de tração animal ou manual Utiliza equipamentos de tração animal ou manuais Quadro 11 – Utilização de maquinário e equipamentos Fonte: Quadro explicativo do instrumento do diagnóstico ambiental 63 O uso de maquinário (Quadro 11)se visto sob a perspectiva ambiental, na agricultura pode ser entendido como um fator que agride o meio ambiente de duas formas: pela rápida compactação do solo, que diminui a infiltração da água, podendo provocar erosões e deficiência na armazenagem de água suficiente as culturas, influenciando também no crescimento das raízes da planta cultivada e; pelo consumo de energia com combustíveis poluentes, e uso de energia não renovável, ao contrário de equipamentos manuais ou de tração animal (conforme orientação de BRAIDA, 2010/11). Descrição/Pesos Peso 01 Peso 02 Peso 03 Uso de insumos químicos/agrotóxicos Aumentou Mesma Diminuiu Uso de insumos orgânicos/verde Diminuiu Mesma Aumentou Quadro 12 – Uso de insumos Fonte: Quadro explicativo do instrumento do diagnóstico ambiental O quadro 12 mostra o uso de insumos químicos e orgânicos/verdes, nos últimos vinte anos. Conforme o volume de utilização feita nos últimos anos foi pontuado a situação do agricultor. b) Preservação Ambiental (Quadro 13) Descrição/Pesos Peso 01 Peso 03 Proteção artificial nas nascentes Não Sim Mata ciliar nestas áreas de nascentes e córregos Não Sim Cultivo em áreas quebradas Sim Não Quadro 13 – Preservação Ambiental Fonte: Quadro explicativo do instrumento do diagnóstico ambiental Conforme o Código Florestal (art. 2º) a área de preservação permanente de florestas e demais formas de vegetação natural devem estar presentes “ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal” e “nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos d'água", qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 (cinquenta) metros de largura”. Quanto ao cultivo em áreas quebradas refere-se a culturas em áreas com declive, nas quais se deve ter preservação permanente(Quadro 14). Conforme também mostra o Código 64 Florestal (art.2º) quando normatiza que em encostas com declividade maior que 45º deve-se preservar floresta ou a vegetação natural. Descrição/Pesos Peso 01 Peso 02 Peso 03 Área de mato/floresta Diminuiu Mesma Aumentou Volume de animais silvestres Diminuiu Mesma Aumentou Diversidade de animais silvestres Diminuiu Mesma Aumentou Volume de água das nascentes Diminuiu Mesma Aumentou Volume de água dos córregos e rios Diminuiu Mesma Aumentou Qualidade de água das nascentes Diminuiu Mesma Aumentou Qualidade da água dos córregos e rios Diminuiu Mesma Aumentou Quadro 14 – Mudanças nos últimos vinte anos Fonte: Quadro explicativo do instrumento do diagnóstico ambiental Essas questões também mostram as mudanças ocorridas em cada propriedade nos últimos vinte anos (Quadro 15).Como podemos observar as questões se interligam, por exemplo, o caso da área com mato/floresta, a alteração no seu volume acarreta mudanças no volume de animais silvestres ou mesmo na diversidade deles. Essas questões, assim como algumas outras, mas principalmente essas, não só alteram a dinâmica da propriedade, mas também reflete na comunidade. Descrição/Pesos Peso 01 Peso 02 Peso 03 Utilização de madeira da propriedade Natural Não utiliza Plantada Conservação e recuperação florestal Reserva florestal menor que 12% Reserva florestal de 12 a 19% Reserva florestal acima de 20% Quadro 15 – A respeito de árvores plantadas Fonte: Quadro explicativo do instrumento do diagnóstico ambiental Quando não há reflorestamento e o agricultor afirmou que utiliza madeira da propriedade ele se encontra em uma situação precária, pois, degrada o meio ambiente. Ao contrário daquele que utiliza madeira da propriedade e faz reflorestamento ou não utiliza. A questão da conservação e recuperação florestal foi construída a partir do Decreto 387/99, o qual normatiza 20% a área mínima de reserva legal nas propriedades rurais até 50ha, que é o caso de todas as propriedade pesquisadas. Para as áreas que inexiste reserva legal, o decreto regula que os responsáveis deverão assinar um Termo de Compromisso de Conservação e Recuperação Florestal, o que firma-se sobre a premissa d e que a recuperação do 20% pode ocorrer em até 20 anos a partir da data de vigência do Decreto. 65 c) Saneamento (Quadro 16) Descrição/Pesos Peso 01 Peso 02 Peso 03 Esgoto Vala, sanga Fossa Negra Rede Lixo Orgânico Céu aberto/vala Enterra Compostagem/adubo Coleta pública Lixo Não Orgânico Enterra Coleta Pública Queima Embalagem de agrotóxico e produtos veterinários Queima na propriedade Armazena na propriedade Recolhido pela SEAB ou empresas Enterra na propriedade Reutiliza Não utiliza Deixa a céu aberto Quadro 16 – Saneamento Fonte: Quadro explicativo do instrumento do diagnóstico ambiental Nesse foram considerados o destino do esgoto, lixo orgânico e não orgânico e o destino das embalagens de agrotóxico e produtos veterinários. Além de indicar consequências ambientais no destino incorreto dos itens acima, ele mostra debilidades ou não de acesso a serviços sociais, como a falta de serviço adequado, promovido pelo poder público, para coleta, podendo acarretar em doenças. Compuseram o diagnóstico ambiental 32 questões. Dessa forma, a pontuação mínima que o agricultor poderia fazer seria 32 e a máxima 96. Então, fez-se a seguinte equação: 96 – 32 = 64 / 3 = 21,33 Assim, definiu-se o intervalo de uma categoria a outra, ficando agrupados os resultados da seguinte forma: Precário 32 – 53,33 Razoável 53,33 – 74,67 Bom 74,67 – 96 A pesquisa na comunidade foi uma experiência relevante, pois, manteve os mestrandos por um tempo razoável em contato com as famílias, integrando-se à realidade da agricultura familiar naquela comunidade. Para fins da pesquisa individual, foi realizada mediante entrevista com base no roteiro de questões, com 6famílias com egressos do CEFFA, 66 sendo que as respostas foram gravadas e depois transcritas, o que permitiu o aprofundamento necessário para compreender com maior detalhe a situação por eles vivenciadas. A escolha se efetuou através dos diferentes resultados dos três diagnósticos. Para tabulação dos dados do diagnóstico foi utilizado o Software de Pesquisa Inteligere. Ao cruzar os indicadores, social, ambiental e econômico possibilitou-se identificar aqueles agricultores, que expressarem diferentes situações de vida e dinâmica existentes na comunidade pesquisada. Os dados e constatações oportunizam uma aproximação com a realidade vivenciada pelas famílias entrevistadas. Assim, com base nos relatos da trajetória das famílias dos egressos do CEFFA em relação a sua situação perante as demais famílias pertencente a comunidade tornou-se relevante para entender o processo de formação através da Pedagogia da Alternância, visto que as diferenças e semelhanças sob aspectos sustentáveis do desenvolvimento local foram evidenciadas. 3.2 ANÁLISEDOS RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO: COMUNIDADE MAZURANA É importante destacar que a pesquisa de campo aconteceu em três etapas, a primeira foi a visita com entrevista aberta com a equipe do CEFFA de Dois Vizinhos, onde obteve-se um relato de sua organização e dinâmica de funcionamento, bem como responderam a um pequeno roteiro de questões sobre as práticas que utilizam na relação CEFFA e famílias dos jovens; uma segunda etapa foi as entrevistas com base em um formulário adaptado de Corona et al. (MADE, 2006) com todos os responsáveis pelos estabelecimentos da comunidade Mazurana, levantando dados sociais, econômicos e ambientais;; uma terceira etapa foi a entrevista com base em um roteiro com os jovens egressos e suas famílias, na comunidade. Assim a ordem estabelecida no texto esta colocada da seguinte maneira: primeiro a dinâmica da comunidade, segundo a dinâmica do CEFFA e terceiro a dinâmica das famílias dos egressos. No intuito de atender aos objetivos do presente estudo, buscou-se identificar uma comunidade que contivesse o maior número de egressos do Centro Familiar de Formação por Alternância, para que fosse possível analisar a efetividade das ações desenvolvidas junto com as famílias, que interferissem no desenvolvimento em bases sustentáveis das famílias e comunidade. Foi por esse motivo que a escolha recaiu pelo município de Dois Vizinhos e pela 67 comunidade Mazurana, porque é nessa comunidade que, uma vez que a proposta do programa comum que deu origem ao presente estudo fez o grupo optar pela pesquisa em uma comunidade rural. No processo de pesquisa foram evidenciadas as características do município de Dois Vizinhos e à dinâmica dos agricultores familiares da comunidade Mazurana voltada às questões sociais, ambientais e econômicas. A seguir imagens (Mapa e foto) de localização do município e da cidade de Dois Vizinhos. Imagem 1 - Mapa Estado do Paraná e foto aérea da cidade de Dois Vizinhos. Fonte:Heckler (2011). O município de Dois Vizinhos foi fundado em 28 de novembro de 1961,está localizada ao norte do Sudoeste do Paraná. Fica situada cerca de 50 km de Francisco Beltrão, e 450 km de Curitiba. Seus principais acessos são pelas rodovias PR-180 e PR-469. Na década de 1990 um fator significativo alterou o número da população e a extensão, houve a divisão do município constituindo mais dois municípios: Cruzeiro do Iguaçu e Boa Esperança do Iguaçu, reduzindo a sua área em torno de 35%, e sua produção total teve um decréscimo em torno de 20%. No município sua topografia é bastante uniforme, contendo relevo ondulado, constituído por planaltos. Por ocorrerem em relevo ondulado, as lavouras necessitam de práticas conservacionistas e plantio em curvas de nível para controle da erosão rural. Sua temperatura média varia de 32°C a 18°C. A vegetação nativa é composta por pinheiro do Paraná, dando origem a mata de araucária. A araucária relaciona-se, sobretudo a locais com altitudes superiores a 500 metros. No município localiza-se o divisor de águas da região, com inúmeras nascentes e córregos, riachos e rios como, Iguaçu, Chopim, Jaracatiá e Lajeado Grande, estes fazem parte da Bacia do Rio Paraná e Bacia Secundária do Rio Iguaçu.No perímetro urbano destacam-se dois rios, chamado Jirau Alto do qual se captam as águas para o abastecimento da cidade, e rio Dois Vizinhos. Sua economia é diversificada, é um polo da indústria Metal Mecânica e de Confecções, com destaque para o setor de Avicultura. O município é considerado a Capital 68 Nacional do Frango, por possuir a maior produção e o maior abate de aves da América Latina. Além de aves o município produz suínos e bovinos. Os estabelecimentos industriais e agroindustriais, abrangem os ramos têxteis, moveleiro, máquinas industriais totalizando 144 estabelecimentos. A indústria participa com 41,67% do PIB. No setor agroindustrial, a empresa Sadia, esta unidade de produção de frangos, 90% da produção é destinada à exportação para o Golfo (Irã, Iraque e Kuwait) Arábia Saudita, Alemanha, Cingapura, Hong Kong e Argentina e para o mercado interno, ainda no setor avícola existe a empresa Pluma que trabalha com granja matriz de postura6. No setor de frigorífico a empresa Miolar, abate suínos e bovinos, produzindo embutidos. A Cooperativa Agroindustrial do Sul Ltda. (COASUL) que atua no setor da agricultura. O setor têxtil é representado pela empresa Latreille-Confecções. No Município predomina a agricultura familiar onde na produção agrícola destaca-se a produção de milho, soja, trigo, fumo, que junto com a agropecuária (participa com 27,34% do PIB), mostra a importância da agricultura no município, a qual se articula com atividades industriais fornecendo matérias-primas agropecuárias (suínos, bovinos ou aves). De acordo com o Censo (IBGE, 2010) que retrata a situação populacional atual do município é de 36.198 habitantes destes 17.995 são homens e 18.203 são mulheres. A população, de um modo geral é constituída por migrantes catarinenses e gaúchos descendentes de imigrantes predominantemente italianos, seguidos de poloneses, alemães e japoneses. Quando se trata da situação do numero de habitantes distribuídos no contexto rural e urbano tem-se que 28.115 habitantes residem no meio urbano e apenas 8.083 habitantes permanecem no meio rural (IBGE,2010). Estas constatações dão inicio ao debate em torno da dinâmica voltada ao campo e principalmente a agricultura familiar refletida neste estudo, especificamente retratada pela comunidade Mazurana. 3.3CARACTERIZAÇÃO DO CONCEITO DE COMUNIDADE: DINÂMICA SOCIAL DAS FAMÍLIAS Segundo Gnoatto (2006,p.78) quando analisamos a cultura de uma comunidade, é importante estudar as origens das pessoas, resultantes de migrações internas, ou de imigrações internacionais, e deve considerar-se que qualquer sistema de educação que for adotado deve 6Matriz de Postura: Ave produtora de ovos para o desenvolvimento de pintainhos fornecidos aos aviários de corte. 69 resgatar e manter os hábitos, os costumes das pessoas, considerando seu dinamismo. Nesse sentido, a Carta do Iguaçu redigida no VIII Congresso Internacional da PA em 2005 diz: que o centro e o fim do desenvolvimento sejam a pessoa humana, entendida integralmente em todas as suas dimensões; sua cultura, seus direitos de cidadãos, o direito a vida, a educação de qualidade, e o pleno desenvolvimento de suas potencialidades físicas, psíquicas, afetivas, sociais, políticas, profissionais, espirituais. Ou seja: aquelas que surgem de suas condição de ser social, em igualdade de oportunidades com todos os membros de sua comunidade. [...] Que constitui um direito inalienável de cada pessoa o poder trabalhar de forma associada com outros integrantes de sua comunidade, com objetivo de atingir benefícios comuns. Estes devem ser respeitados, fomentados e cuidados por quem tem a responsabilidade de conduzir os destinos de cada região ou país (AIMFR, 2005, p.87). O processo de análise das famílias da comunidade Mazurana proporciona uma visão aproximada da realidade social, ambiental e econômica vivida pelos agricultores dessa comunidade. As praticas dos agricultores familiares demonstram suas relações sociais, valores que ao longo do tempo foram mudando em função da modernidade, contudo, para entender a teia social de uma comunidade é necessário desvendar a sua complexidade. A comunidade como um espaço institucional traz em seu bojo dimensões que necessitam serem evidenciadas para entender este mundo complexo inserido nas localidades regionais. Para Bartle (2008), as várias dimensões importantes a considerar “como categorias para organizar os temas a investigar, observar e compreender uma comunidade onde tenciona trabalhar” (PHIL BARTLE,2008, p. 108). As dimensões são: A Dimensão Institucional da Comunidade: a dimensão social ou institucional da comunidade é constituída pelos diferentes modos como as pessoas agem, interagem, reagem e como esperam que os outros ajam e interajam. Inclui determinadas instituições como o casamento ou amizade, papeis como o de mãe ou polícia, estatuto ou classe, e outros padrões de comportamento humano (PHIL BARTLE, 2008, p. 17). A Dimensão Política da Comunidade: a dimensão política da comunidade consiste dos seus diferentes modos e meios de distribuição de poder, influência e tomada de decisões. Não é o mesmo que ideologia, a qual pertence à dimensão dos valores. Inclui os diferentes tipos de governos e sistemas de gestão, mas não está limitada a eles. Também inclui o modo como as pessoas em grupos reduzidos ou informais tomam decisões quando não possuem um líder reconhecido (PHIL BARTLE, 2008, p.16). 70 A Dimensão Econômica da Comunidade: a dimensão econômica da comunidade consiste nas diferentes formas e meios de produção e distribuição de bens e serviços (riqueza) que são escassos e úteis, quer seja através de oferendas, obrigações, trocas, mercado ou benefícios estatais (PHIL BARTLE,2008, p. 15). A Dimensão Tecnológica da Comunidade: a dimensão tecnológica da comunidade é o seu capital, as suas ferramentas e competências, e os modos de lidar com o ambiente físico. É a relação entre humanidade e natureza (PHIL BARTLE, 2008, p. 12). A comunidade como um espaço amplo de possibilidades assume na prática, uma referencia, estabelecendo através da sua identidade, relações familiares que desencadeiam formas próprias de vinculo através da solidariedade e reciprocidade. Uma comunidade se consolida tendo seu ponto de chegada as crenças e valores comuns, constituindo ações de caráter conjunto, voltadas as questões de lazer, cultura, esportes, tecnologia, política. No entanto precede momentos e situações de instabilidade social, econômica e ambiental, mas por outro lado um local de segurança, aconchego e apropriação, um sentimento de retorno ao lar. Segundo Baumam (2003, p.16), numa comunidade, todos nos entendemos bem, podemos confiar no que ouvimos, estamos seguros a maior parte do tempo e raramente ficamos desconcertados ou somos surpreendidos. Nunca somos estranhos entrenós. Podemos discutir — mas são discussões amigáveis, pois todos estamos tentando tornar nosso estar juntos ainda melhor e mais agradável do que até aqui e, embora levados pela mesma vontade de melhorar nossa vida em comum, podemos discordar sobre como fazê-lo. Mas nunca desejamos má sorte uns aos outros, e podemos estar certos de que os outros à nossa volta nos querem bem[....]. Assim, as dinâmicas nas quais os sujeitos se inserem, o tipo de entendimento em que a comunidade se baseia precede todos os acordos e desacordos. Tal entendimento não é uma linha de chegada, mas o ponto de partida de toda união. É um “sentimento recíproco e vinculante” — “a vontade real e própria daqueles que se unem”; e é graças a esse entendimento, e somente a esse entendimento, que na comunidade as pessoas “permanecem essencialmente unidas a despeito de todos os fatores que as separam”(BAUMAM, 2001, p. 15). 71 As relações de união se baseiam em alguns fatores pautados nos sentimentos de reciprocidade e vínculo, entende-se que a comunidade reflete um espaço de acontecimentos onde os desacordo e acordos possibilitam condições, para superação e reorganização do bem comum. Assim, no espaço rural a vida em comunidade é demonstrada sob ações que possibilitam o desenvolvimento social que potencializam valores coletivos e humanitários. Neste estudo parte-se do propósito de constatar o contexto, que é multidimensional, da comunidade Mazurana. Caracterizada pela agricultura familiar, busca-se entender sua dinâmica na perspectiva da sustentabilidade, observando a diversidade das condições de vida e de práticas em relação as questões ambientais sociais e econômicas, ou seja, as estratégias dos agricultores familiares levando em conta sua reprodução social. Assim, é possível afirmar que, ao reproduzir-se socialmente os agricultores asseguram a continuidade de um modo de vida e de identidade social circunscritas em um dado espaço físico/social, mas estão em contínuo movimento, ou seja, são dinâmicos e implicam constantes mudanças. Para compreender tais estratégias, há a necessidade de reconstruir as trajetórias familiares, para aprender as escolhas, as ações e os projetos de futuro construídos no processo de constituição e renovação deste patrimônio familiar [...](CORONA 2006,p.60). Como esclarece Corona (2006) para evidenciar as dinâmicas rurais precisa observar os aspectos que vislumbrem o potencial da agricultura familiar, suas escolhas e seu dinamismo. Nesta perspectiva evidências apresentadas pelas famílias entrevistadas, o seu modo de vida é fundamental para compreender a dinâmica da comunidade Mazurana, que, para fins deste estudo, faz-se necessário considerar, em que medida suas estratégias se aproximam dos preceitos do desenvolvimento sustentável. Direcionando-se à gestão das famílias rurais da comunidade escolhida evidenciaram- se questões sociais, econômicas e ambientais. Foram observadas nos aspectos econômicos a infraestrutura da propriedade, equipamentos, e renda per capita; nos ambientais, foram considerados cuidados com o meio ambiente, gestão e proteção dos recursos naturais; nos sociais a escolaridade, condições das moradias, entre outros aspectos. A imagem 2 mostra a aérea da comunidade: 72 Imagem 2 – Foto aérea da Comunidade Mazurana. Fonte:Heckler (2011). Observa-se pela imagem 2, o aspecto geral da sede da comunidade, a igreja, área de lazer, campo de futebol, um pavilhão para confraternizações, uma churrasqueira, cancha de bochas e também um centro de reuniões e encontros do clube de mães(Imagem 3). Isso demonstra espaços para reunião, lazer e religiosidade, que marcam a vida das comunidades rurais e reforçam os laços de pertencimento do grupo social. Imagem 3- Vista Parcial da comunidade Mazurana Fonte: Heckler (2011) A comunidade Mazurana foi constituída pela família Mazurana que se estabeleceu no Brasil em 1876, de onde seu patriarca Natale Mazurana migrou do distrito de Crosano, no estado italiano de Trento. Veio ao Brasil e estabeleceu-se no município de Caxias do Sul (RS) 73 e um dos seus filhos, o Antônio Mazurana, teve uma filha chamada Celeste, neta de Natale Mazurana. Em 1956 dona Celeste Mazurana migrou com sua família para o município de Dois Vizinhos, para uma localidade, que passou a se chamar Fazenda Mazurana, que se consolidou como uma das comunidades mais populosas do município. A comunidade atualmente conta com 47 famílias e possui algumas características próprias, como: localização privilegiada próxima do centro urbano; áreas pouco íngremes; um solo produtivo e uma região rica em recursos naturais como lagos, sangas e rios, sendo um dos importantes mananciais de captação de água para abastecer a população urbana. Com objetivo de demonstrar a comunidade de maneira mais específica buscou-se retratar algumas características da comunidade através dos dados coletados a campo, evidenciou-se que nas questões sociais, a comunidade Mazurana apresenta uma composição étnica com 70% famílias de origem italiana, 17% de origem brasileira, 8,5% de origem polonesa e 4,3 % de origem alemã; 48,9% das crianças e jovens frequentam o ensino fundamental, 2,4% no ensino privado e 14,9% no ensino Público. Nas condições de moradia 72,3% das casas estão em bom estado, 23% estão razoáveis e 4,3% em estado considerado péssimo. Sobre as questões de saúde as doenças mais frequentes nas famílias são a pressão alta e problemas relacionados com a coluna. Em relação a participação das famílias na comunidade Mazurana, 97,9% estão envolvidas na comunidade, 55% das famílias frequentam o clube de mães pertencente a comunidade, 31,9% participam de associação de agricultores da região, 19,1% participam de ONGs e 10,6% participam da APMs. Nas questões de lazer, 23% tem acesso a internet, 93% participam em promoções da comunidade (igreja), 43% participam em festas de associações e 23% em promoções em torno das atividades políticas. No que se refere as questões ambientais, a comunidade trata do lixo orgânico de maneira que 42,6 % enterra-o, 55,3% faz compostagem/adubo e 4,3% deixa a céu aberto. Já sobre o lixo não orgânico 59,6% entrega para coleta pública, 40% queima e 14,9% enterra. Quando trata-se de água 91,5%possui poço ou vertente e 8,5% utiliza posso coletivo. O uso da madeira para fins domésticos 49% diz utilizar madeira natural e 34% madeira plantada. Ao tratar sobre manejo das embalagens de agrotóxicos 87,2% das propriedades entrega-as para o recolhimento das empresas de comercialização e para SEAB, 10,6% das propriedades não utiliza agrotóxico. Sobre os cuidados e manejo com o solo, 59,6% faz curva de nível, 78% faz rotação de culturas, e em se tratando do plantio direto 83% das propriedades realizam esta prática. Sobre a adubação verde 80,9% utilizam esta pratica para correção de solo, e 95,7% 74 corrigem o solo também com outro tipo de adubação orgânica. Sobre sistemas florestais 27,7% das propriedades utilizam este tipo prática. Ao se tratar de recursos naturais 31,9% das famílias sofrem com danos da erosão, no entanto, 61% não são prejudicados por esse tipo de impacto. Existem 87,3% das propriedades com proteção de fontes e 95,7% com mata ciliar estabelecida nas áreas de nascentes e córregos. Em se tratando de sangas e nascentes elas se encontram em 93,6% das propriedades. Existe mata plantada em 46,8% das propriedades. Quanto ao uso de máquinas e equipamentos 29,8% somente utiliza trator, colheitadeira, grade, pulverizador, ou seja, somente tração mecânica, 19% utiliza equipamentos de tração mecânica e também tração animal e 49% utiliza somente tração animal ou manual, mas, quando necessário, contratam prestação de serviços de maquinas. Observa-se que estão presentes tanto o modelo tecnicista, como o manejo mais tradicional de produção quando o agricultor julga necessário. Sobre as estratégias utilizadas para frustração da produção 55,3% não recorre a nenhum tipo de ação, logo 31,9% buscam o seguro agrícola e apenas 6,4 % busca atividades de diversificação da propriedade. Por fim para evidenciar as questões econômicas, 89,4% das famílias entrevistadas tem acima de sete equipamentos eletrodomésticos e eletrônicos, e 10,6% têm de cinco a sete eletrônicos e eletrodomésticos. Quanto ao tamanho das casas são em sua maioria de 70 m², 90 m², 96 m² e 120m², salvo algumas exceções que partem de 200m². Quando se trata de veículos 78,7% das famílias possuem carro, 53,2% possui moto e 51% possui bicicleta considerando que algumas famílias possuem os três meios de transporte. Por fim, quando tratamos de renda per capita, a comunidade possui 29,8% de pessoas que recebe até meio salário mínimo ao mês, 29,8% que recebe de meio a um e meio salários mínimos e 38,3% recebem acima de um e meio salários mínimos ao mês. Para melhor demonstrar tais constatações, será apresentado o gráfico a seguir, evidenciando síntese dos indicadores ambientais, econômicos e sociais propostos. Esse “Quadro Síntese” apresenta uma aproximação com a realidade pesquisada. Assim a construção deste quadro ilustrará a situação social, econômica e ambiental de cada família entrevistada, sendo possível a verificação de diferenças e semelhanças observadas através dos dados. A utilização do gráfico em forma de radar permite constatar que, quanto mais próximos ao centro (eixo tipo 1) mais problemático está a situação da propriedade, considerado assim como estado precário; na situação intermediária, (eixo do tipo 2) encontra- se a situação razoável. E quanto mais abertos estiverem os pontos para extremidade (eixo 3) a situação das famílias se torna boa, em relação aos parâmetros estabelecidos. 75 Gráfico 1 - Indicadores sociais, econômicos e ambientais da comunidade Mazurana Fonte: Pesquisa de campo (2011) A primeira conclusão, observando o gráfico1, é de que não há nenhum agricultor, com boa situação no que se refere aos três indicadores. Apenas 4,25% (2) famílias entrevistadas estão com situação boa no indicador ambiental, no entanto 93.61% (44) famílias estão em condições consideradas razoáveis e 2,12% (1) família esta em situação precária (ruim). Analisando o indicador econômico, 51,06% (24) das famílias estão com a situação economicamente boa em relação as demais, no entanto 40,42% (19) famílias encontram-se em situação razoável e 8,48% (4) famílias se encontram em situação precária(ruim). Já na questão de indicador social estão em situação considerada boa 70,21% (33) das famílias pesquisadas, 27,65%(13) famílias como razoável e 2,12% (1) família em situação considerada precária(ruim). Assim, analisando as condições de vida das famílias pesquisadas evidencia-se, o fato de que, grande parte das famílias se encontra em situação considerada razoável para boa quando observados os três indicadores, isso demonstra que a comunidade de maneira geral atende requisitos básicos que podem se aproximar da sustentabilidade. No entanto precisa rever ações voltadas a melhorias das condições econômicas e ambientais. Nos aspectos sociais, apenas treze famílias estão em situação considerada razoável, uma em situação precária, deste modo o gráfico demonstra que a maior parte das famílias está em boa situação, sendo que um dos aspectos positivos é o envolvimento em atividades que visam a organização e ações sociais. Como justificativa para esta análise vale observar as fotos expostas acima 76 onde visualizamos a sede da comunidade, muito bem cuidada e com infra estrutura condizente com o envolvimento das famílias. Na situação social apenas treze famílias estão em situação considerada razoável, uma e situação precária, deste modo o gráfico demonstra que a maior parte das famílias pertencentes a comunidade estão bem cotadas pois as famílias se envolvem em atividades que visam ações sociais voltadas ao bem comum. Como justificativa para esta análise basta observar as fotos expostas acima onde visualizamos a sede da comunidade. A situação geral do total das famílias analisadas da comunidade Mazurana foi fundamental para contextualizar a análise mais minuciosa em torno de seis famílias/propriedades que tem egressos do Centro de Formação por Alternância que dá base para analise central desta pesquisa. Visto que é pertinente ressaltar que o número de egressos informados totalizava 10, porque em três famílias há irmãos que foram formados pelo CEFFA nesta comunidade e uma das famílias não reside mais na comunidade, porque a propriedade teria sido vendida, segundo vizinhos, e eles estariam residindo no meio urbano. Através do quadro síntese do segundo gráfico é possível demonstrar comparativamente a situação de vida das seis famílias/propriedades que se encontram os jovens egressos do CEFFA. Nesta perspectiva o esforço para demonstrar se de fato os jovens por terem tido uma formação diferenciada como demonstramos no capítulo II, se refletem em ações concretas nas propriedades e comunidade e essas se aproximam aos preceitos do desenvolvimento em bases sustentáveis. Gráfico 2 - Indicadores sociais, econômicos e ambientais das propriedades de jovens egressos do CEFFA da comunidade Mazurana. 77 No segundo gráfico radar é possível observar que as famílias vinculadas a trajetória do CEFFA, se assemelham e se diferenciam em relação aos indicadores ambiental, social e econômico da totalidade das famílias. Demonstram claramente que, nem uma família está em situação boa diante dos três indicadores, mas três encontram-se na condição razoável em todos os aspectos. Outra se encontra em condições precária nos aspectos sociais e econômico e boa condição no ambiental. Enfim, a maioria dessas famílias diferencia-se da maioria das 43 famílias pesquisadas (razoável para boa), apresentando um quadro tendendo para condições razoáveis. Ao analisar cada propriedade de forma específica, pode-se observar que a família de n° 1 demonstra em sua dinâmica ações razoáveis nos três indicadores. Tal fato é justificado, pois, segundo relatos participam periodicamente em atividades como esportes e demais atividades promovidas pela comunidade, além da participação da mãe no Conselho de administração do CEFFA. Nas atividades da propriedade a atividade produtiva principal é a bovinocultura leiteira, o que assegura uma renda mensal significativa, pois é a única fonte de renda da família, porque situações como intempéries climáticas e um fato trágico de falecimento de um dos membros da família, trouxeram muitos desafios. No que se refere às ações ambientais a família prima pelo cuidado com o meio ambiente, pela necessidade vinculada há leis ambientais vigentes, efetuou proteção de fontes, mata ciliar e conta com uma área de reflorestamento de eucaliptos. Na propriedade n° 2 observa-se que em relação aos indicadores se destaca uma boa situação nas questões ambientais, já a dinâmica social e econômica estão precárias. Esta família possui uma área de mata na qual o restabelecimento da vegetação ocorreu de maneira natural por influência da orientação técnica, também outra área no entorno do córrego está protegido por mata ciliar. As praticas de rotação de cultura são permanentes, no entanto a família tem sua principal renda na atividade de grãos, assim os reflexos nas questões econômicas tornam-se evidentes, pois sua renda é basicamente anual, o que justifica em parte a baixa renda familiar e o seu empobrecimento. Nas ações sociais a situação precária pode ser explicada pela ausência do jovem egresso na propriedade, segundo relatos da família o filho passou a ser mais dinâmico, envolvendo toda família durante o processo educativo no CEFFA e nas intervenções sociais na comunidade. Sua ausência da propriedade pode ter influenciado para o desestimulo e acomodação dos demais membros da família visto que permanecem na propriedade os pais e o filho adolescente que estuda em escola regular. A propriedade de n°5 encontra-se em situação razoável nos três indicadores. A família demonstra em sua dinâmica social que é relativamente participativa, porque 78 participam das atividades promovidas pela comunidade, nas reuniões de clube de mães, e o pai participou durante quatro anos das atividades e reuniões promovidos pelo CEFFA. Na questão econômica a família desenvolve como atividade principal a bovinocultura leiteira que lhes garante uma renda mensal, sendo a única renda que mantém a propriedade, diante da frustração com o plantio de morangos e verduras, comercializadas apenas em uma safra direcionada ao PNAE, gerido via CEFFA. O manejo da pastagem é realizado através de piquetes o que diminui as despesas de manutenção dos animais. No tocante às ações ambientais, na propriedade a implantação a mata ciliar de forma gradativa e vinculada as exigências ambientais vigentes, visto que, a propriedade é cortada por um córrego, além de possuir uma pequena área de reflorestamento. A propriedade de n°11 expressa uma situação considerada boa no indicador social, segundo relatos da família suas ações na comunidade são permanentes, pois, sempre um de seus membros participa da diretoria da comunidade, seja nos esportes, ou clube de mães e igreja. A mãe fez parte durante cinco anos do Conselho de Administração do CEFFA, período em que seus filhos lá estudavam. As condições ambientais e econômicas estão razoáveis, a propriedade atua na diversificação da produção, sendo que as principais atividades da propriedade são a avicultura e a produção de grãos, as quais proporcionam uma renda familiar mensal e anual, também trabalha com a fruticultura, ovinocultura somente para auto consumo, visto que a bovinocultura leiteira foi extinta por ser incompatível com a lavoura e a fruticultura implantada com um expressivo pomar de citros não atingiu o propósito inicial, ou seja a comercialização efetiva e permanente. No entanto com uma aparente diversificação a família se mantém basicamente da renda anual de grãos e a integração de aves, que aja visto tem suas questões de padronização industrial capitalista, que nem sempre obtém um esperado ganho mensal líquido. Na situação ambiental, as praticas de rotação de cultura e adubação orgânica são frequentes, a propriedade possui pequenas áreas de mata nativa, que permanecem diante da necessidade de reserva legal permanente. A propriedade n°12 encontra-se razoável nos três indicadores, nas questões sociais a família esta presente nas atividades da comunidade, participa quando possível nas atividades do clube de mães, na organização de promoções da igreja. No indicador econômico, a renda da família anual é oriunda somente da produção de grãos, atividade principal desenvolvida na propriedade, o que submete a família a vulnerabilidade ligada a monocultura e a competitividade do agronegócio, favorecendo o empobrecimento, em função da quantidade produzida no contexto das propriedades da agricultura familiar. No indicador ambiental a 79 família utiliza a rotação de culturas, adubação orgânica, também na propriedade encontra-se o rio que abastece a cidade protegido com mata ciliar. A propriedade n° 21 mostra os indicadores econômicos e social em boa situação, justificável pela efetiva participação da família nas atividades comunitárias, o filho atua na direção do esporte, também é atuante nas atividades da cooperativa de interação solidária Cresol, a mãe participou três anos na direção do Conselho de Administração da CEFFA. No indicador econômico, a propriedade trabalha principalmente com a atividade leiteira, a qual gera uma renda considerável, a gestão é realizada principalmente pelo jovem, despesas e receitas são contabilizadas periodicamente, a gestão é participativa e a divisão do trabalho é organizada diariamente. Procuram formação permanente através de cursos específicos na área, principalmente, pelo jovem articulador da gestão. O indicador ambiental esta razoável, a propriedade possui mata ciliar, fonte protegida, o manejo da pastagem é rotativo, utiliza rotação de culturas e adubação verde. As famílias vinculadas a trajetória do CEFFA participam de ações sociais importantes e diversificadas, as atividades comunitárias com ocupação de cargos e posições significativas remetem aos sujeitos do campo um estado de pertencimento comunitário. Estas dinâmicas fazem com que a participação da juventude evidencie a formação integral expressa pela PA, um meio para agregar maiores potencialidades coletivas as comunidades rurais em que estão inseridos. Nas questões econômicas, a formação pela PA pressupõe que os jovens possam estabelecer parâmetros administrativos no contexto de gestão familiar e, em alguns casos, o jovem assume no espaço educativo da PA funções que possam garantir o andamento positivo, tanto no que se refere à infraestrutura de funcionamento como o organizativo, sob a égide coletiva. Assim a gestão exercida na propriedade remete um aspecto mais empreendedor, reforçando os valores e o diálogo familiar. Por outro lado, quando a centralização da gestão remete ações individuais (centradas nos pais), muitas vezes estão vinculadas ao êxodo rural da juventude. No que se refere às questões ambientais, as ações locais das famílias se alinham na maior parte dos casos ao cumprimento das leis ambientais, propostas por órgãos governamental, principalmente no que se refere a água, porque na comunidade está localizado o rio que abastece a cidade e, por conseguinte, recebe periodicamente informações sobre os cuidados com o meio ambiente além do CEFFA e outros órgãos públicos. Assim, a educação pautada em valores ambientais traz um enfoque positivo nas famílias quanto ao cuidado com a natureza, mas as evidências vinculam-se as pressões que essas famílias sofrem. 80 A dinâmica das seis famílias em relação às demais pesquisadas na comunidade demonstra que as ações propostas pelo CEFFA cumprem de maneira parcial o propósito vinculado a sustentabilidade, aja visto que todas as seis propriedades não se diferenciam das demais famílias da comunidade depois o total das famílias se encontram em uma situação econômica mais elevada proporcionalmente, ambientalmente e socialmente em condições razoáveis para bom. No entanto as famílias dos egressos do CEFFA permanecem em sua maioria em condições razoáveis nas questões econômicas, ou seja, o empobrecimento continua presente, mesmo estando expostos a todas as informações e acompanhamento efetivo da assistência da CEFFA em períodos de formação dos filhos egressos. Também nas questões sociais as famílias dos egressos estão em sua maioria em situação razoável, porem uma precária, de modo proporcional, isso demonstra que o papel desenvolvido pelo CEFFA, no que se refere a formação integral interfere de forma parcial. O CEFFA contribui para que os jovens assumam como protagonistas na propriedade, no entanto quando não encontram espaços desafiam-se em busca de novas oportunidades desvinculadas do espaço familiar, isso pode se refletir também em precarização na participação na dinâmica comunitária. Uma das famílias dos egressos encontra-se em situação precária socialmente, o que é atípico comparado com as demais famílias pesquisadas. No que se referem às questões ambientais as seis famílias, comparadas com as demais, estão razoáveis, no entanto das duas únicas famílias do total de famílias da comunidade que estão em boa situação uma pertence as seis famílias dos egressos, demonstrando que sua atitude diante dos cuidados com o meio ambiente é relevante, o que pode refletir a influencia da dinâmica do CEFFA. No próximo item serão tratados do histórico do CEFFA Dois Vizinhos, sua organização e dinâmica de funcionamento, tendo como propósito retratar possíveis relações com os aspectos evidenciados em torno das seis propriedades apresentadas no gráfico anterior. 3.4 DINÂMICA DO CEFFA DE DOIS VIZINHOS Na primeira etapa da pesquisa, o intuito foi entender o trabalho em torno da PA (Pedagogia da Alternância) na CEFFA de Dois Vizinhos, focando nas dinâmicas históricas e metodológicas no intuito de observar em que medida o trabalho dos educadores, da Associação (Presidente) estão comprometidos com aspectos do desenvolvimento sustentável. 81 As entrevistas foram realizadas em quatro fases que serão apresentadas na seguinte ordem: entrevista n°1 com o coordenador; entrevista n°2 com os monitores; entrevista n°3 com o presidente da Associação; e, por fim, a entrevista n°4 com os professores. Além das entrevistas, foram consultados documentos e materiais produzidos pelo CEFFA de Dois Vizinhos e pela ARCAFARSUL. A figura (Imagem 4) mostra a vista Parcial do Centro de Formação por Alternância, Dois Vizinhos – PR. Imagem 4–Vista Parcial do Centro de Formação por Alternância - Dois Vizinhos – PR Fonte: Heckler (2011) O Centro Familiar de Formação por Alternância (CEFFA), conhecido no sudoeste do Paraná como Casa Familiar Rural (CFR), vinculada a ARCAFARSUL (Associação Regional das Casas Familiares do Sul do Brasil), foi assim designado pela necessidade de construir uma identificação comum no nível nacional, visto que em todas as regiões do Brasil existem escolas do campo que trabalham a Pedagogia da Alternância, denominadas por “Casas Familiares Rurais”, ou “Escolas Família Agrícola”. Tal necessidade ocorreu para favorecer a articulação nacional para que as reivindicações no intuito de buscar políticas públicas específicas ganhassem força. Assim, estabeleceu-se uma nomenclatura única a nível nacional, sendo que todas as Casas Familiares (CFRs) e Escolas Família Agrícolas (EFAs) passam à também serem chamadas de CEFFAs (Centros Familiares de Formação por Alternância). Como consta na Revista Formação por Alternância (2007,p.73) “para a composição da Equipe 82 de Articulação Nacional dos Monitores e Monitoras dos CEFFAs, as regionais definiram seus representantes”. Isso demonstra o debate nacional em torno da Formação por Alternância. A fundação do CEFFA de Dois Vizinhos partiu da iniciativa do governo municipal em estabelecer uma proposta diferenciada de formação que pudesse contemplar famílias do meio rural com um novo processo de aprendizado técnico-científico. Nesta perspectiva formou-se uma comissão provisória para debater sobre o papel do CEFFA e sua relação com as comunidades locais e regionais. Por um período considerável buscou-se contemplar as opiniões das comunidades rurais. Com resultado positivo a partir das consultas realizadas, esta comissão provisória deliberou pela convocação de uma assembleia geral para definições e eleição da Associação mantenedora do CEFFA oficialmente legitimada pelo Conselho Nacional de Pessoa jurídica (CNPJ) número 015.095.69/0001- 40. Assim consolidou-se a Associação do CEFFA, envolvendo agricultores e representantes do poder público municipal (vereador, secretário de agricultura), sem fins lucrativos para que exercesse um papel de administração e gestão do processo educativo proposto pela “Pedagogia da Alternância”. Logo, os papéis específicos de cada membro foram definidos, sendo que agricultores, poder público municipal e parceiros articularam o processo de efetivação da proposta, definindo as estruturas físicas e os recursos humanos. Tendo em vista que, Associações onde as famílias têm sempre maioria no Conselho de Administração, sem que isso impeça que colaborem outras pessoas- profissionais responsáveis de alternância, antigos alunos, instituições locais- mas deixando bem claro que o “poder” de tomar decisões deve estar sempre na mão das famílias e não dos professores, os promotores ou o Estado (MARIRRODRIGA; CALVÓ,2010,p.68). Evidencia-se que, o êxito na constituição de um CEFFA, depende de sujeitos atores que se comprometam com a construção coletiva e resistam a influencia do individualismo, que articulem a sociedade de forma organizada disponibilizando métodos e formas de construir um conjunto de ações vinculadas as questões rurais, especificamente para o desenvolvimento sustentável da agricultura familiar. Isso demonstra que a efetivação de um CEFFA proporciona para sua área de abrangência um potencial social, econômico e ambiental a ser explorado. A formalização deste processo ocorreu com a oficialização da Associação Casa Familiar Rural de Dois Vizinhos, com a primeira gestão iniciada em 1996, inaugurada as instalações em 11 de setembro, iniciando suas atividades educativas em 23 de setembro, tendo na primeira turma 25 jovens. Nessa ocasião, a formação era para “Curso de 1º Grau 83 Supletivo” – Função Qualificação em Agricultura - para atender somente o público do município sede. A CEFFA está localizada na comunidade de Santo Isidoro, BR. 281, 8 km da Cidade de Dois Vizinhos sentido Pato Branco e atualmente conta com 45 jovens em formação sendo destes apenas cinco meninas. Foram formados pelo CEFFA 87 jovens egressos, sendo destes apenas seis meninas. Este CEFFA, atualmente, segundo relato do coordenador, certifica o jovem para o Ensino Médio pela SEED (Secretaria de Estado da Educação) e a Qualificação em agricultura pela ARCAFARSUL. Atende jovens dos municípios de Verê, Salto do Lontra e Cruzeiro do Iguaçu, através de convênio com estes poderes públicos municipais. Conta com uma estrutura administrativa e pedagógica composta por um conselho administrativo; uma direção; uma equipe pedagógica; monitores (vinculados a ARCAFARSUL) e professores (vinculados a SEED). A estrutura pedagógica da PA na CEFFA de Dois Vizinhos contempla o plano de formação curricular. Utiliza ainda, os seguintes instrumentos: contato individual ou atendimento personalizado quando os jovens chegam de suas propriedades para semana de alternância. Após é realizada a colocação em comum com entrega do caderno da alternância pela parte da manhã. Durante a semana são realizados os cursos/aulas, as visitas as propriedades, e visitas de estudo, sendo que no retorno realizam o plano de estudo. Estas articulações gerais em torno do CEFFA demonstram como trata Ambrósio (2002), que o desenvolvimento humano através da educação, requer não apenas o ensino básico dos conhecimentos, mas a aquisição de qualificações e competências profissionais, capacidades, valores e atitudes que integram a comunidade aos diversos meios sociais. A estrutura física hoje conta com uma boa infraestrutura, pois são 560 metros quadrados de alvenaria, com cozinha, dormitórios, refeitório, despensa, lavanderia, salas de aula, banheiros, secretaria e biblioteca. Foi feita uma ampliação de mais 30 metros para mais uma sala de aula, realizada com recursos do Instituto Souza Cruz (Empresa de caráter Privado) em 2010. No entanto, vale lembrar, que as organizações de famílias responsáveis pelo CEFFAs consigam das autoridades políticas e educativas de seus países uma legislação específica que garanta o reconhecimento da pedagogia da alternância e o devido financiamento público [....] apoiar as iniciativas e projetos de desenvolvimento [....].(REVISTA FORMAÇÃO POR ALTERNÂNCIA, 2005, p. 87- 89). Neste debate vale ressaltar que se por um lado a PA pressupõe o desenvolvimento sustentável das famílias agricultoras, por outro, a CEFFA obteve apoio financeiro de uma 84 empresa privada vinculada a produção e industrialização do fumo, com base no pacote tecnológico da Revolução Verde e do produtivismo, sem dar atenção a saúde humana e ao meio ambiente. Esse dualismo, coloca em debate as pressões e possibilidades no contexto capitalista, em que ao mesmo tempo que a formação por alternância, como tratada no II capítulo, volta-se para um debate em torno da agricultura sustentável, também busca recursos do setor privado capitalista, com poucas relações com a sustentabilidade A justificativa para tal ação está pautada na luta pela manutenção do CEFFA e, para isso, há necessidade de articulações com “parceiros” e com o poder público visando políticas públicas para o setor. No entanto, essas situações ambíguas precisam ser compreendidas para que sejam superados os limites que enfrentam as CEFFAS. A construção da concepção pedagógica e de desenvolvimento dos CEFFAS, e seus meios de articulações com as instituições e entidades precisam ser mais entendidos e aprofundados. Neste contexto vale a pena ressaltar, que nos Anais do II Seminário Internacional da Pedagogia da Alternância, em Brasília, Gadotti (2002,p.151) ressalta, que os problemas ecológicos são “provocados pela nossa maneira de viver, e nossa maneira de viver é inculcada pela escola, pelo que ela seleciona ou não seleciona [...] precisamos reorientar a educação a partir do princípio de sustentabilidade, isto é, retomar nossa educação em sua totalidade”. Está evidente que a necessidade conduz muitas vezes, à ações que nem sempre são voltadas ao que a PA propõe, isso demonstra que há falta de políticas publicas a educação do campo como referenciado no II capítulo. Em relação ao funcionamento da CEFFA, segundo o coordenador, tem-se o seguinte quadro: o saneamento básico é através de fossa negra; a água consumida vem de poço artesiano com análise periódica da qualidade da água; o destino do lixo orgânico é enterrado e o lixo não orgânico é destinado a coleta pública. O telefone utilizado é fixo e próprio da associação, dispõem de equipamentos eletrodomésticos de três televisores, duas geladeiras, dois fogões a gás, seis chuveiros elétricos, dois freezers, dois rádios, uma antena parabólica, dois computadores e uma máquina de lavar. Para realização das atividades o CFR dispõe de um veículo para visitas dos profissionais as propriedades dos jovens. O quadro de funcionários, segundo o coordenador, é composto por nove profissionais, sendo destes cinco efetivos da SEED (Secretaria Estadual de Educação), dois técnicos/monitores e uma auxiliar de serviços gerais, vinculados a ARCAFARSUL (Associação Regional da Casas Familiares do Sul do Brasil). Também dois profissionais são cedidos pela prefeitura municipal, um para coordenar o CEFFA e outro para coordenar a 85 COAFAR (Cooperativa Agropecuária Familiar Rural) instituída e organizada pelo CEFFA em articulação com a Secretaria de Ação Social do município, a qual atende as demandas do projeto “Mais Alimentos”. Segundo a Coordenadora, a fundação da cooperativa teve como principal objetivo a possibilidade de gestão da política pública voltada ao abastecimento de alimentos a rede pública de educação, estabelecendo um vínculo dos jovens e suas famílias coma produção de alimentos para abastecer as escolas municipais. O CEFFA possui atestado da área de Assistência Social com o registro nº 007/ 2010, que diz: “á pertencer à política publica de Assistência Social por desenvolver serviços, programas, projetos ou benefícios de Atividade de cunho Social visando à promoção e inclusão na sociedade”. Neste caso, com a Cooperativa (COAFAR) o CEFFA passou a exercer a gestão do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) municipal, visto que o município de Dois Vizinhos possui 1.616 agricultores familiares cadastrados no programa. Como trata o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) através da Secretaria de Agricultura Familiar (SAF). Por meio da Lei nº 11.947/2009, a Agricultura Familiar passa também a fornecer gêneros alimentícios a serem servidos nas escolas da Rede Pública de Ensino. Para quem produz alimentos, a iniciativa contribui para que a agricultura familiar se organize cada vez mais e qualifique suas ações comerciais. Para quem adquire esses produtos, o resultado desse avanço é mais qualidade da alimentação a ser servida, manutenção e apropriação de hábitos alimentares saudáveis e maior desenvolvimento local de forma sustentável.São secretarias estaduais de educação, prefeituras ou escolas que recebem recursos diretamente do FNDE. São responsáveis pela execução do PNAE, inclusive a utilização e complementação de recursos financeiros (MDA, 2012). Segundo relato do coordenador, o CEFFA de Dois Vizinhos conta atualmente com uma instalação própria que abriga a sede da COAFAR, tendo condições para transformação dos produtos in natura adquiridos pelo compra direta. No entanto, somente trabalha atualmente na gestão do PNAE, atuando mais como centro de arrecadação, distribuição e compra direta de produtores. Na primeira etapa de aquisição de produtos da agricultura familiar que foi nos meses de julho a outubro de2010 foram repassados aos produtores um total valorado em oitenta e dois mil reais de compra de alimentos diversificados, Já no ano seguinte 2011 foram adquiridos produtos dos agricultores num total de cento e vinte três mil reais de alimento como: verduras frutas e legumes, bolachas, pães, cucas, mandiocas, carnes, bovina, suína e de frango. Recursos estes repassados pelo programa Municipal de Segurança Alimentar, onde cada produtor tem uma cota de nove mil reais para comercialização. Segundo 86 o Coordenador do CEFFA, e gestor do projeto de comercialização de produtos da Agricultura Familiar “fica no Campo quem tem lucro”. Evidencia-se nesta fala que a obtenção da renda no campo é fundamental para a permanência dos agricultores familiares em seu meio de vida, o que é verdadeiro, no entanto, tal ênfase deixa de referir-se a outros valores também fundamentais como os de reciprocidade, da vida social, do trabalho cooperativo, como tratado por Baumam (2003), além das questões ambientais. Neste contexto, uma problemática comum à juventude, incluindo os jovens do meio rural, como discutido no II capítulo, é a influencia da mídia, que estimula o consumismo e impõe novos estilos de vida, próprio da modernidade, voltados a necessidade da competição e do lucro como único fator de inclusão e permanência no meio social. Essa visão de lucratividade vinculada diretamente a permanência dos jovens agricultores no campo influencia a adoção, por exemplo, de praticas tecnicistas e a competitividade. Como relatado pelo coordenador do CEFFA, a articulação em torno do cooperativismo evidencia possibilidades de viabilizar os projetos de vida dos jovens tanto na produção como comercialização de alimentos, o que contribui efetivamente para o êxito das famílias. No entanto, as pressões para a competividade e lucratividade competem com a visão de solidariedade proposta pela cooperativa. O que vem mobilizando mais acentuadamente o envolvimento com a cooperativa é o debate da alimentação voltada para atender para o PNAE porque é uma alternativa de renda para o campo, bem como, para a diversificação da produção. Isso contribui por que: a diversificação da atividade desenvolvida pela família ou o aperfeiçoamento, redução de custo, redução de uso de insumos na atividade já é desenvolvida. Os projetos devem ser viáveis financeiramente, podendo ser desenvolvidos com tecnologia simples e como experimento técnico- científico. Devem evitar atividades de grande impacto ambiental, optando-se por projetos alternativos, mais conscientes com as questões ecológicas. Os projetos podem também não ser de cunho lucrativo, visando à recuperação de área degradada por exemplo (REVISTA FORMAÇÃO POR ALTERNÂNCIA, p.61, 2007). Partindo dessa constatação fica evidente que quando há um grande número de projetos de uma mesma atividade não condiz com o que se entende por sustentabilidade, porque a Pedagogia da Alternância preconiza projetos de vida, como tratado no capítulo II, como alternativas associadas a diversificação da propriedade e aos anseios do jovem. Quanto aos projetos de vida dos jovens do CEFFA de Dois Vizinhos, temos o seguinte quadro: foram 87 citados que houve projetos nas áreas de Bovinocultura de Corte, Galinhas caipiras, Criação de Codornas e Eletrônica (atividade não agrícola); porém nos últimos 5 anos, foram efetuados 36 projetos de Bovinocultura Leiteira, 8 na área de fruticultura. 4 na área de horticultura e 2 na ovinocultura. Isso demonstra uma relativa concentração dos projetos de vida, o que por um lado, pode ser explicado porque o sudoeste passou em 2011 a ser a mais importante região leiteira do Paraná, mas por outro, pode reforçar a especialização e dificultar a diversificação. Segundo Almeida (1998, p. 38) o desenvolvimento rural através de ações conjuntas do estado e indústrias agroalimentares e um setor de agricultores empresariais, a agricultura torna-se cada dia mais inserida no sistema econômico. O fim da polivalência associada a especialização da produção a diversidade e a diferenciação da produção tornam empecilhos para o desenvolvimento do eixo à modernidade. A participação do CEFFA na compra direta da agricultura familiar, para atender o PNAE, estimula a diversificação da produção de alimento com qualidade para abastecer a merenda escolar, demonstrando uma iniciativa para incentivar projetos para juventude e famílias rurais a permanecerem no meio rural, os projetos de vida efetivados ainda demonstram uma relativa concentração. No entanto, isso chama a atenção para a proposta do CEFFA, que tem como uma de seus princípios a sustentabilidade, a qual supõe outro modelo de desenvolvimento que não seja vinculado somente a lucratividade. O coordenador quando questionado sobre a alimentação dos jovens no CEFFA, salienta que a manutenção alimentar é oriunda, grande parte, das famílias dos agricultores dos jovens. Contribuem com arroz, feijão, carne, pão, leite e temperos em geral (alho, cebolinha, salsa). Já, outras variedades como as bolachas cucas, cebolas, tomates, são fornecidas pela prefeitura municipal através do PNAE, para merenda escolar. Os produtos de limpeza e material de expediente são oriundos dos recursos próprios da Associação do CEFFA, arrecadados através de convênios e promoções realizadas, e pelas instituições publicas parceiras. No que se refere a questões de ações desenvolvidas com as famílias vinculadas ao CEFFA, segundo o coordenador, o apoio dos parceiros, instituições públicas e privadas, é muito importante. Como exemplo, citou a ação de proteção de fontes em três propriedades, com recursos da prefeitura e Petrobras, ação positiva que contribuiu, segundo o coordenador, para melhoria da qualidade de vida das famílias. Na perspectiva do indicador ambiental, as iniciativas de proteção de fonte demonstram uma prática sustentável, o que indica uma preocupação com estes princípios, ainda que em pouca proporção. 88 Houve ações importantes como os cursos de formação ministrados aos jovens e monitores pela ARCAFARSUL, e a implementação dos projetos de vida dos jovens, com recursos oriundos da Associação do CEFFA. Essas atividades desenvolvidas foram, praticas de cultivo de morangos em uma propriedade, onde se realizou muitas visitas de campo (área experimental) com a presença de autoridades municipais; atividades com hortaliças envolvendo doze famílias; associativismo, envolvendo trinta famílias, onde se originou a cooperativa COAFAR, já citada anteriormente. Segundo o coordenador estas atividades são positivas para todos os envolvidos. Evidencia-se que o espaço educativo da Alternância proporciona um envolvimento nos segmentos sociais e constrói vínculos que desenvolvem a formação de educandos sob a égide da organização e participação social, como tratado no capitulo II. Contudo, a situação das famílias dos egressos demonstra que suas ações sociais encontram-se em situações variadas, ou seja, duas das famílias estão tendo uma boa participação social, outras três estão em situação considerada razoável e uma encontra-se socialmente isolada. No entanto, a maior parte das famílias desenvolve dinâmicas sociais específicas. De modo geral evidencia-se que a gestão do CEFFA, se aproxima com o que trata Marrirodriga e Calvó e (2010), porque demonstra a preocupação com a promoção e desenvolvimento do meio, com ações que buscam integrar-se a disponibilidade que este meio já oferece, articulando parcerias com Sindicatos, movimentos sociais, cooperativas, o desenvolvimento rural sustentável e a promoção da Associação do CEFFA. Os monitores quando perguntados sobre o plano de formação se o mesmo estaria vinculado aos projetos de vida, esclarecem que o mesmo estaria diretamente vinculado aos temas sobre os projetos de vida durante todos os anos de formação. Mas a ênfase maior seria no terceiro ano seria realizado o relato teórico para apresentação de cada projeto elaborado de forma individual. Neste contexto como falamos anteriormente, como trata Gimonet (2005) é necessário estabelecer um vínculo com os jovens de maneira pelo qual possam no processo de formação descobrir suas verdadeiras habilidades e vocações profissionais. Os monitores quando questionados se era realizada o acompanhamento de tutoria aos jovens, declaram que esta pratica não seria realizada em seu dia-dia no CEFFA. No entanto, como tratado por Lorenzini (2007) ser monitor é mais do que uma função, é viver dentro da complexidade, é ser um facilitador é desenvolver o aluno sendo seu guia, dar uma direção para o jovem construir seu próprio conhecimento. Também Gimonet (2007) quando fala sobre o trabalho em equipe sua visão é clara, porque diz que quando se trata apenas do ensino e seus 89 conteúdos, o sentido de “equipe” torna-se desnecessária e a pratica da individualidade pode se tornar suficiente, mas quando se trata da formação global proposta pela alternância, é fundamental trabalhar no coletivo, como falado no II capítulo. Com base nos relatos dos monitores técnicos da equipe evidencia-se que há uma construção interdisciplinar que visa atender a uma problemática comum nos espaços da pedagogia da alternância, no entanto, a concepção e práticas disciplinares dos educadores oriundos da Escola Base, que vivenciaram o ensino sob a égide da formação padronizada, encontram muita dificuldade no contexto da PA, por ser muito diferente de suas praticas educativas anteriores. Então tentativas de construção conjunta se tornam um desafio a ser superado. Como trata Gonatto (2006) a ênfase interdisciplinar no processo pedagógico da alternância é uma caminhada, porque é a realização do homem em todas as suas dimensões, se tornando uma superação da desesperança, do individualismo, enfim de muitos problemas existenciais. Assim, contar com a extensão rural associada com o contexto teórico, desafia qualquer profissional a quebrar paradigmas como traz Morin (2000). Ver o conhecimento científico como verdade absoluta é um equívoco, no entanto devem-se estar abertas para interpretar os erros, as ilusões evitando assim a cegueira sob a realidade na qual se insere. Percebe-se que os técnicos responsáveis pela alternância desempenham um papel de transição entre a funcionalidade e a busca de meios concretos para articular a proposta pedagógica sob diferentes opiniões e atitudes e ações da equipe como um todo. Estas análises demonstradas nas falas sobre o questionamento se eram realizadas tutorias, ao comentarem que as mesmas não eram realizadas, porque didaticamente teriam que ter um envolvimento maior dos monitores das diversas áreas. Acaba mostrando que a opção pela tutoria é apenas de áreas afins aos projetos de vida de interesse dos jovens, como por exemplo, a área agronômica para projetos voltados a produção vegetal e áreas de abrangência, e a veterinária para a produção animal e derivados etc. Essa prática dificulta a interdisciplinaridade, mas facilita o trabalho dos monitores. Sob esta reflexão como trata Calvó (2005), a tutoria deve ser tratada como um momento crucial da formação personalizada, onde o jovem é acompanhado para a construção do projeto de vida. Os monitores quando questionados sobre a realização dos estágios, que na teoria seria uma aproximação necessária com a atividade desejada por cada jovem alternante para a implementação dos projetos de vida, relataram que esta atividade não costuma ser realizada. Os estágios contribuem para que o jovem analise de fato se será possível vislumbrar um 90 futuro promissor na atividade almejada, ou seja, sua possível vocação está convivendo com a pratica, com o trabalho que quer exercer, o que o conduz a levar em consideração a possibilidade de situações inesperada, até mesmo negativa, podendo trocar de área e atividade. Como diz Gimonet (2007), durante os estágios o jovem tem contato com a atividade pretendida, onde o trabalho exerce um papel importante, pois quebra barreiras, e possibilita ao jovem, através da compressão e acolhimento, um impulso para o meio profissional. Ainda mais para jovens que no meio familiar não encontram espaço ou respostas para suas necessidades. Quando questionados os técnicos sobre atitudes desempenhadas quando os projetos de vida não se vinculam a agricultura, qual seriam os encaminhamentos, colocaram que desde que atuam no CEFFA nunca tiveram caso de projetos em que a atividades fossem não agrícola. No entanto, segundo dados históricos coletados durante a pesquisa, no ano de 2005 teve um projeto na área de eletrônica, mas quem trabalhava na época não estava mais atuando nesta instituição educativa no momento da pesquisa. Como trata Calvó (2005) é evidente que somente os CEFFAs não são responsáveis pela elaboração dos projetos de vida, porque há influencias do meio social, da vida familiar, as quais também contribuem muito para a escolha das atividades, e deve-se levar em conta a cultura, as questões econômicas entre outros aspectos. Segundo os monitores, quando questionados sobre como tratam dos recursos para efetivação dos projetos, relataram que há uma articulação do CEFFA para buscar financiamentos em bancos, principalmente no acesso à política pública do Pronaf-Jovem para os formandos. Neste contexto também foi citado pelos monitores às dificuldades na gestão dos recursos financeiros pelos jovens, pois faltam nos jovens um espírito de disciplina, e após a implementação do projeto porque seria importante um acompanhamento permanente pelo CEFFA às famílias e jovens contemplados. Os monitores quando questionados sobre o diálogo que realizam com a família em relação ao projeto de vida durante sua elaboração, relataram que existe pouco envolvimento, o maior contato é com o próprio jovem, mas neste período as famílias são visitadas para fomentar a contribuição com seus filhos. Evidencia-se aspectos referentes ao desempenho dos projetos, principalmente em relação a elaboração dos projetos e ao acesso de recursos financeiros, no entanto como tratado no capítulo II, a inserção da família nos passos gradativos do projeto se torna fundamental, mesmo porque, neste momento geralmente o jovem tratará de trabalhos profissionais no campo técnico em seu meio de vivencia, e esta reciprocidade familiar deve ser sempre 91 próxima. Como trata Gimonet (2007) à função do monitor no CEFFA se torna rica, ao mesmo tempo complexa, é um desafio com muitas dificuldades. Quando os monitores foram questionados sobre as ações com jovens egressos, relataram que acontece somente através de visitas de estudo, experiências para turmas atuais. Isso se realiza somente em três famílias, eleitas como referencia as demais, pois teriam se desenvolvido muito após sua passagem pelo CEFFA. Uma das justificativas constatadas do não acompanhamento dos egressos foi a falta de condições financeiras, veículos, pois seriam um numero excessivo de famílias, porem quando o CEFFA é procurado pelos egressos sempre se dispôs à contribuir considerando as condições que possuem atualmente. Neste aspecto a pesquisa direcionada aos projetos de vida a partir dos jovens egressos e o vinculo do CEFFA neste contexto, evidencia-se uma situação de afastamento, no entanto justificada pela falta de estrutura, e recursos financeiros. Assim como discutido sobre as políticas públicas referentes a educação do campo voltado ao CEFFA, seria o inicio de um interminável debate no campo das política públicas como tratamos no capítulo II. No entanto algumas ações neste campo já estão sendo desenvolvidas, como consta na Revista Formação por Alternância (2007) em seus informes, a “Frente Parlamentar dos CEFFAs agora é Frente Parlamentar da Agricultura Familiar”, as ações políticas desenvolvidas pela rede CEFFAs, suas demandas para o legislativo está composta por três entidades da sociedade civil organizada, os CEFFAs, A CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores na agricultura) e UNICAFES (União Nacional da Cooperativas da Agricultura familiar e Economia Solidária. Essas instâncias lutam para que os CEFFAS acessem políticas públicas que lhes dê sustentação econômica e que permita desenvolver sua proposta pedagógica. Quando questionados sobre qual é a maior incidência de temas trabalhados pelos monitores durante as alternâncias, em suas falas classificaram os temas na seguinte ordem: as questões econômicas ficariam em primeiro lugar, os temas ambientais ficariam em segundo lugar, em terceiro lugar as questões culturais e sociais. Nestas colocações evidencia-se justamente pela fala anterior da coordenação do CEFFA, mostrando a importância financeira como carro chefe da formação dos jovens. Este contexto diz respeito aos reflexos de uma sociedade moderna como trata Touraine (1994), a modernidade reflete ações tecnicistas ocorridas no contexto da formação por alternância em relação a sustentabilidade dos agricultores familiares. O espaço educativo do CEFFA está exposto às influencias do progresso. 92 No que se refere a gestão, partindo do pressuposto da Pedagogia da Alternância, a respeito da valorização dos agricultores familiares através de ações participativas ou seja coletivas, os pais assumem uma posição de sujeitos do processo, e tem possibilidades de estabelecer relações de autonomia, seja porque os CEFFAS tem origem na organização dos pais, seja porque são eles que compõem o Conselho Administrativo, porém esta perspectiva será conferida através do questionamento com o agricultor presidente da associação do CEFFA de Dois Vizinhos. Quando questionado sobre seu perfil perante o grupo do conselho administrativo, o presidente se colocou de forma que percebe-se uma autonomia perante os demais colegas do conselho de administração e equipe de funcionários. Ele comentou que quando assumiu a presidência o CEFFA estava em situação precária, para enfrentá-la estabeleceu uma ordem de metas, controle da gestão sob a égide de atitudes severas, inclusive com afastamentos de funcionários. Como trata Gimonet (2007), o trabalho no CEFFA implica em um trabalho em grupo e com ações tomadas pelo principio cooperativo. Por outro lado, a dinâmica autônoma de gestão da associação, traz uma característica tratada por Forgeard (1999) no Primeiro Seminário Internacional da PA, em que diz que a associação através do conselho de administração, em assembleias, ou pais e monitores, em qualquer destas instancias cada um em seu lugar favorece a emergência de atores do processo. Nesta entrevista foi questionado também sobre o envolvimento da Associação na execução e elaboração dos projetos de vida dos jovens, o presidente afirmou que não há envolvimento nesse processo. Evidencia-se aqui certo distanciamento entre o debate dos projetos de vida que são o cerne fundamental da PA, e a Associação, refletindo assim um contexto que precisa de uma reavaliação em torno de algumas ações dos sujeitos no processo. Os projetos de vida devem emergir de iniciativas da associação refletidas no contexto do conselho de administração, em conjunto com todas as famílias, a equipe pedagógica e os jovens. No entanto, segundo Marrirodriga e Calvó (2010) a cada conselho de administração compete participar dos programas, estabelecer gastos, contratações, formações, reunir meios financeiros, buscar apoio, enfim todos os momentos deve estar presentes. Em relação a articulação da Associação para buscar parcerias com outras instituições, com firmeza ele relatou que no momento das apresentações dos projetos de vida as instituições estariam sempre presentes. Que a Associação tem envolvimento direto com as prefeituras municipais, com o Instituto Souza Cruz estariam buscando alguns recursos através de emendas parlamentares. Forgeard (1999) destaca que é a associação que faz do CEFFA um 93 verdadeiro lugar de troca, de deve manipular uma rede de parcerias locais, ser uma força que agiliza o meio valorizando a região. Quando questionado sobre em que medida o conselho de administração participava durante a elaboração do Plano de Formação, o presidente relatou que o conselho não tem envolvimento na construção do Plano, que somente contribui no processo de pesquisa participativa que é realizado a cada inicio de ano letivo. Fica evidente neste aspecto que a elaboração da matriz curricular no CEFFA, relacionada ao Plano de Formação é comum que somente os professores e monitores tratam deste aspecto, mas como trata Begnami (2006), o Plano de Formação é um dispositivo pedagógico, uma didática específica que articula um conjunto de instrumentos pedagógicos para uma alternância integrativa, assim constituindo-se um ensino de pesquisa e extensão, onde o educador/monitor deve articular elementos para contemplar todos os sujeitos envolvidos no processo. Quando questionado o presidente sobre a articulação do conselho para viabilização e execução dos projetos de vida, ele não soube responder, pois, declarou que seu desempenho diante da presidência teria iniciado recentemente, mas teria possibilidades de contatar programas de acesso a recurso para os projetos de vida dos jovens, por estar vinculado à Cooperativa de interação Solidária Cresol de Dois Vizinhos. Como associado efetivo articularia uma possível apresentação dos projetos de vida do CEFFA para a instituição creditícia que opera com o Pronaf. Fica evidente que no contexto social as possibilidades são amplas, porém cada gestor precisa estar participando de todos os debates e formular estratégias para a viabilização das ações almejadas, assim o vácuo que se produz, de forma não intencional reflete diretamente no contexto educativo. Neste contexto traz Marirrodriga e Calvó (2010) que o presidente eleito tem a responsabilidade de assegurar a representação em torno do conselho e suas relações necessárias. No questionamento quanto às ações voltadas aos jovens egressos colocou que são realizadas visitas as propriedades, principalmente nas que fazem parte de uma cooperativa de produção constituída a partir de uma necessidade que o CEFFA teve quando assumiu o papel de gestão do Projeto Mais Alimentos, ou seja, “compra direta” o PNAE como já tratado, onde os jovens egressos organizam a produção tornando-se produtores cooperados. Este debate demonstra a disponibilidade e o consentimento da Associação e conselho de administração para esta demanda que está presente, é real e necessária no contexto da agricultura familiar, e consolida ainda mais o papel do CEFFA na perspectiva social e nas relações comerciais, econômica pela agregação de valor e renda e ambiental pela possibilidade de diversificação. 94 Quando questionado qual sua avaliação sobre o envolvimento do conselho de administração do CEFFA nas relações com famílias e parcerias ele foi claro, considera ótima, porém relata que a participação das famílias em atividades gerais do CEFFA são sempre as mesmas e o envolvimento está diminuindo. Quanto às instituições parceiras como ARCAFARSUL e prefeituras, também relata que há pouco acompanhamento, ou seja, é em menor escala, mas sempre quando procuradas tem sua parcela de contribuição. Fica evidente que a pouca participação dos parceiros e famílias no espaço educativo emerge de fatores muito complexos, trata-se de consequências partidas de um contexto social capitalista como já tratado no capítulo I, e reflete diretamente as políticas públicas para agricultura familiar, sobre a educação do campo, o perfil dos gestores desta educação, ao contexto comunitário em que a educação está inserida, as instancias governamentais locais, entre outros aspectos. Segundo, Ambrósio (2002) as novas teorias e paradigmas surgem constantemente na contemporaneidade e estão simultaneamente e dialeticamente vinculados a novos conceitos e estratégias de desenvolvimento humano, e neste contexto a aceleração sob a ótica da globalização, a circulações instantâneas de ideias, os fluxos de informação, o deslocamento dos centros de poderes tradicionais criam um “caos” planetário que reflete de forma nacional, regional e local em todas as instancias sociais. Este debate esta contemplado no I capítulo por Touraine (1994) sob a ótica dos reflexos da modernidade. Assim, ações tecnicistas ocorridas no contexto da formação por alternância em relação a sustentabilidade dos agricultores familiares na dinâmica do CEFFA, está exposto á influencia do progresso. No que se refere a relação do conselho de administração com funcionários o presidente foi enfático “é difícil”, existem algumas exceções na equipe que traduzem um desempenho não muito associativo, com temperamento forte e segundo o presidente não teria o perfil atribuído pelo processo pedagógico da alternância. Isso acaba contribuindo para um clima propício a desentendimentos, refletindo nas ações didáticas do grupo como um todo. Evidenciam-se nestes casos as questões de enfrentamento, contribuindo com ações individualistas que comprometem o contexto educativo como um todo, ou seja, as praticas interdisciplinares, e no dia a dia da alternância, tornando-se corriqueira compromete muitas vezes os jovens e suas famílias e refletem até em âmbitos sociais. Como trata Marrirodriga e Calvó (2010), uma adequada seleção deve acontecer sem dúvidas, pois desvirtuar a PA em sua aplicação no CEFFA é reflexo da falta de colaboração em um modo geral dos profissionais envolvidos no processo pedagógico do Centro. Diz mais 95 que em alguns casos os profissionais que desempenham o papel dos pais e do Conselho de Administração da Associação, acabam enfraquecendo a PA. Nestes casos falta aos profissionais envolvidos uma apropriação maior do sentido da Pedagogia da Alternância em toda sua complexidade. Evidencia-se uma problemática que pode refletir no desempenho do jovem em seu meio de vivencia, pois a percepção dos mesmos sobre fatos no internato ocorre naturalmente pelo convívio grupal permanente. Existe uma demanda que precisa ser trabalhada para que o processo se torne completo nas questões interdisciplinares e sob a égide cooperativa, pautando-se desde o processo inicial dos projetos de vida dos jovens. Essa tutoria, monitoria enfim dada pelos profissionais, deve buscar um envolvimento de todas as instâncias do CEFFAs, principalmente, no que se refere a associação de pais através do Conselho de Administração. Na fase os professores entrevistados foram questionados da mesma forma, quando perguntados sobre qual era seu nível de envolvimento em se tratando da elaboração do projeto de vidas dos jovens os professores que ministram ciências da natureza e suas tecnologias juntamente com a colega de educação física consideram seu nível envolvimento inexistente. No entanto, os professores que trabalham linguagens códigos e suas tecnologias, responderam que seus envolvimentos seriam constantes e considerados de ótima participação. Em se tratando dos professores evidenciam-se esforços para a construção coletiva, pois procuram adaptar-se a construção de espaço interdisciplinar, no entanto suas áreas de conhecimento com amplas especificidades dificultam ações didáticas conjuntas, neste caso um olhar integral, pois seus conceitos muitas vezes fragmentados contribuem para alguns obstáculos, porém possíveis de serem superados. Como as áreas de linguagem códigos e suas tecnologias sua concepção no processo coletivo se mostra possível e permanente. Considerando que todos passaram por formações disciplinares, e mantém uma relação de apropriação individual, isso possibilita a perda de potencialidades, no entanto, ações coletivas são desempenhadas pelo grupo e neste sentido vem juntar-se ao debate de Gimonet (2007) que diz que os critérios primordiais de maturidade e personalidade juntamente com o conhecimento profissional devem emergir para não ocorrer incompatibilidades, onde o CEFFA não poderá aceitar professores fechados em seu campo disciplinar e na sala de aula. Quando questionados se o Plano de Formação estaria vinculado aos projetos de vida dos jovens, os professores colocaram que no contexto geral, é bem desenvolvido na prática, porém a partir de 2010 foi realizada uma reestruturação de modo que contemplasse desde a primeira turma os temas desejados para os projetos de vida. Quando necessário são alterados segundo os professores, no entanto especificam que em sua opinião durante o processo de 96 debate teria que haver mais possibilidades dos jovens desenvolverem outras atividades além da produção leiteira. Evidenciam-se aqui duas situações, uma de que a pratica do plano de formação tem vinculo com os projetos de vida, isso como já tratado vem de encontro com os preceitos da PA, e outra situação em que os temas tratados se voltam à poucas opções, assim se distanciando do contexto diversificado que dispõem o campo. Como trata Gimonet (2007) é necessário aptidão para perceber uma abordagem multidimensional para os problemas, das vocações e interdependências, uma articulação do local para o global. Os professores quando questionados sobre quais áreas de conhecimento que teriam mais aproximação quanto a interferência nos projetos de vida, os professores que atuam em linguagens códigos e suas tecnologias, e educação física afirmaram que todas as áreas seriam fundamentais para contribuir no processo de construção dos projetos. Analisando a resposta de uma das professoras que atua nas área de ciências códigos e suas tecnologias quando em outro momento coloca que não tem nenhum envolvimento com os projetos de vida dos jovens, observa-se uma dualidade, quando em um segundo momento acha sua disciplina importante e próxima dos projetos de vida. Já a professora que atua nas áreas de linguagens, códigos e suas tecnologias pensa que somente sua disciplina se aproxima mais dos projetos de vida juntamente com as ciências Agrárias, um dos professores que atuam em linguagens códigos e suas tecnologias coloca que a aproximação com os projetos de vida dos jovens é apenas de responsabilidade das Ciências Agrárias. Fica evidente nestes aspectos de que é necessário que todos assumam uma postura multidimensional, pois se trata de uma ação determinante, que segundo Gimonet (2005) os projetos de vida precisam ter recursos técnicos específicos, e o mais importante de ajuda humanitária. Neste sentido os educadores vinculados ao processo de alternância precisam exercer um dinamismo também voltado aos projetos e neste contexto se apropriar do pressuposto principal da PA: a orientação pessoal, vocacional, escolar e profissional como esclarece Gimonet (2005). Quando perguntados sobre a importância da construção dos projetos de vida, todos foram enfáticos em dizer que é muito importante porque eles demonstram o objetivo principal do processo da pedagogia da alternância do CEFFA. Consideram que eles contribuem para ajudar as famílias porque os jovens se empenham apreendendo planejar e realizar ações práticas desde o ingresso na escola do campo até o termino da formação. Disseram, ainda, que os jovens aprendem a valorizar o campo e ter uma visão administrativa de agregação de valor em seus produtos, o que contribui para a diminuição do êxodo rural. Um professor fala nestes termos “É a razão principal da existência de uma Casa Familiar Rural”. 97 Nestas falas evidencia-se que os educadores têm a clareza de sua responsabilidade e uma noção clara do eixo propulsor do CEFFA, no entanto, alguns deles estabelecem vínculos específicos de aproximação e afastamento em determinadas situações/ações dos demais, assim é possível afirmar que se deve, como já tratado, estabelecer prioridades conjuntas para uma evolução gradativa. Quando perguntados sobre as visitas as propriedades e acompanhamento dos trabalhos nas famílias, todos os professores foram unânimes, declarando que tem participação e visão sobre as praticas, ou seja, da realidade do meio de vivencia dos jovens, pois realizam as visitas juntamente com os técnicos nas propriedades. No entanto, a observação de todos foi uma compreensão maior da importância de diversificar as propriedades por parte dos jovens, ter melhorias nos aspectos da jardinagem, horticultura, fruticultura e melhoramento da produção, um conhecimento mais amplo das possibilidades de apropriação de técnicas mais alternativas, porém percebe certa timidez dos pais ao se tratar de intervenções, certo desconforto tentando esconder práticas que talvez interpretem como erradas. Nas respostas acima tratadas evidenciam-se quatro situações interessantes, a primeira em que todos os educadores estão envolvidos com a dinâmica de visitas as propriedades que é de fato a sua responsabilidade enquanto educador do campo; a segunda é que estão contribuindo e assumindo um olhar crítico sobre a pratica na agricultura familiar, e tem clareza dos trabalhos de ensino e extensão do CEFFA. A terceira questão se trata da necessidade das famílias e jovens assumirem seus papéis como sujeitos de transformação, através de seus projetos de vida para contribuir nos aspectos gerais da propriedade. A quarta é de que o trabalho do CEFFA, se torna refém de um modelo de ação social tecnicista, o que os leva a absorção de valores e adaptação a condições muitas vezes adversas de enfrentamento no contexto da agricultura familiar. Como trata Forgeard (1999) no I Seminário Internacional da PA, para ser ator do desenvolvimento do meio deve-se conduzir o desenvolvimento das competências, comportamentos e ações para o bem estar econômico e social das pessoas, assim fazer crescer ao mesmo tempo o plano individual, coletivo dos indivíduos e do ambiente. Assim, Gimonet (2007) neste contexto, reforça que as influencias familiares e influencias sociais voltadas as linguagens, os códigos culturais, a aprendizagens decorrentes, são muitas vezes contraditórias com as trazidas pelo espaço educativo escolar sendo necessário uma interação ao fatores internos e externo do aprendiz. Na última questão feita aos professores sobre em que medida suas opiniões eram consideradas nos processos decisórios do CEFFA, os professores que atuam nas disciplinas de 98 linguagens códigos e suas tecnologias declararam que suas opiniões sempre foram consideradas, porém um dos professores esclareceu que acha que sua opinião é considerada de forma razoável, no entanto declarou que atua como articulador pedagógico, comenta que dependendo da intervenção as vezes também é considerada. Já a professora de educação física considerada sua interferência inexistente e justifica que seu tempo no CEFFA é de apenas meio dia duas vezes por semana o que diminui sua intervenção e outro professor que trabalha nas disciplinas de linguagens códigos e sua tecnologias esclarece que em nenhum momento é considerada e prefere não dar nenhuma opinião. Nestes relatos evidencia-se o que foi tratado anteriormente, onde a ação sob a ótica do perfil e estado de pertencimento, de incorporação de alguns membros da equipe necessitam ser reavaliados, no entanto isto não isenta a ação dos gestores como um todo de oferecer condições para um entrosamento mais efetivo. Como está dito por, Gimonet (2007) o ambiente das relações entre formadores no grupo como no ambiente geral, as possibilidades de ser e de agir repercutem na densidade do relacionamento. Os profissionais desempenham um trabalho e formam uma equipe docente interdisciplinar buscando conduzir os trabalhos referentes aos aspectos propostos pela pedagogia da alternância. No entanto enfrentam uma realidade distinta, pois o dia-dia das atividades fundamentais para o cumprimento das perspectivas propostas, segundo relatos, nem sempre são o esperado, ou seja, resultam muitas vezes em necessidades intelectuais no que tange aos pressupostos da Pedagogia da Alternância e meios para um relacionamento entre equipe mais interligado e recíproco. E possível realizar uma análise mais ampla nas questões relacionadas ao debate do caráter integral e social da alternância, os educadores necessitam transpor uma realidade da pratica social imposta pelos modos de vida e influencias diretas do mundo moderno, mas por outro lado uma relação de aproximação e resgate de valores sociais de cidadania e ética. No entanto percebe-se que esta forma de construção e reação entre equipe muitas vezes se torna um princípio competitivo refletindo em ações parciais às atividades intelectuais e didáticas propostas pela interdisciplinaridade. Os educadores neste emaranhado de cobranças sociais, de responsabilidades impostas no que tange a melhoria da família e principalmente do jovem egresso, seu papel perante a comunidade tanto no sentido social econômico e ambiental, levam ao esgotamento de algumas ações que poderiam ser mais desenvolvidas, no entanto se perdem, pois a necessidade geral no que se refere a burocracia, manutenções estruturais, alimentícias e econômicas sufocam e atrapalham atitudes mais efetivas de atendimento ao público alvo ou seja as questões de sustentabilidade dos agricultores familiares. 99 Neste aspecto evidenciam-se duas frentes no CEFFA, uma das ações envolvendo os técnicos e outra das questões didáticas que envolvem os professores, percebendo aspectos de papeis individualizados, limitando assim algumas ações enquanto equipe interdisciplinar. Bem, se na própria esfera conceitual/teórica e pratica da PA dada pelo relato individual de todos os membros do grupo, cada qual estabelecendo seus próprios princípios é possível imaginar um grande caminho a percorrer. Entender a realidade de um espaço educativo como da escola do campo CEFFA, sua dinâmica social, ambiental e econômica é mergulhar em um labirinto de articulações e embates que podem nos levar a muitas análises de possibilidades e limites, pois a égide da interdisciplinaridade se torna uma artimanha desafiadora que a cada dia deve ser superada no âmbito da sustentabilidade. 3.5 PROJETOS DE VIDA E O DESENVOLVIMENTO DOS EGRESSOS DOS CEFFA Esta terceira etapa de pesquisa teve como objetivo principal uma análise mais profunda de questões relacionadas diretamente com a relação entre os projetos de vida dos jovens egressos do CEFFA de Dois Vizinhos e sua condição atual. Aspectos que levem em conta os pressupostos sustentáveis, por isso foram construídas algumas questões norteadoras para uma possível análise fundamentada na Pedagogia da Alternância. Portanto, O projeto profissional, todavia, é, primeiramente uma ferramenta pela qual se faz a culminância de todo processo formativo por alternância, iniciado no ensino fundamental: é o chamado ciclo formativo, quando o jovem expõe o conhecimento interdisciplinar da sua realidade e o aplica de forma prática na transformação de seu espaço (PEREIRA, 2005, p.60). Neste contexto, a primeira família de egresso foi considerada como entrevistada n°12,(como demonstrada no gráfico está em situação razoável em relação aos três indicadores), porém, com permissão da família em divulgar fotos (Imagem 5) e informações, partimos para os questionamentos para visualizar o conjunto da propriedade que compõe a comunidade Mazurana. 100 Imagem 5 – Vista aérea da propriedade (12), Dois Vizinhos – PR. Fonte: Heckler (2011). Em relação ao histórico familiar, levando em conta os relatos e respostas aos questionamentos sobre a trajetória da família e sua relação com o CEFFA de Dois Vizinhos, observou-se que eles estão em torno de trinta anos na propriedade, que a família é composta pelos pais e dois filhos, ele jovem egresso do CEFFA, tendo concluído seu curso em 2009. Quando questionados sobre a atividade atual do jovem egresso, a mãe e o jovem disseram que ele contribui com os trabalhos na propriedade da família, atuando principalmente no plantio de grãos, como soja, milho e trigo. Possuem todos os equipamentos e maquinas para o manejo da atividade em uma área de onze alqueires. No entanto, o jovem reside na cidade de Dois Vizinhos e trabalha em um restaurante como garçom e nas horas vagas no final de semana e épocas de plantio está presente na propriedade, pois a atividade segundo ele não absorve mão de obra em tempo integral, e seu pai consegue administrar o trabalho na propriedade. Quando perguntado sobre o ingresso no CEFFA, relata que foi no ano 2007, e o motivo que o levou a esta instituição de ensino foi o incentivo e convite através da visita dos monitores técnicos, pois nunca antes tinha ouvido falar do CEFFA. Segundo a mãe confirmado pelo filho, por ser um jovem muito extrovertido e considerado “bagunceiro” em outros espaços educativos que estudava e por não gostar dos estudos optou por aceitar o convite para ingressar no CEFFA. Fala do filho: “eles ia fala que ia produzi muita coisa [...] Casa Familiar eles qué muda muito a realidade que [....] Eles qué muda muita coisa(....) Eles queria muda tudo , organizá tudo [....] eles falava de evoluí [....]”. Sobre estes relatos fica evidente que o CEFFA, em sua proposta pedagógica de formação integral e gradativa, absorve uma demanda da juventude que não se adaptou as condições tradicionais de formação, e na falta de estímulo acabou se afastando dos estudos, e se, frequentando torna-se um educando, na ótica tradicional, “problemático”. No entanto 101 acaba por aceitar outras demandas educativas propostas. Como trata Gimonet (2002) no II Seminário da PA o adolescente tem uma necessidade de ações, transborda as energias e os desejos de empreender [...]essa necessidade alia-se a vontade de explorar, aventurar, encontrar. Segundo as falas do jovem quando questionado sobre como foi esta fase de alternância, ele relata que foi um período que contribuiu pouco ao seu dia a dia, pois não repassava para propriedade os ensinamentos, diz ele, pensava somente em realizar bagunças, quando retornava das semanas de alternância. Segundo a mãe não contribuía em nada que havia aprendido, não fazia nem um canteiro na horta e no período de internato não escrevia nada, sua mãe era chamada nas reuniões para ficar informada de suas bagunças, seu interesse seria em trabalhar com mecânica pesada de máquinas agrícolas. Evidenciam-se aqui alguns aspectos, este desinteresse no período da formação do alternante parece estar ligado ao fato de que o Plano de Formação contempla temas totalmente agrícolas e exclui outros, os quais se fossem contemplados gerariam certo desconforto no CEFFA. Isso porque, as responsabilidades da educação do campo, sob uma ótica das necessidades empíricas, são no contexto da modernização definidas historicamente por características que vinculam o rural apenas ao agrícola. Se os jovens manifestam vocações direcionadas para atividade não agrícola, se torna um desafio para os educadores, que não tem total clareza que um novo paradigmas educativo vem emergindo para os CEFFAs do Brasil. Segundo Marrirodriga e Calvó (2010) temos que ter claro que nem todos os filhos dos agricultores familiares poderão se dedicar a agricultura, mas que também o meio rural necessita de uma série de serviços para ter mais dignidade e isso significaria um olhar para diversificação das profissões no contexto rural. Quando questionados se as visitas a sua propriedade eram realizadas, ele relata que eram frequentes, no entanto seriam na maioria para angariar fundos para construção de uma agroindústria (COAFAR) que estava sendo construída na época, segundo ele “só questões políticas”. Quando questionados sobre o projeto de vida, relata que as atividades propostas pelo CEFFA para os projetos de vida seriam apenas na área de agricultura, mais especificamente, nas questões leiteiras. Era uma atividade como ele mesmo dizia estava na “moda” mas que ele odiava trabalhar com vaca de leite e nunca se imaginou nesta atividade. No entanto, foi induzido a elaborar o projeto em Bovinocultura leiteira, onde “só ficou na teoria”. Segundo ele, todos da turma apresentaram seus projetos de vida para a associação do CEFFA ea alguns membros do poder publico municipal. Fala do Filho “quando eu tava lá estudando, eles vinha lá uma vez por mês,[...] naquela época só queria ajuda pra fazê aquela 102 fabrica [....] eles tinha ideia de leva lá pra aprendê, sinceramente, começo[...] muita política[...] queria arecadá porquinho, tipo assim pá arrecadá fundo[...]”. Nas falas ficam evidentes duas questões, a primeira que as ações realizadas pelo CEFFA, muitas vezes refletem situações que para o campo familiar se torna monótona, não contribuído em aspectos individuais, no entanto entendidos apenas como interesses comuns de quem orienta e de grupos políticos ou associativos. A segunda questão e de que as ações educativas se direcionam muitas vezes ao campo de relações econômicas voltados a certos segmentos tecnológicos. No entanto, segundo Nosella (2007) o compromisso político deve se expressar primeiramente na forma e no conteúdo do próprio ato pedagógico, ou seja, um método adequadamente aplicado. E segundo Marrirodriga e Calvó (2010)o desenvolvimento necessita algumas realizações e aquisições econômicas, mas também o progresso das pessoas e os anseios da família. Quando questionados sobre a execução do projeto de vida de bovinocultura leiteira se foi implementado, o mesmo é enfático, dizendo, não porque seu interesse era trabalhar com mecânica. Quando questionado sobre a atividade de mecânica percebeu-se seu entusiasmo com este trabalho. Também ao ser perguntado sobre se a família havia interferido na escolha do projeto, esclarece que seus pais nunca interferiram na escolha do projeto, mas declara varias vezes que o trabalho junto a propriedade tem algumas dificuldades. Fala do jovem: meu projeto lá eu tinha pegado pra fazê mecânica pesada, só que daí eles começaro de enrolação, daí dizia que não podia, tinha que ser mais focado na agricultura,daí acabei não fazendo nada[...] daí colocaro de vaca de leite, daí não vou mexe[...]daí eu fiz de vaca de leite, daí eu fiz estágio de mecânica[...] é que eu comecei fazê o estagio antes né,[...] daí eu falei pra eles[...] daí eles falaro que há não pode, [...] daí quase todo mundo só fez de vaca de leite[...] alguma coisa a gente aprendeu [...] eu gosto de plantá e colhe, só com equipamento, na enxada não[...] eu fiz o projeto daí era pra vir o diploma[...]mecânica agrícola maquina pesada [....] contribuiu a gente já lidava com isso, queria fazê revisão de máquina, regulage também[...] eu tenho curso de colhetadera, pulverização e plantio direto[...]. Perguntado se durante a elaboração do projeto de vida nas alternâncias se os monitores contribuíam e participavam das atividades. Declara que todos ajudavam a turma, no entanto considerou o projeto que desenvolveu negativo, pois não era aquilo que queria e não teve apoio do CEFFA para atividade que gostaria de desenvolver, e que gostaria de ter tido mais oportunidades de financiamentos para família. Quando questionado sobre o envolvimento da família com o projeto de vida, foram claros dizendo segundo o jovem, que não ocorreu poissó 103 ficaria na teoria. Fala da mãe “nois nunca tinha vaca, só uma vaquinha pra leite pro gasto [....]”. Fala do jovem,“ só falava que vaca de leite dava dinheiro[....], tipo uma moda, quando sai né[....] daí a negada qué tudo aquilo”. Evidencia-se dois aspecto interessantes, o primeiro em que a gestão da família muitas vezes deixa de contemplar o debate coletivo, isto reflete-se no êxodo rural, não importando o nível econômico da família, pelos jovens deixarem de encontrar no espaço familiar e educativo as respostas para seus anseios futuros. O segundo aspecto é que o processo de elaboração do projeto foi construído de forma que todos os educadores contribuíram, mas o jovem não tinha interesse em executá-lo, o que virou apenas uma atividade para atender aos preceitos da PA, que prevê a apresentação dos os projetos de vida para a conclusão do curso. No entanto segundo Gimonet (2007) a cada encontro, o alternante segundo sua própria ação retorna com uma vivência específica conforme suas ações e seus objetivos pessoais. Quando questionados sobre o envolvimento da família no processo de gestão do CEEFFA, eles relatam que sempre eram chamados para reuniões, mais especificamente, em torno de três a quatro vezes ao ano, onde na ocasião era debatido vários assuntos. Segundo eles, os resultados práticos foram poucos porque quando participavam eram meros espectadores e não opinavam, quando questionados por que não opinavam disseram que era porque achavam que não seria oportuno porque estava tudo bom para a família. Os mesmos esclarecem que quem tomava as decisões no CEFFA na época, era a Associação, e que seus membros na maioria eram da cidade, pessoas de referencia como vereadores e parceiros, mas tinha poucos agricultores de fato. A família conhecia na época todos os membros, mas atualmente não sabem, se distanciaram da CFR, não estando segundo eles mais inteirados da situação atual. Esclarecem que a forma que a associação atuava era positiva, porque não era fácil, segundo a mãe, trabalhar com um numero grande de jovens, todos com jeitos diferentes, e orientar, controlar as bagunças de todos e desenvolver as atividades de forma responsável. Fala da mãe: a associação, sei lá [...] eles falava que ia fazê [....] na época era a maioria da cidade [....] sei lá a gente quase nunca ia lá [....] acho que era mais positivo, eles tentavam, mais com tudo aquela piazada [...] á maioria dos piá que tinha lá era muito feróis [....] participava da assembleia, quando tinha reunião né,[...] era umas treis a quatro veis por ano [....] mais quando ia lá era mais do comportamento ,isso, aquilo, que ném , né, era quase como uma escola [....] não sei o que ele aprendeu, por que nem um cantero ele não aprendeu fazê, ele não gosta mesmo mexe com essas coisa, não adiante que ele já falô, gosta é de máquina e coisarada [....] ele não escrevia quase. 104 Destacaram que nas contribuições nos aspectos ambientais e econômicos o CEFFA pouco contribuiu. Na opinião da família o jovem acabou não sendo diplomado, e acham que pouco contribuiu para agricultura, a comunidade e para as famílias envolvidas. O jovem faz uma fala dizendo “mais ou menos, regular, época coisa a gente aproveito [...] era bão por que eles ajudava, tinha financiamento[...]”.Fala da mãe “ele foi lá né, mas não tinha o que ele queria né[...]”. Nestes relatos evidenciam-se situações que mostram aspectos centrais, a responsabilidade do CEFFA perante os ajustes e desajustes no campo psicopedagógico e na prática da PA, incluindo questões burocráticas influenciam no entendimento das situações sociais. Segundo Gimonet (2007) a alternância é uma pedagogia da partilha, mas é necessário observar uma abordagem geral dos problemas a resolver, isso leva a relações mais amenas que atualizam dolorosas esperanças escolares. Quando questionados sobre os momentos mais importantes vividos no CEFFA, declaram, primeiro momento foi a visita dos monitores na propriedade, pois veio ao encontro de suas necessidades. O filho então ingressou no CEFFA, segundo a mãe vincularam-se na associação, e os profissionais do CEFFA contribuíam realizando o que era de sua responsabilidade, as atividades normais do dia a dia. No primeiro momento, se empolgaram com as promessas, ai quando questionado quais seriam as promessas declararam em termos gerais que: “a organização de tudo” nas questões da forma de aprendizagem, no entanto segundo a família só aprendeu a “lavar a louça, lavar roupa e passar pano”. Fala da Mãe “eu não sei mas ele nunca coloco nada aqui do que ele aprendeu lá [...] ele sempre é das coisa mais jogada [...] lá so aprendia passa pano, lavá loça [...]”. Nestes relatos fica evidente que muitas famílias esperam do CEFFA, por sua dinâmica complexa, resultados imediatos, mas sua estrutura educativa sob a égide coletiva e formação integral contesta padrões educativos tradicionais, os quais deixam de traduzir a importância dos aspectos humanos e necessidades diárias. Nesse contexto que se observa que as relações de gênero emergem, porque o jovem mostrou que as ações domésticas desenvolvidas no CEFFA não teria muita importância da propriedade. Mas, a formação integral preconizada inclui tais aspectos, mas não apenas eles. Assim segundo a Rede de CEFFAs do Espírito Santo, no relato de experiências da Revista Formação por Alternância(2008) as tarefas de manter o ambiente no internato se tornam um instrumento importante para combater os preconceitos na divisão do trabalho. Segundo relatos, um segundo momento que marcou a relação com o CEFFA, foi um evento promovido para arrecadar fundos para manutenção da instituição, o jovem relata que 105 foi um bingo com jantar, onde todos os jovens contribuíram ajudando a trabalhar no evento como garçons onde serviram e arrumaram as mesas. Houve o envolvimento dos pais e monitores nas atividades gerais do evento. Fala do jovem “foi feito uma janta pra arrecada fundo [...] eu era garçom, ajudei servi [...]”. Este momento evidencia-se a pratica dos jovens nas atividades sociais não agrícolas que, diante do contexto parecem insignificantes para a formação, no entanto aproximam os jovens para outras realidades das quais não conhecem. Nestes momentos há o despertar para outras atividades, o que pode explicar o fato de que o jovem atualmente é garçom em um restaurante da cidade. Assim como trata Forgeard (1999) o CEFFA age sobre o desenvolvimento do meio, e que este meio se torna fonte de evolução do mesmo, que deve se adaptar de forma progressiva a novas realidades. Um terceiro momento segundo o jovem foi uma visita pratica na propriedade da monitora, onde foi observado atividade com horticultura onde o plantio de alfaces era a atividade principal. Na ocasião achou mais ou menos porque não sentia nem como positivo nem negativo, mas esclarece que os profissionais do CEFFA contribuíram com a compreensão da atividade. A família manteve vinculo com o CEFFA segundo a mãe apenas os três anos que o jovem esteve estudando neste espaço educativo. Fala do Jovem “fizemo visita nas alface da monitora [....] só queriam vista agricultor que tinha leite, não podia vê leite, era um foco grande pra eles [...] uma coisa grande [...]”. Evidencia-se a importância das visitas de estudo durante as alternâncias, pois oportunizam aos educando visualizarem possibilidades para diversificar suas propriedades e abrirem horizontes para comercialização e aumento da renda contribuindo com a dinâmica sustentável. Assim como fala Gimonet (2007) a visitas de estudo se tornam uma mediação para o trabalho pedagógico, como também para um diálogo no meio de vida. A família nº 11, (como demonstra no gráfico está em situação considerada razoável nos indicadores econômico e ambiental, no indicador social encontra-se em boa situação) as fotos a seguir, (Imagem 6) consentidas pela família, a entrevista foi feita em parte na casa com a mãe e parte na lavoura com o pai e o egresso do CEFFA. 106 Imagem 6 – Vista aérea da propriedade (11) - Dois Vizinhos – PR. Fonte: Heckler (2011). No primeiro momento, a mãe quando questionada sobre aspectos gerais da propriedade esclarece que a família reside na comunidade Mazurana há quarenta e dois anos e sua descendência é de origem italiana. A família é composta pelo casal e seus dois 2filhos jovens egressos do CEFFA - que ingressaram nas primeiras turmas. Quando questionada sobre as atividades desenvolvidas ela respondeu que eram: a avicultura com integração (Sadia); o plantio de grãos - o trigo, soja e milho. A atividade leiteira acabou sendo eliminada, pois segundo a concepção da família, ela prejudicava as lavouras pelo pisoteio dos animais, já que eram utilizada áreas de lavoura para o piqueteamento de pastagens. Mas ressalta que a propriedade é diversificada, pois trabalha também com a atividade da fruticultura. Há nessa propriedade a rotação de culturas associadas aos grãos e a avicultura integrada, dentro do modelo convencional de produção, o qual pode ocasionar esgotamento da fertilidade do solo, com uso de agrotóxicos, entre outras práticas técnicas. No entanto, observa-se uma tendência a diversificação, o que pode ser um esforço no rumo da sustentabilidade. Como já tratado no I capítulo, segundo Almeida e Navarroapud Schmitt (1995), ter a noção de sustentabilidade, demonstra uma premissa fundamental que é o reconhecimento da “insustentabilidade” do modelo vigente, ou seja, inadequados padrões econômicos, socais e ambientais. Respondendo a questão sobre como ela avaliava o processo de gestão do CEFFA, diz que sua família participou na gestão desde a construção do plano de formação junto com a equipe do CEFFA, pois todas as famílias eram chamadas para escolher os temas a serem desenvolvidos. Segundo ela, eram as mulheres, as mães, que haviam assumido o conselho de administração no período de 1998 a 2004, sendo que a mesma fazia parte como tesoureira. Na ocasião, segundo relata, eram pensados dez a quinze temas técnicos e expostos no quadro, e em assembléia escolhia-se os que tivessem maior aceitabilidade pelas famílias que faziam 107 parte da Associação. Relata também que esse debate se realizava duas a três vezes no ano, abrangendo outros assuntos e onde se trabalhava a partir das demandas e necessidades que havia sido discutidas no CEFFA. Fala da mãe: sim, quando tinha alguma coisa tipo assim, deis quinze assunto a gente se reunia, os assunto que todo mundo achava de mais interesse, mais importante, sempre foi discutido tudo junto [...] dái escolhia um assunto aprofundavam aquele, segundo plano, tal coisa, assim ia [...] primero os professores e monitores, depois chamava a diretoria, as famílias[...] a gente não entendia muito da coisa né, daí eles tavam junto [....] no meu tempo sempre era tudo junto, eles avisava vinha bilhetinho.[...] na minha época a gente correu atrás de patrocínio ,uniforme, no começo a gente nunca tinha feito isso, mas graças a Deus deu tudo certo [...]. Fica evidente, duas situações, uma da participação assídua da família na gestão do CEFFA, e outra do envolvimento das mulheres na gestão. Ao mesmo tempo em que as ações dos gestores do CEFFA estão coerentes com seus preceitos, como vimos no capítulo II, as mulheres se envolvem no processo coletivo emergindo as questões a cerca de gênero. Portanto, como discute Gimonet (2007) a associação é um espaço que proporciona a promoção das pessoas e da ação social para o desenvolvimento e que a ação do conselho de administração é essencial. A mesma comenta que na época foi assídua em todas as articulações e reuniões da Associação, porque quando assumiu com a equipe o CEFFA estava em situação problemática. Quando questionada sobre quem de fato decidia sobre o funcionamento da CEFFA, foi clara dizendo que em primeiro lugar era a equipe de monitores, depois as famílias, mas todos apoiados pela Associação, enfim todos juntos tomavam decisões. Ressalta que sua família sempre estava envolvida com os acontecimentos, destaca que a comunicação era através de bilhetes que os filhos traziam quando retornavam das alternâncias. Fala da mãe mas acho que tudo assim foi bem interessante, aí tinha umas coisa que eles tinham que aprofundá, sabe, leite, lavora,[....].nas reunião eu ia [....] Tudo junto na assembleia, tudo meio engajado, quando marcava reunião, geralmente todos tava presente, os monitor, em tudo que eles podiam elas davam assistência, quando nois tinha dúvida chamava eles, e faziam visita[...] acho que estes momentos eram mais positivos, nossa, tinha cursos e palestras, eles davam muita atenção, as família sempre em primeiro lugar, as família que estavam lá [....] e também nas visita, se tinha um aluno que queria disisti ,eles incentivava muito, convidava a gente pra i junto né,[....] pra mostra que lá dava resultado, que lá realmente a coisa acontece [...] a gente sempre procurava por em pratica[...],coisa que a gente fazia de um jeito, tinha outra que era melhor, em tudo quase 108 a gente tiro muito proveito [...] sempre foi procurado diversifica[...].da fonte a gente sempre cuido [...] pra nois foi tudo bem, já que tava participando. Fala orgulhosa que conseguiram na época recursos junto ao poder publico municipal para aquisição de agasalhos, uniformes para os jovens e ela sempre acompanhava os monitores em todas as ocasiões. Continua seu relato dizendo que sempre participava das atividades do CEFFA, ela e os filhos. Quando questionada sobre a influencia de sua opinião sobre o contexto do CEFFA, esclarece, que sua sugestão sempre era considerada pois em uma ocasião pediu para que os monitores colocassem cartazes nas paredes do CEFFA, com mensagens educativas, e foi atendida prontamente pela equipe. E quando perguntada para avaliar o processo de gestão declara que era muito positiva em alguns aspectos, no entanto as questões negativas era a baixa participação das famílias, tinha poucas famílias que queriam se envolver no processo. Fala da mãe: sempre que a maioria concordava quem dava a sugestão conversava [...] as veis na assembleia faltava bastante gente, aí fazia uma nova [...] nunca a gente disse não para uma ideia, vamo vê se todos concordam [...] um dia que a gente mexeu, vamo coloca cartaz nessas parede [...] as veis tinha que fala com o prefeito, aí vamo embora, se deu, se não deu valeu a pena [...]. Evidencia aqui que de fato, as famílias que estavam diretamente envolvidas na gestão e participavam em todas as atividades, dando respaldo ao processo educativo, no entanto, as famílias que se distanciaram das atividades relacionadas a formação de seus filhos, acabaram tendo mais dificuldades de participação. No entanto, Marrirodriga e Calvó (2010) ressaltam que deve haver um plano anual para que a função educadora da família seja pautada, através de metodologias ativas tratando das relações familiares. Ao ser indagada sobre a contribuição do CEFFA nas questões econômicas e ambientais, relata que foram muito importantes para a propriedade, pois obtiverem maior renda. Em todas as atividades que desenvolviam na época, eram orientados sobre os cuidados com doenças e parasitas nos animais e plantas, pois a assistência técnica dos monitores foi fundamental para melhorias em sua propriedade. Quando perguntada se o CEFFA proporcionou resultado para as famílias e a comunidade declara: 109 negócio de lavora, assim, nossa ajudo muito, foi mudado bastante coisa, como os animais também [...] sempre eles tentavam aplica o que eles aprenderam [...] devagarinho na medida do possível a gente sempre ia melhorando [...] o Fernando na época fez um curso de colhetadera[...] hoje na verdade fala bem a verdade, a comunidade ta meio morta, eu sempre disse assim que a Mazurana tem muita gente com cabeça de rico né, [....] nos assim aqueles que forma lá, entre eles sempre continuo, as pessoas simples, e sabem da valor ao trabalho, eles continuam valorizando, os meu, sempre tavam na festa da comunidade ,nos participava da diretoria, o filho vai entrega final do ano [...], e segundo salienta, nas questões sociais os jovens que passaram pela pedagogia da alternância tem uma intervenção maior na comunidade com cargos nos esportes, nas participação em atividades tradicionalistas como cavalgadas, torneio de laço etc... Evidencia-se nos relatos de que os reflexos da formação técnica se tornam claros no meio de vivencia dos jovens, eles incorporam o processo de alternância, incluindo a participação das famílias no contexto comunitário, mesmo predominando as preocupações com os aspectos econômicos e produtivos. Segundo Begnami (2006) a alternância permite a manutenção e ações dos vínculos familiares e comunitários. No entanto como trata Touraine (1994) o mundo moderno exerce sobre os indivíduos, suas ações e comportamentos mudanças importantes. Dentro delas, permite conceber e sentir que a história pessoal de vida, inclui o reconhecimento como sujeito ator. Nesse sentido, a participação familiar é fundamental para a construção das sociabilidades e a emergência do sujeito ator. A mãe quando questionada sobre os dois filhos egressos esclarece que um implantou o projeto de fruticultura, reside e trabalha com a família na propriedade. O segundo implantou a o projeto de bovinocultura Leiteira, que foi extinta pela incompatibilidade com a lavoura, no entanto este jovem reside na propriedade e trabalha num abatedouro no meio urbano. Fica evidente que uma propriedade com dois jovens egressos do CEFFA, e a efetiva participação da família e dos filhos nos trabalhos e na gestão desta instituição, tragam avanços e clareza sobre o papel dos filhos no meio de vivencia, no entanto, foram dois projetos de vida que deixaram de ser consolidados em seus propósitos iniciais. Isso significa duas situações importantes: uma referenciada no fato de que objetivamente as condições materiais como a restrição da área da propriedade que pressiona para a escolha entre lavoura ou gado leiteiro e a necessidade de renda monetária; e outra porque o contexto da modernidade, segundo Leão e Freitas (2004) reflete-se nas subjetividades juvenis, com colaboração da mídia, levam os jovens a assumirem novos estilos de vida e consumo, o que conduz ao trabalho externo à propriedade familiar. Segundo salienta a mãe, todos os membros da família, no momento da inserção no CEFFA, mantiveram-se engajados com os trabalhos contribuindo com os monitores, porque eles envolviam-se também em todas as atividades da propriedade. Quando questionada sobre 110 aspectos positivos e negativos no CEFFA, a mesma ressalta que foi um período muito positivo para a família pelo acesso à informação e conhecimentos, resultando em melhoramento com a horticultura, o tratamento com as criações, vacinação, rotação de culturas da lavoura, aproveitamento de alimentos, compotas, etc. Os negativos estavam vinculados à falta de participação de todas as famílias: Acho que os curso que a gente tinha lá, tinha um monte de coisa que a gente eliminava, não aproveitava né, mas em outros curso, nossa foi muito proveito [...] a gente teve de gado de leite, de horta de frutas, de enlatados, de conservas [...] mais os menino que fizeram curso [...] vinha gente de fora [....] os monitor sempre tavam presentes, cuidando de tudo [....] eles davam também curso na área deles.” “ Tinha de negativo, que tinha famílias que não gostava de participa, mesmo conversando, incentivando, tinha sempre aquelas famílias, que não dava importância [....]. A mãe continua seu comentário que na maioria das vezes ela que participava dos cursos, alguns foi o marido, e também os filhos. Ressalta que os promotores destes cursos eram os monitores e os técnicos do SENAR, com palestras em suas áreas específicas. Fica evidente que o CEFFA, em sua metodologia, possibilita o acesso da família e envolve outros atores e instituições externas, o que vem somar na construção gradativa da educação dos alternantes. Assim como declara Gimonet (2007) o valor das intervenções externas, são as descobertas, as diferenças que acontecem, os esforços de testemunhos, as atitudes dos que acolhem. Um terceiro momento que foi muito importante foram às visitas de estudo e intercâmbios com outros CEFFAs da região, onde todos da família eram convidados além dos jovens que frequentavam outras turmas, a Associação e monitores. Essas atividades eram positivas porque promovia o conhecimento de outras realidades segundo declara. Fala da mãe: as viagem fora , eu não participei muito [...] mais, ia , mais eu do que ele (marido) [...] o monitor sempre ia e sempre convidava um pai e uma mãe pra i junto [...] uma outra coisa boa que acontecia, era ajuda, a facilidade de adquiri as coisa da sociedade, quem estudo na casa, tipo aquelas muda de arvore, mais fácil pra consegui as coisa, financiamento a longo prazo, plantio, e depois com a colheita paga , isso ai ajudo muito né[...]. Um quarto momento foi uma viagem de lazer realizada para o balneário do “Alagado” para um final de semana com os jovens. Segundo relata orgulhosa, foi muito interessante, pois era novidade para maioria dos participantes que eram os filhos estudantes e 111 a mães, as quais faziam parte da direção e contribuíram com os monitores nas atividades e responsabilidades do acampamento. Quando questionada sobre quanto tempo durou a relação com o CEFFA, ressalta, durou o período que os filhos estiveram em formação, após houve troca da diretoria e assumiram outras pessoas. Evidencia-se pelas falas que a possibilidade de intercâmbios despertam porque aparecem como novidades que oportunizam refletir sob outras situações, conceitos, práticas de sua família e comunidade. Faz com que os agricultores familiares manifestem seus valores e sua autoestima, quando deparados com situações muitas vezes adversas, ou com condições mais confortáveis, evidenciando as possibilidades e limites da sociedade capitalista, que é desigual e que requer enfrentamentos que sejam coletivos. Segundo Gimonet (2002) vencer se torna a palavra chave para o desenvolvimento, para isso precisa condições de motivação e autoconfiança para envolver-se em uma rede que conduza ao sucesso. Durante a entrevista com o jovem egresso durante a colheita de trigo ele respondeu a indagação sobre quais foram os motivos que o fizeram escolher a área de fruticultura, dizendo que optou porque na época, ele realizou uma visita de estudos na propriedade de um colega da turma, onde a atividade frutífera era alvo principal da investigação. Naquele momento, houve o despertar para a atividade de fruticultura, pois a demanda para o consumo era promissora, segundo os debates sobre a atividade. Segundo tratado anteriormente por Gimonet (2007) é importante o papel complementar, o fomento de encontros que promovam a transformação das descobertas em ações e experimentações. O jovem egresso declara que obteve financiamento do Pronaf jovem de seis mil reais e adquiriu trezentas mudas de citros, de variedade montenegrina. Segundo ressalta, na ocasião teve acompanhamento frequente e incentivo dos monitores nos três anos que permaneceu no CEFFA, principalmente na fase de implantação diretamente no plantio e organização da atividade. Quando perguntado sobre a participação da família no seu projeto de vida, deixou claro que todos da família se envolveram e apoiaram, considerando um nível ótimo de participação. Fala do jovem eu fui da terceira turma ou quarta turma, eu fiz fruticultura, a gente pego na escola, na Casa Familiar, pegamo daí cada um fez alguma coisa, elaboramo projeto pra i pro banco pra aprova, área, plantio, quantidade,[...] aquelas cercada, era montenegrina [...] na verdade fui mais eu que queria [...] eu peguei um pedaço que tinha ali, conversei com o pai né [...] eu acompanhei la no Ficha, não lembro a comunidade dele, daí achei interessante, a gente foi faze um dia de campo né, um negócio assim [...] acho que ele foi 112 da segunda turma, até acho que foi a primeira turma que fez projeto de vida, já feis pra da uma alavancada, mostra que ia da certo. Evidencia-se aqui dois fatores importante de impulso a prática dos anseios do alternante, um é o sentido de autonomia e autoestima na conquista por recursos públicos para efetivação dos sonhos. Outro fator interessante que vem de encontro as premissas da PA, é o apoio da família e a ação positiva do CEFFA, presente neste momento fundamental de efetivação do projeto. Assim segundo Santori (2008)jovens com até cem horas de formação técnica tem o direito de acessarem as políticas públicas voltadas a este público específico, atendendo necessidades das comunidades locais. Como já tratado no II capítulo, por Marrirogriga e Calvó (2010) as famílias com objetivos em comum, promove a motivação e contribui de maneira efetiva com seus filhos. Quando perguntado sobre os resultados de seu projeto, relata que atualmente está com todas as frutíferas bem cuidadas, porém após a colheita realizada, seu aproveitamento é somente para consumo da família, de forma in natura e alguns derivados como geleias, doces e sucos, o que enriquece a alimentação familiar. Quando questionado sobre quais seriam em sua concepção os pontos negativos ou positivos desta escolha, esclarece que atualmente observa como negativo o fato de que esta atividade exige acompanhamento frequente, com poda e cuidados no manejo. Como pontos positivos foram a possibilidade de diversificação da propriedade e o exemplo para outros jovens agricultores. tanto é que hoje a gente nem vende [...] é mais pra consumo [...] de minha parte acho que faltava um poco de interesse dos alunos mesmo [...] eu o pai e meus irmão tudo correram atraz mesmo [...] por que agrega valor na verdade [...] a gente não vende então acho que não seria isso [...] minha opinião o ponto negativo é que a questão do nosso tempo pra fica encima ali, a gente mexe mais com lavora, aí não sobra tempo pra se dedica aí pra venda, o ponto positivo que achei, foi saber que valeu a pena faze o projeto, os próximos alunos pra quem tem um terreno mais pequeno, uma renda mais baixa, um projeto assim sempre ajuda[...]. Nas declarações acima podemos evidenciar ações e concepções da família bem claras, a importância da diversificação na propriedade como já evidenciado, e outro fator importante que emerge a dificuldade de certos agricultores familiares incorporarem ações capazes de enfrentar as relações comerciais e, por fim, as questões vinculadas a limitação da mão de obra familiar. No entanto como trata Bondan (2010.org.ZONTA; TREVISAN; HILLESHEIM), a diversificação na agricultura familiar é importante para seu 113 desenvolvimento, combinada com diversificação de locais e formas de comercialização, como também, com a introdução de outras fontes de renda, mesmo que seja de renda não agrícola. Importante lembrar que, segundo o relato da mãe, o jovem egresso havia chegado a poucos dias de Curitiba onde permaneceu durante dois anos trabalhando na empresa Coca Cola. Quando questionado o jovem sobre quais seriam os motivos da saída e retorno à propriedade, o mesmo declarou que foi em busca de melhorias e de seus planos futuros, no entanto, por motivo de desentendimentos na empresa ele retornou a propriedade da família. Perguntado sobre como avaliava esse envolvimento em duas situações diferentes - vida na grande cidade e no meio rural - ele com ares de desabafo, foi incisivo dizendo que se perguntou varias vezes se teria sido a melhor escolha, diz ele: “acho que a forma de trabalha com as coisas [...] quando voltei de Curitiba pensei, o que fui faze lá [...] há aqui é um sossego, aqui tem muita coisa é bem mais tranquilo, se tá em casa, lá tu depende de tudo, paga tudo que for faze, tem que pagá, aqui tu tem teus bicho, tua horta, fiquei dois ano é puxado!”. Declara ainda, que o mundo de adversidade do espaço rural em relação ao urbano, só dá para compreender passando por esta situação, pois aspectos como, custo de vida, stress, tumulto e movimentação, agitação, exercem fortes pressões. A família nº 5 entrevistada, como demonstrado no gráfico2 está em situação considerada razoável em relação aos três indicadores, social, econômico e ambiental. A foto (Imagem 7), esta representada pela vista parcial da propriedade. Imagem 7 – Vista aérea da propriedade (5)- Dois Vizinhos – PR Fonte: Heckler (2011) Primeiramente, quando perguntado ao pai do jovem egresso por quanto tempo a família residia nesta propriedade, na comunidade Mazurana, declarou que em torno de quarenta anos e que a família era composta pelo casal, e seus 3filhos. Sobre quais eram as atividades desenvolvidas na propriedade e o tamanho da área, esclareceu que a família tem 114 uma pequena área de três alqueires onde desenvolvem principalmente a atividade de bovinocultura leiteira e trabalham com a atividade de horticultura. Sobre a trajetória da família em relação ao CEFFA, declarou que seus dois filhos moços foram alternantes, ingressaram nos anos de 2008 e 2010. Um de seus filhos frequentou os estudos no CEFFA até sua conclusão, o outro acabou desistindo no segundo ano. Quando perguntado se o projeto de vida foi executado pelo jovem que concluiu os estudos, responde que o projeto de vida em Bovinocultura Leiteira foi financiado pelo Pronaf jovem no valor de seis mil reais, onde adquiriu algumas matrizes leiteiras para melhorar o que já possuía, e também investir no melhoramento de pastagens. Fala do Pai “meu filho pego um financiamento aquele do jovem [...] aí eles garantiram uma coisa ai, eu soltei um cheque, pra duas vaca, daí demoro muito [...] as vaca nóis da família queria [...] o pobrema aqui é se tiro o bovino de leite, se quebra tudo [...] porque a propriedade é pequena”. A importância e necessidade dos recursos financeiros são evidentes. O jovem lidar com o processo de financiamento e gestão desses recursos é um aprendizado que promove responsabilidades. Como diz Santori (2008) na construção de políticas públicas, os jovem podem contribuir com suas experiência para a consolidação de demandas gerais para os jovens agricultores familiares, buscando minimizar restrições. Quando perguntado sobre o acompanhamento do CEFFA na propriedade, o pai saliente que com visitas de estudo que o CEFFA realizou com os jovens no Campus da UTFPR de Dois Vizinhos, contribuiu muito para o bom andamento e melhoramento da atividade leiteira. O pai satisfeito declara, atualmente está sendo a atividade que mantém a propriedade, pois a renda mensal possibilitou melhorias na infraestrutura e nos equipamentos. Quando perguntado sobre as praticas e assistência do CEFFA para a propriedade, esclarece que na época os monitores estavam permanentemente na propriedade, pois a família produzia verduras e legumes para entregar na cooperativa (COAFAR) comercialização para PNAE fundada pelo CEFFA. Estas ações vêm, como já tratado, de encontro aos preceitos do CEFFA, como reflete Calvó (2002), os recursos de cada território devem ser valorizados pelos agentes locais, e devem ser base das novas atividades geradoras de emprego e renda. Quando questionado sobre o acompanhamento da família aos jovens, o pai declara que sempre acompanhou os filhos e tinha o CEFFA como uma referencia, e estava sempre participando em todas as atividades propostas, declara com convicção quando o primeiro filho se formou, permaneceu em contato direto, pois era membro da cooperativa. Quando perguntado sobre o outro filho o pai com ares de desconforto declara, que ele e seu segundo filho, um ano antes de concluir o terceiro ano, ambos se afastaram do CEFFA. Os motivos, 115 ele foi enfático em afirmar que estavam relacionados ao processo eleitoral do governo municipal, porque o prefeito que assumiu ocasionou grande mudança no CEFFA, com troca de funcionários, e de toda a equipe, resultando com essa “reviravolta” a desistência do filho e de seu próprio afastamento. Afirma que esse afastamento repentino é por causa de questões políticas que são um grande problema, pois acabam enfraquecendo os trabalhos do CEFFA. Fala do pai: foi abandonado depois que mudou tudo aquilo lá [...] na política [...] era sempre bom eu era sempre bem tratado [...] quando mudo a direção, daí eu não acompanhei mais [...] se hoje me pedí da Casa Familiar, não sei se ta existindo ,nunca mais fui la [...] era uma vez nois vendia verdura lá [...] nois tinha até um tipo mercadinho lá, montemo uma cooperativa com a prefeitura, nois plantava bastante moranguinho [...] e daí viro uma bagunça, depois que mudo o prefeito, mudo todo mundo la dentro [...] fosse lá querê uma coisa, um mandava pra lá, otro mandava pra otro lado [...] tava tudo meio perdido [...] quando ia meiorá mesmo valendo, daí deu essas bagunça [...] eles não poderia fazê isso aí, política é política, aquilo lá era uma coisa séria, não podia envorve política numa Casa assim, [...] porque ali tinha varias família, e tem família de vário partido, não é por isso, mas termina a política, tem queterminà tudo, vamo dexa trabaiá quem qué trabaiá, mas tem gente que não pensa assim. Os conflitos no campo político, que por mais necessário e complexo que seja ele tem direta influencia social. Segundo Nosella (2007) quaisquer atividades intelectuais, orgânicas ou tradicionais, contem um compromisso político que pode ser revolucionário ou conservador, dependendo de seu conteúdo ou método. Como trata Corona (2006) a participação social é uma estratégia de reprodução social que passa pela liberdade de decisões, pelo controle das atividades e de sua representatividade. Mas, também, está relacionada com as necessidades concretas das pessoas e grupos sociais, que motivam para a participação em organizações e entidades. No caso desta família, fica evidente que as necessidades concretas motivavam a permanência dos vínculos do pai e filho com o CEFFA (estudo, vivências, cooperativa), mas as limitações no campo da participação, representatividade e controle das atividades pelos diretamente envolvidos na cooperativa e na equipe do CEFFA, bloqueia a possibilidade da permanência deles no CEFFA. Quando questionado sobre qual era o projeto de vida do filho desistente comenta que seria também na horticultura ou bovinocultura leiteira, mas o afastamento gerou sua impossibilidade de prosseguir com seu planos. A família na época também realizava entregas semanais de verduras para cooperativa, mas parou com este trabalho, pois ficaram desanimados. 116 Quando o pai questionado sobre projeto de vida do jovem que se formou no CEFFA e efetivou seu projeto, esclarece que esse contribuiu muito com a família, pois a renda mensal do leite e questões de economia familiar foram fundamentais e também na questão social dos jovens porque tornaram-se mais desinibidos, mais inseridos socialmente. O pai reforça dizendo que o projeto para a família só teve pontos positivos foi muito bom. Fala do pai: “[...] nois já tocava umas vaquinha, foi só pra aumentá o plantel [...] tudo vai pra frente [...] dinheiro mensal, só foi po lado bom negativo não tem nada [...]”. Este relato evidencia que os projetos de vida são fundamentais e refletem todo sentido educativo de interferência nas propriedades, pois o jovem ao assumir seu lugar no espaço, no meio de vivencia, desperta a família para suas possibilidades e propósitos, segundo Gimonet (2007). Quando questionado sobre o processo de gestão do CEFFA, esclarece que não foram chamados nos momentos de definição do plano de formação, só participaram nas atividades desenvolvidas nas visitas a UTFPR- Campus Dois Vizinhos. Fala do Pai: eu não dava ideia, mais nessas ideia, sempre tem aquele espertaião, e sua idéia é meio, eu já so daquele mais grosseirão [...] porque eles se reuniá lá [...] depois que colocava no papel [...] você tem que concorda e pronto [...] nessas coisa é sempre um e outro que puxa e os outro vão atrais [...] que tocava mais era a direção [...]era médio pois pra gente tudo era bão. Quando questionado sobre o processo decisório, ele comenta que era a Associação que definia e estava por dentro de tudo, que a diretoria da época era atuante, mas pouco se relacionavam com o presidente da Associação, e segundo ele, as assembleias da associação aconteciam uma vez ao ano, e durante as reuniões nunca opinava era somente espectador, pois definia seu perfil como somente de escuta e analises. A avaliação da gestão da época pela família é “média”, pois declara: pra gente tudo era bom [...]”.Porque, na ideia deles era forma aqui, pra continua na UTFPR, e daí tinha o caminho aberto, e daí tem piazada que não que nada com nada né [...] eu disse pra piazada, que voceis faça o que acha melhor, por que depois o pai deu uma ideia e não deu certo, voceis vem pra cima deu. 117 Segundo o pai as condições da família melhoraram muito depois da interferência da CEFFA, nas questões econômica e também ambientais, pois foram implantados áreas de reflorestamento de eucaliptos adquiridos sem custo. Quando perguntado sobre os momentos que mais marcaram a trajetória da relação com o CEFFA, esclarece que o primeiro contato com o CEFFA foi em 2009 no ingresso do primeiro filho. Ele, juntamente com outro agricultor foi conhecer as dependências da instituição e neste momento optou tanto por matricular seu filho no CEFFA como iniciar a produção de verduras e moranguinho para entregar na cooperativa de comercialização. Os filhos contribuíam na produção e os profissionais do CEFFA, o que era muito positivo, contribuíam nas entregas e na organização da produção. Avalia como negativo as questões políticas. Fala do pai: por que uma veis eles tava querendo faze um grupo, dái o problema que os pai dos aluno não se entendiam, eles queriam vamo supor, que se eu prantasse dois arquere de mio, e os outro prantasse também, nois fosse compra tudo os adubo junto, num bolo, imagina ninguém se entende, o povo não se entende nesse tipo de coisa, que tudo ganha, não é eu que vô ganha, nem você, é tudo nois ia ganha, é cada um pro lado, [...] o que correram atrais disso, reuniro povo,o povo não se entende, é cada um pra si e larga mão [...]. O segundo momento que marcou esta trajetória foi quando seu primeiro filho iniciou o segundo ano de estudo, porque ele participou dos cursos desenvolvidos pela CEFFA, nas áreas de bovinocultura leiteira e seus derivados e do curso sobre orgânicos. Comenta que no momento da realização dos cursos somente as famílias participavam e os profissionais do CEFFA só organizavam e apoiavam os técnicos do SENAR. Ele relata entusiasmado que este foi um momento avaliado pela família como positivo, pois a praticas leiteiras forma aperfeiçoadas e melhoradas. Fala do pai: vinha gente de fora, com que é do Senar, eu não lembro nome a professora vinha um de Pato Branco,[...] por que lá nois fazia muito curso,[...] vários curso, foi feito curso de bovino, essas coisa tem muita coisa boa lá [....] foi feito curso de orgânico, foi feito tudo, o que nois aprendeu lá[...]”. O terceiro momento que marcou foi a formatura e ao acesso ao diploma, toda a organização e o evento com todas as famílias uma grande confraternização. Evidencia-se 118 novamente que as intervenções externas reforçam a PA, e reforça a reflexão de Gimonet (2007), de que reunir e manter espaços aglutinadores e gerir diferentes meios de acesso ao saber, são fundamentais. Questionado sobre quanto tempo durou a relação com o CEFFA, ele declara que durou cinco anos, pois era um trabalho serio para ajudar as famílias pobres. Quando perguntado sobre se o filho egresso formado pelo CEFFA estaria tocando seu projeto de leite, ele comenta que faz um ano que o filho saiu da propriedade e foi trabalhar na SADIA. Segundo o pai isso ocorreu pela pequena área da propriedade e foi enfático em dizer “eles os jovens de hoje querem salário, e nos finais de semana não ter compromissos com os trabalhos da propriedade”. Seu filho reside no meio urbano de Dois Vizinhos, mas segundo o pai ira voltar a morar na propriedade para se livrar do aluguel, pois o custo de vida no campo é bem menor. Meu filho mora na cidade, vai mora aqui, falei, você paga aluguel home, tão pertinho vem mora pra cá, home mora debaixo do porão, escapa do aluguel [...] faz dois ano que foi trabaiá na Sadia, mais ele vai continua trabaiando lá, aqui a propriedade é poca [...] piazada que salário [...] ele não gosta muito de vaca de leite, é que eu falo pra ele que não adianta fica investindo em vaca de leite se não tive quem cuide,eu quando fica veio, não vô tira leite, só votirá até uma artura [...] um o outro depois vai te que cuidá isso daqui [...] vende, não vendemo, mas [...] ganha salário de seiscentos e setecentos pila, passa fome se bobiá, aluguel, mais agua e luz, mais comida, pó pará. Fica evidente que no meio rural, a família e o lugar representam aconchego, economia, segurança, no entanto, esta percepção acontece pelos próprios sujeitos do campo após o contato direto com outros espaços que deixam de proporcionar este estado de conforto. Como trata Freire (1987) no II capítulo, a importância da ação-reflexão-ação, conduz os sujeitos a superar as contradições e a visão ingênua do mundo que os cerca. Quando perguntado sobre seu filho que não acabou o curso, declara que ele está atualmente na propriedade tocando a atividade leiteira do projeto de vida do irmão formado. O jovem fez-se presente no debate e quando questionado sobre os estudos e como era a vida no período que estava no CEFFA, declarou que gostava muito, mas quando trocou de equipe e direção as exigências foram exageradas e ele não suportou mais. Atualmente não está estudando e nem pretende estudar porque quer permanecer na propriedade com a família. Refletindo sobre essas questões, o pai foi claro em dizer que, os tempos mudaram muito e que a juventude tem inspirações muito diferentes que as de antigamente, que preferem estar em trabalhos leves pouco exigentes e serem bem remunerados. Desabafa, nós como pais 119 se torna difícil administrar essas novas tendências que surgem na sociedade, a área de terra que é da família ficará para os filhos e que eles devem zelar pelo patrimônio conquistado com muito suor pelos seus pais. Continua dizendo que as famílias na agricultura passam por muitas situações em que pessoas visitam a propriedade e tentam influenciar para questões políticas e até investimentos altos para melhoria das condições de produção, mas que segundo seus próprios cálculos, algumas coisas se tornam inviáveis, pois além da subsistência da família a da renda, deve contemplar outros gastos básicos como energia elétrica e outros. Declara que se eles se deixassem influenciar estariam em uma situação mais difícil, porque as novas tecnologias muitas vezes levam os agricultores a falência. Fala do pai: “as pessoa tão muito individualista [...] tem muito que pensa no salário, mas não qué serviço, eu se precisa virá uma pedra, pra ganha um real, eu vo lá e faço, mas eles quere ganha um real, mas quere dexa a pedra no memo luga [..]”. Fica evidente com estes relatos que os agricultores sentem na pele as transformações que a modernidade traz: nos aspectos de extensão rural, nas questões de políticas partidárias e públicas, nos contrapontos das novas gerações, no sentido de pertencimento, nas transações comerciais, nas questões de gestão administrativa, na perca de autonomia, enfim tantas situações emergem que se sentem indefesos e inseguros perante as pressões do mundo capitalista. Conforme esclarece Chayanov (1924, p.483-485). a exploração camponesa familiar tem de tirar partido da situação do mercado e das condições naturais, de molde a assegurar à família um equilíbrio interno compatível com o máximo bem-estar possível. [...] Assim, o cálculo aritmético objetivo do lucro líquido mais elevado possível, numa data situação do mercado, não faz com que tal iniciativa econômica seja aceitável ou não. Tal iniciativa será determinada pelo confronto econômico interno de avaliações subjetivas. Entra-se, todavia em linha de conta com as condições objetivas particulares de unidade econômica. Seguindo a análise em torno do CEFFA, abaixo a próxima família entrevistada (n° 1), que na ocasião estavam presentes a mãe e o filho egresso, havendo a permissão dos mesmos para a utilização de fotos (Imagem 8).De acordo com o gráfico2 está em situação considerada razoável em relação aos três indicadores, social, econômico e ambiental. 120 Imagem 8– Vista aérea da propriedade (1) -Dois Vizinhos – PR Fonte:Heckler (2011) Quando questionados sobre quanto tempo residem na comunidade Mazurana declaram que a vinte e dois anos e que o tamanho da propriedade seria uma área de cinco alqueires. Quando questionados sobre quais atividades seriam exercidas pela família, comentam que sua atividade principal é a Bovinocultura leiteira e a silvicultura. Os membros residentes são a mãe e seus 2 filhos mais novos, sendo que a família é de origem italiana. Quando questionada sobre a trajetória da família em relação ao CEFFA, a proprietária comentou que por muitos anos eles trabalhavam de boias frias e quando seus filhos ingressaram no CEFFA tiveram uma nova perspectiva em trabalhar com a propriedade que já pertencia á família. Comentário da mãe: tenho quatro pias os quatro estudaram lá, os monitor vieram aqui e fizeram as proposta, as proposta que eles fizeram era como a gente gostaria que fosse né [....] o que eles ia aprende lá é para benefício da propriedade [...].naquele tempo eu era secretária da diretora da casa [....] quem mais vinha era os monitor, os agrônomo [....] fosse a gente procura a gente não ia, e eles se destacavam bem aqui [...] fizeram uma porção de coisas, eles deram bastante incentivo, bastante apoio deles, bastante coisa que nois podia ter feito só que a terra não tava no meu nome [....]. Relata que seus quatro filhos passaram pelo CEFFA, onde tiveram muitos conhecimentos, o primeiro a ingressar teria falecido à alguns anos, um segundo está trabalhando em uma empresa na cidade, porem o mais novo permanece em casa e seu projeto de vida foi bovinocultura leiteira. Ele adquiriu financiamento para melhoria de pastagens e aquisição de algumas matrizes leiteiras. Quando perguntada sobre os projetos dos outros filhos, declara que o mais velho com seu outro irmão fizeram projetos em horticultura, e implantaram na época estufas através de financiamentos, para o melhor desempenho na atividade, com escala e produção fora de 121 época. No entanto, segundo a mãe, com ar de tristeza coloca que as intempéries, temporais, provocaram estragos irreversíveis, onde este fato contribuiu para o abandono da atividade. Segundo a mãe foram procurar outras atividades fora da propriedade. Evidenciam-se duas situações distintas, a primeira é que a família primeiramente trabalhava como boia fria, mesmo possuindo uma área de terra e quando houve o ingresso no CEFFA deixaram a atividade e visualizaram um potencial de trabalho e renda em sua própria propriedade. Uma segunda situação é sobre o abandono repentino de projetos por motivos das intempéries naturais. Todas estas evidencias demonstram a complexidade do contexto social, ambiental, econômico e educativo, pois se refletem em situações que podem modificar a dinâmica da agricultura familiar. Assim, como trata Forgeard (1999) o CEFFA e o meio se servem mutuamente, e de maneira progressiva se adaptam: da agricultura à diversificação; da diversificação ao rural; do rural ao urbano; permitindo um êxito por caminhos diferentes pelo desenvolvimento. Como diz Gnoatto (2006) a educação rural, sendo aquela que parte da necessidade de estar diretamente ligada ao meio, procura soluções para problemas evidenciados. Já, Gimonet(2005) declara que mesmo os projetos fracassados permitirão análises críticas que permitem uma assunção das suas responsabilidades que traduzem novas vontades. Nesta perspectiva Morin (2004) reflete sobre os pensamentos que deve guiar-se para reconhecer as oportunidades de risco e ao mesmo tempo o risco das oportunidades. Quando a mãe questionada sobre seu filho mais novo que reside na propriedade, a mãe esclarece que através da bovinocultura ele conseguiu permanecer com ela. O projeto desenvolveu-se a ponto de atualmente depender totalmente da atividade para manutenção da família na propriedade, essa renda mensal atende as despesas em geral. Quando questionada sobre se houve influencias na realização e implantação dos projetos de vida dos filhos, ela esclarece que a influencia veio primeiramente dos monitores, da família, amigos e vizinhos. Segundo a mãe, os monitores orientaram a elaboração do projeto que em sua avaliação foi muito boa e bem realizada, pois contribuíram até mesmo com a recuperação do solo, que se encontrava degradado, indicando a aplicação do calcário e as sementes de pastagens, bem como, a aquisição de novilhas. Esse projeto resultou na aprovação do financiamento de seis mil reais do Pronaf jovem através do Banco do Brasil no ano de 2009. Fala do jovem: “eu desenvolvi o projeto de gado de leite[....] os monitor falava que luta com roça não era interessante [...] os monitor organizavam [...] que nem, a gente pensava pequeno [...] daí eles falava que a gente tem que pensa mais alto, que nem o gado de leite a gente fazia as pastage, eles viam se dava, eles falava de calcário [...]”. 122 Fala da mãe: eles olhava as vacina de brucelose, de fetosa, ficava bastante encima pra ve se piquetiava [....] todo nois se envolvia [...] era uma coisa que a gente nunca teve, quando eu fiquei sozinha com eles, a maioria trabaiava de boia fria, pra cá e pra lá, quando tinha o projeto nois compro as vaca [...]. Segundo a mãe, quando perguntada sobre o acompanhamento CEFFA na propriedade, declara que o mesmo era realizado uma vez na semana, para observar questões de sanidade e alimentação dos animais, e que todos da família se envolveram, pois segundo ela, o manejo com os animais necessitava que todos contribuíssem. Relata que nunca a família teve tanto lucro como com a atividade do leite, o que contribuiu muito com a propriedade e a família. Evidencia-se nas falas de que o CEFFA proporciona oportunidades e que interfere nos processos produtivo, contribuindo com o acesso a recursos para implementação dos projetos de vida. Nesta perspectiva, como consta na Revista Formação por Alternância (2008), nos relatos de experiências, que a geração de oportunidades locais amplia as estratégias de desenvolvimento. Quando questionados sobre os pontos positivos e negativos das atividades, a mãe e o filho declararam que os pontos positivos no projeto de bovinocultura é que a produção é permanente, negativo que na época o preço do leite era muito baixo, poderia ser maior, pois assim possibilitaria mais investimentos na produção. Quando questionados sobre o que achavam sobre o processo de gestão do CEFFA, a mãe declarou que através da participação da família nas atividades desenvolvidas pelo Centro Familiar de Formação por Alternância foi importante, porque podiam escolher temas de estudos de interesse das famílias, uma vez por ano. Fala da mãe: “todo ano sempre tinha reunião e as família sempre participavam [...] cada família marcava o que achava melhor, tinha fruticultura, horticultura, daí se estudava durante o ano [...]”. Quando questionados sobre quem decidia no CEFFA, colocaram que todos se envolviam, tanto professores, como monitores, jovens, famílias e Associação, visando viabilizar projetos para o CEFFA e famílias, mas com um maior destaque entre todas estas instâncias a Associação teria um poder maior. Fala da mãe: “as família num conjunto geral, era tudo junto na assembleia, era decidido tudo junto [...]”. 123 Evidencia-se partindo destas ações que o CEFFA, assume os pressupostos da PA, como trata Forgeard (1999) porque incorpora seu papel de estar integrado com a família, buscando respostas para as preocupações que lhes afligem. Na época, segunda a mãe, não tinha diretoria especifica do CEFFA, mas que havia uma direção que assumiu a cooperativa de comercialização juntamente com a escola do campo, e segundo ela seria bem atuante em todos os sentidos e ressalta que a cooperativa era uma iniciativa muito importante para os agricultores. Ela não participava diretamente, mas apoiava as iniciativas. Quando questionada sobre as assembleias da Associação, como eram desenvolvidas, comenta que eram realizadas duas vezes ao ano onde todos contribuíam nas decisões. Para Brandanburg e Ferreira (2004, p. 74) esses espaços ambientais devem ser integrados na definição de um território que constitui a base do desenvolvimento local [...]Assim embora a produção e alimentos e outros produtos constitua função principal da agricultura, outras atividades associadas com a valorização do espaço agrícola e com o cultivo de um ambiente equilibrado devem ser promovidas. Questionados sobre os aspectos positivos ou negativos do CEFFA, a mãe e o jovem egresso declararam, que foi muito positiva a implantação da agroindústria, e sobre a situação da família e a propriedade segundo a mãe, houve mudanças nos aspectos ambientais com a implantação de mata ciliares, reflorestamentos e proteção de fontes, pois anteriormente não se preocupavam com estas coisas, havia mais contaminação da águas. Fala da mãe: na propriedade foi feito proteção de fonte, arrumado as manga, foi tirado o gado da beira do rio, e feito piquete [....]. Vale ressaltar que essa comunidade, está localizada no manancial que abastece a cidade e teve um programa especial com financiamento específico para cuidados com a água, o que a coloca em situação diferenciada de outras comunidades. Quando questionada se o CEFFA contribuiu com a agricultura familiar e a comunidade, declararam que contribuiu muito com as famílias da comunidade pois os jovens que passaram pela formação tiveram atividades agregadas como o leite, verduras e frutas e preservação ambiental. Também nas questões sociais porque todos jovens estão envolvidos nos esportes e atividades na comunidade e outras atividades da igreja. Fala o jovem: “ajudo bastante, pois foi colocado fruta, leite, nois naquela época tinha verdura [....] todos era incentivado pra participa da comunidade, se envolvia no grupo [...]”. 124 Quando questionados sobre os momentos mais importantes que marcaram a trajetória da família em relação ao CEFFA, relataram que o contato em 2001 com o ingresso do primeiro filho foi marcante, o convite foi feito na casa da família pelos monitores e como um dos monitores era amigo da família, eles aceitaram a inclusão do filho. Na ocasião convidaram a mãe para fazer parte do conselho de administração, e ela comenta que os monitores sempre estavam presentes incentivando apoiando as famílias que participavam de todas as atividades. Avalia que até este momento houve somente pontos positivos, pois a família aumentou o diálogo entre seus membros e o cuidado com as atividades, sendo que já foi planejada uma estufa de 50 metros e plantado oitocentos pés de alface para entregar na cooperativa de comercialização. Fala da mãe: nois tinha feito estufa de cinquenta metro, a ventania arranco intera, metade pra cima e metade pra baxo, tava com oitocentos pé de alface dentro, a produção já tava entregue. O mercado mesmo vinha busca aqui em casa, uma parte para a Casa e o que sobrava vendia nas escola, depois foi feito Pronaf pra vaca de leite por intermédio da Casa Familiar que deu incentivo. Fica evidente que os agricultores familiares demonstram uma percepção de que suas ações podem promover mudanças em seu meio. No entanto, se torna necessário que estas percepções se construam em bases sólidas, que favoreça o desenvolvimento em bases sustentáveis. Segundo Calvó (2005) as orientações para o projeto de vida devem estabelecer dimensões que contribuam para construção profissional e pessoal, comportando de fato uma escolha que se efetive, mas, ao mesmo tempo, que considere a complexidade envolvida nessa escolha, em um mercado de ofertas e demandas em efervescência. Perguntados se teria um segundo momento que marcou para família, ressalta que foi em 2003, durante a organização e implantação do projeto de vida do segundo filho, porque a família deu muito apoio e o jovem estava sempre presente nesta atividade. Os monitores se envolveram e contribuíram no auxílio em relação às exigências de documentação junto ao banco, o que seria uma grande dificuldade para a família. Destacam que os monitores sempre fizeram efetivo acompanhamento técnico. Este momento foi considerado muito positivo, pois a renda familiar e o serviço braçal diminuíram muito, e as pastagens começaram a ser desenvolvidas também no inverno. 125 Fala da mãe: foi quando fizemo o projeto de gado de leite, quem cuidava mais e participava, era o diretor e os monitor [...] a monitora que mais ajudava pega a documentação e leva no banco [...] era uma renda a mais, pois trabaiava mais braçal, depois foi comprado as vaca, a gente tirava o leite e entregava, foi uma época que tirava duzentos a trezentos reais do leite, uma renda boa pra família [...] pras pastage pois só tinha grama seca, e depois mudado as pastage de inverno, foi mudado o potrero uma grama melhor. Perguntada novamente sobre um possível terceiro momento, comenta que foi quando no ano de 2009 foi realizada uma visita a usina hidrelétrica Salto Caxias, com palestras de incentivo a produção orgânica, da qual participaram também o presidente da Associação e pessoas da prefeitura municipal. Declara que foi neste momento que a equipe de profissionais aproveitou a ocasião para incentivar a ativação da agroindústria junto ao CEFFA, este momento foi positivo. Além das palestras, conheceram algumas peças pré-históricas do museu da usina achadas no fundo do lago. Quando retornaram à suas propriedades, os jovens frequentemente mergulhavam no rio que passa pela comunidade para tentar encontrar peças antigas potes e objetos de artesanato. Quando questionados sobre a se o CEFFA teve alguma influencia para a agricultura familiar e para comunidade, os mesmos declaram que nas propriedades e na comunidade os resultados foram acabar com desmatamentos e implantar as matas ciliares. Relato do jovem: nois fomo um dia na usina, lá tinha um museu, não me lembro agora, acho que era Salto Caxias, tipo que nois sempre tinha visão por causa do veneno, daí lá eles incentivavam a faze produto orgânico, aí em geral da mais emprego que na roça, assim pode faze a salada e ta [...] os monitor eles montavam projeto dentro da usina e quando voltavam tentavam faze aqui na casa. Lá também tinha no museu peça que achava em rio, nois que em casa ia nos rio, os pia tudo junto, nois se fincava na água e achava pedra parecida [...] das peça antigas [...] lá eles falavam é pra cuidá mais das verada dos rio, da reserva legal. Quando questionados por quanto tempo durou a relação da família com o CEFFA, declaram que durou dez anos, pois foi a participação de todos os filhos onde cada período ingressava um novo filho no processo educativo da Pedagogia da Alternância. Fala da mãe: “naquela época quando os piá entraram já foi feito mata ciliar [....] teve bastante projeto bom, curso que eles fizeram ajudo bastante [...]. Evidencia-se novamente que as experiências e intercâmbios trazem satisfações aos participantes e os aprendizados são claramente demonstrados. Também o sentimento de que 126 os reflexos do CEFFA voltaram-se para comunidade no sentido ambiental, importante no contexto da agricultura familiar. Gimonet (2007) esclarece de que ao provocar os intercâmbios no grupo é deixar que os conhecimentos, as praticas aconteçam. Prosseguindo, como demonstra as fotos (Imagem 9), a propriedade n°21está em situação considerada boa em relação aos indicadores econômico e social, já no indicador ambiental se encontra em situação considerada razoável. Imagem 9– Vista aérea da propriedade (21) -Dois Vizinhos – PR Fonte: Régis Heckler (2011) Nesta propriedade a entrevista ocorreu somente com o jovem egresso, haja vista, que no momento da execução da entrevista era o único presente, sendo que seus familiares desempenhavam atividades na propriedade. Quando questionado sobre quanto tempo residem no local, o mesmo declara que a família reside nesta propriedade há vinte e nove anos e sua origem étnica é italiana. Residem na propriedade seus pais, sua esposa com seus três filhos, o filho (a) (egresso do CEFFA) e seus 2irmãos. Quando perguntado sobre o tamanho da propriedade, declara que possui uma área total de 26.5 hectares, e sua atividade principal é bovinocultura leiteira. Quando questionado sobre o primeiro contato com o CEFFA, declara que foi no ano de 1998, quando os técnicos da prefeitura cedidos para desempenhar os trabalhos no CEFFA realizaram uma visita em sua propriedade para convidar o jovem a participar da formação pela pedagogia da alternância. Quando questionado sobre o apoio da família, o jovem declara que a mesma incentivou muito, mas na ocasião nunca tinha ouvido falar desta escola do campo, onde iniciou sua formação já trazendo informações e trabalhos práticos para a propriedade, como experimentos que reforçavam as aulas teóricas. A relação dos jovens e sua família proporciona um ambiente propício para o desenvolvimento de seu meio, pois quando há intervenções externas elas ocorrem como trocas de experiências e não como algo arbitrário, o que pode ser observado em torno de projetos e ações práticas que incorporam possibilidades para a autonomia e ao para a dependência. 127 Segundo Gimonet (2007) a importância da função educadora da família nos aspectos afetivos e nas relações entre todos seus membros é fundamental. Quando questionado sobre quais foram os momentos que marcaram a trajetória da relação da família com o CEFFA, ele responde que: o primeiro momento marcante foi os resultados práticos para propriedade e para família, através de atividades como a poda de frutíferas, melhoramento da lavoura através da rotação de culturas e adubação e, principalmente, pelas melhorias nos cuidados com a horta doméstica e um maior diálogo com os pais, durante o período da manhã quando se organizavam as atividades diárias. Sua fala: “fomos melhorando aqui, melhorando ali, a lavora, adubação, escolha de variedade, o pai já dexava mais comigo, é você que vai lá e vai faze, a poda, frutíferas, a hora, sempre pela manhã, sempre é feita uma conversa, e vamo procura melhorá [...]”. Quando novamente questionados sobre um segundo momento marcante na relação com o CEFFA, esclarece que foi quando o jovem e mais três colegas acompanhados de monitores, participaram em um curso em Castro-PR, onde permaneceu uma semana, foram realizadas varias atividades relacionadas a bovinocultura leiteira, suas várias etapas de manejo. A família, segundo o jovem, sempre incentivou as atividades e trabalhos que pudessem contribuir com a propriedade. Quando questionado sobre sua avaliação sobre o CEFFA, ele diz que sempre foram positivas, mas no que se refere ao curso de Castro o jovem relaciona que o impacto tecnológico foi negativo, pois sua realidade é bem diferente. Comenta que os resultados práticos para propriedade neste curso foram uma contribuição principalmente com a higiene na ordenha, e no manejo em geral e que para a família o resultado voltou-se em um maior enfoque nos incentivos, pois percebeu a diferença no seu retorno a propriedade. Novamente os relatos do jovem, “no primero ano e no segundo ano, nos tivemos os alunos i lá em Castro e marco muito, eu e o Douglas fomo no curso, dos aluno foi só nois, os mais de idade la foi um geral completo, o assunto era manejo geral. Foi negativo de repente a tecnologia avançada, o impacto tecnológico me assustei [....] até chegá naquele ponto [....] mas alguma coisa mudo aqui no manejo e na higiene da ordenha”. Evidencia-se na fala que a percepção do jovem em torno dos impactos tecnológicos são claras, a velocidade em que o estado capitalista desempenha seus propósitos tem impactos na organização familiar camponesa, tanto no sentido da fascinação que promove como do temor pelo novo ainda dissociado da realidade concreta da família. Segundo Touraine (1994) o estado moderno vincula o sujeito ao seu propósito de forma que assume um papel de espectador, se colocando a mercê do progresso. 128 O jovem quando questionado sobre um terceiro momento marcante no envolvimento com o CEFFA, declara que foram outros cursos com o SENAR, realizados nas dependências da escola do campo e as visitas de estudo em propriedades para conhecer outras realidades praticas. Um quarto momento foram as conversas com autoridade municipais e a ARCAFASUL para tratar de assuntos referentes às políticas públicas para o setor rural, como o credito para aquisição de terra, principalmente, para jovens egressos do CEFFA e demais incentivos para esta escola do campo. Comenta que esta ação foi avaliada por ele como negativa, pois nunca teve êxito, no entanto, era discutida pelos atores envolvidos no processo, fomentando ilusórias perspectivas aos jovens. Fala do jovem: As visita que se fazia nas propriedade, e tinha a agroindústria, chamavam nós pra conversa com autoridades, prefeito, a mãe na época era secretária, teve uma época que o prefeito falo que os aluno da casa são mais prioridade do que os da agrotecnica daqui né, a agrotecnica forma pessoas pra fora, e a casa familiar é aluno que fica na propriedade [...] teve alguma diferença de recurso de famílias beneficiadas, mas que primero iam prioriza a casa familiar, eu sei hoje de família que pegaram recurso, eu por exemplo hoje se disse que recebi um recurso da prefeitura, pra mim nunca veio [...] até uma época veio um representante da ARCAFAR, que era pra vir recurso pro aluno compra terra com um tempo maior pra pagá [...] pontos muito negativo, até pra um veio [...] quantos hoje da minha turma que se formo tão trabalhando, se tem trinta porcento no campo é muito, porque o pessoal espera recurso, se viesse mesmo o recurso o pessoal ficava, a própria comunidade tem poucos trabaiando. Na época o pessoal se sentiu mais motivado e os recurso não veio, daí tem meus amigo daqui meus amigo foram trabaiá na cidade. Tal preocupação desse jovem não é local, ela retrata um problema nacional, como aponta o seguinte: durante a 1 Conferência Nacional de Juventude Rural, houve um processo intenso de debates contando com a participação do Governo, e sociedade civil, na tentativa de consolidar a política nacional de juventude e incluir, de forma permanente o tema na agenda das políticas públicas [...] Garantir o acesso a terra ao jovem e á jovem rural, na faixa etária de 16 a 32 anos, independente do estado civil, por meio de reforma agrária, priorizando este segmento nas metas do programa de reforma agrária do Governo Federal [....] garantia de políticas públicas integradas que promovam a geração de renda para o jovem e a jovem do campo (REVISTA FORMAÇÃO POR ALTERNÂNCIA, 2008,p.9). Quando questionado sobre quanto tempo a família manteve relação com o CEFFA, ele diz que foi em torno de seis anos. Três anos depois dele ter se formado os vínculos permaneciam, no entanto, após a troca de profissionais da instituição acabaram os contatos. O jovem relata que: 129 ainda nos primeiro anos tinha conversamento com nois, depois os monitor acabaram saindo e não vinham, mas depois de um ano ou dois ano que eu tava formado, vieram faze visita pra mim, pra vê o que tinha melhorado [....] na época fizeram projeto pra consegui agroindústria, o projeto a ideia era que de os alunos produzir as fruta e o leite para entrega na casa familiar e leva lá para transformá, a parte de fruta, aí começo e teve um grupo que entrego, hoje não sei se ta funcionando, mas pra nois leva lá envolve muito investimento. Fica evidente que como já tratado as ações recíprocas tendem a se dissolver quando o vinculo afetivo diminui. No entanto como trata Morin (2000) que uma compreensão mutua nas relações humanas, quer com próximos, ou com estranhos seria vital pra que saiam de seu estado de incompreensão. Sobre o projeto de vida quando foi perguntado se sua execução foi realizada, declara que, o projeto na área de bovinocultura influenciou por que a família já trabalhava com esse ramo mas com poucos animais e de forma mais rústica. Questionado sobre se a elaboração do projeto foi acompanhada pelos monitores do CEFFA, comenta que foi positiva porque foi realizada a pesquisa de preço e avaliação de custos para sua implementação, e o jovem ressalta que reformou o estábulo, organizou as pastagens, adquiriu ordenhadeira, ou seja, foi realizado um investimento de oito mil reais na área. Quando questionado se existia acompanhamento dos monitores na propriedade relata que no inicio era a cada seis meses, quando tinha assembleia eram chamados para participar e nos anos seguinte as visitas eram a cada vinte dias, pois as atividades em função do projeto de vida foram se acentuando. Fala do jovem: “o projeto de leite a ideia sempre era de continua a atividade, a família sempre apoio, de repente começa uma outra atividade era mais custoso [...] o grupo todo a casa ajudo no projeto [...]”. Como já comentado acima, o projeto de vida do jovem contribuiu muito com a família, que se envolveu desde o início, e que a execução do projeto é uma das atividade principais de agregação de renda mensal para propriedade. Sobre os pontos negativos e positivos do projeto, o jovem relata que de positivo foi realizar a atividade leiteira dentro das normas exigidas pela normativa 51 (lei federal que normatiza e estabelece parâmetros de sanidade e higiene para atividade); os pontos negativos da atividade é que na pratica é sempre um desafio porque a atividade (como todas vinculadas à agricultura) está exposta ao clima e intempéries, além de ter que realizar melhorias periódicas para acompanhar as leis. Algumas reflexões emergem desses relatos, a primeira é de que quando o CEFFA se aproxima mais do espaço familiar há maior desenvolvimento, pois quando o jovem em 130 conjunto com a família desempenha seus papeis de acordo com os pressupostos da PA, a reciprocidade torna-se maior, tendo assim incentivos mais permanentes da equipe do CEFFA. Também fica claro que essa relação entre jovem, família e CEFFA cria condições para enfrentamento das questões burocráticas e legais da atividade. Quando o jovem foi questionado sobre a participação da família no processo de gestão do CEFFA, ele respondeu que a família participou da pesquisa participativa para definição do Plano de Formação, porque na primeira semana de aula houve uma reunião com os pais onde foram perguntados sobre que atividades gostariam que fossem trabalhadas. Sua família sugeriu a conservação de solo, adubação, suinocultura, bovinocultura de leite. Sobre quem decide sobre o funcionamento do CEFFA, ele coloca que em primeiro eram os monitores, em segundo lugar a Associação, em terceiro os jovens estudantes. Relata o jovem que, “na época elas fazia promoção arrecadavam doações, na época se ia fala pela cidade, ninguém sabia o que era casa familiar [...] a gestão era os monitor, tinha uns muito bom, na época era a associação [...]”. Quando perguntado se a família conhecia a Associação do CEFFA ele fala que sim, pois sua mãe era membro da diretoria e atuava no conselho de administração. Reforça que havia no conselho mulheres, uma presidenta, secretária e tesoureira, todas da comunidade Mazurana, e sua gestão segundo o jovem era atuante, pois saiam para pedir apoio porque havia carências que tinham que ser enfrentadas. Quando o jovem foi questionado sobre a participação da família nas assembleias, ele relata que sim, pois estavam envolvidos na direção. As assembleias eram realizadas duas vezes no ano onde as opiniões eram sempre acatadas. Sobre sua avaliação da gestão ele declara que foi positiva, porque todos os membros (mulheres) contribuíam. Fica evidente novamente que a atuação do conselho de administração e dos monitores era efetiva e o processo como um todo era de forma coletiva, o que garantia avanços significativos. Segundo Marirrodriga e Calvó (2010) quando o comprometimento se torna uma militância ou vice versa, o sentimento de compromisso evolui. Quando o jovem foi questionado sobre como estariam as condições da propriedade em relação ao fator econômico e ambiental, antes e depois da passagem pelo CEFFA ele relata que na questão social melhorou pela sua relação mais aproximada com autoridades municipais; na questão econômica foi pela maior renda na propriedade oriunda da atividade leiteira; na questão ambiental foi pela visão do maior cuidado com o meio ambiente e a realização de proteção de fonte, já que na comunidade da Mazurana localiza-se a usina de captação de água para a cidade de Dois Vizinhos realizada pela SANEPAR. 131 E, por fim, quando perguntado no que o CEFFA mais contribuiu com as famílias e com a comunidade, ele relata que contribuiu muito, pois muitos permaneceram na roça, no entanto o esperado recurso de investimento para aquisição de terra não ocorreu, onde alguns colegas saíram para trabalhar em outras atividades fora do meio rural. Em relação à comunidade, as ações dos jovens nas atividades do esporte e em outras atividades como dirigentes estão presentes. Relata, teve uma mudança social, pega uma piazada ali e fala com o prefeito [...] as rendas melhoraram depois desta época [...] a casa pediam quem tinha proteção de fontes aí faziam [...],a comunidade é um ponto de referencia, é que é a nascente da água pra faze coleta pra cidade é daqui, assim a gente ta fazendo pra melhora [...]. Evidencia-se que, segundo o jovem, houve avanços em aspectos sociais, ambientais e econômicos da propriedade e comunidade. No geral, observa-se a importância de políticas publicas para aquisição de terras pelos jovens, como ponto crucial para potencializarem suas capacidades e garantir Revista Formação por Alternância (2009)sua autonomia. Segundo relatos de experiências na, os agricultores familiares buscam mais que somente o conforto de suas famílias, mas uma propriedade que lhe de condições de se manter nela. Por fim, a última família entrevistada n° 2, sendo que foram feitas duas visitas: uma em que estavam presentes a mãe e o filho egresso e outra o pai e o filho mais novo, havendo a permissão dos mesmos para a utilização de fotos(Imagem 10). A análise do gráfico 2 demonstra que está em situação considerada precária em relação aos indicadores econômico e social, já no indicador ambiental se encontra em situação considerada boa. Imagem 10 – Vista aérea da propriedade (2) - Dois Vizinhos – PR. Fonte: Heckler (2011). Quando questionado o pai sobre há quanto tempo a família residia na propriedade, o agricultor declarou que está nesta área há vinte e dois anos e que sua origem étnica é italiana. 132 Sua família é formada por ele, sua esposa e dois filhos, o filho mais novo reside na propriedade, já, o mais velho que é egresso do CEFFA, continuou os estudos, fez um curso de Zootecnia pela UTFPR- Campus Dois Vizinhos e após conclusão de curso, há três anos saiu da propriedade para trabalhar como técnico da COASUL (Cooperativa Agropecuária Sudoeste). Sua propriedade tem nove alqueires. Sobre a trajetória em relação ao CEFFA, o pai declarou que seu primeiro contato foi em 1994 quando os monitores vieram convidar o filho para estudar e que durante este período eram realizadas reuniões com as famílias na sede da instituição. Na ocasião havia algumas áreas próximas ao CEFFA com experimentos o que chamava a atenção, e o fato da participação de autoridades nestas atividades. Quando questionado se havia atividades realizadas em sua propriedade durante o período de formação do filho, ele declara que quando o jovem retornava tentava realizar experimentos também na sua propriedade, na ocasião o que o pai retrata com euforia orgulho, foi uma pratica de experimentação em sua propriedade em que estiveram presentes jovens colegas de seu filho. Deslocaram-se com um micro ônibus para aprender na pratica uma atividade veterinária, em que havia uma bezerra com cinco tetos em seu plantel, na ocasião foi realizado uma cirurgia através do corte desta quinta teta pelo veterinário, acompanhado por monitores dos CEEFA. Segundo o pai, o início da vida através do conhecimento técnico mais aprofundado foi no CEFFA: “uma veis eu tinha uma ternerota, ela tinha cinco teta [...] e daí eles diz que ia leva o veterinário [...] ensiná voceis piazada, se fais manejo pra dexa só quatro teta na ternera [...] aí viera todo turmada, viera tudo num micro ônibus, tudo a piazada que estudavam lá, daí eles fizera uma microcirurgia [...] ele feis a piazada tudo junto né [...]”. Verificam-se duas situações, uma em que o processo de experimentação pratica tanto nos espaços educativos como nos meios familiares reforçam coletivamente o aprendizado e a autoestima dos agricultores familiares. Outra em que há um reconhecimento da família da importância da formação integral pela PA, mesmo que o jovem esteja desempenhando atividades em outros espaços após a conclusão desta etapa. Segundo Gimonet (2007) devemos permitir que os filhos e filhas observem e analisem diretamente todas as atividades agrícolas; se o jovem é educado de maneira global ele torna-se ator nos vários espaços que participar. Sobre a relação entre os resultados para a propriedade e a atividade que o filho teria optado para o projeto de vida, declarou que o projeto sobre bovinocultura leiteira trouxe bastantes informações, mas que na pratica realizou muito pouco, tinha a visão de um sistema bem diferente. Quando questionado sobre o que mais marcou a relação com o CEFFA, declara que foram os resultados na família, porque nesta época as ações do CEFFA eram bem 133 dinâmica, pois a todo momento saia para as reuniões e outras atividades que eram desenvolvidas. Fez muitas amizades e conheceu coisas diferentes, e também seu filho que era meio “paradão”,se desenvolveu muito. Fala do pai: ele era tímido e se desenvorveu lá [...] diz o outro, ele parecia paradão em casa né [...] e agora né diz o causo [...] eu acho que ele se desenvorveu [...] ele troxe bastante coisa né [...] nóis que não ponhemo em pratica né [....] ele tinha bastante ideia né [...]mais sabe, a gente pegá um sistema bem antigo hoje não funciona mais [...] antigamente vivia como podia assim [...] e hoje quem não pode acompanha [....] tem acompanha a evolução [....] se não fica, fica pra trás. Fica evidente que o resgate do poder de ação que lhe é conferido traduz um potencial de percepção de que, sua existência é fundamental para o mundo que o cerca. Como Freire (1987) coloca, cabe ao espaço educativo fazer o educando ter compromisso e assumir-se enquanto um ser epistemológico, curioso diante da realidade que constituem seu próprio mundo. Quando novamente perguntado sobre um possível segundo momento, ressalta que foi quando o jovem participou de uma viagem para curso em Castro, onde viu as inovações na área da bovinocultura leiteira. Segundo o pai o jovem viajou acompanhado pelos monitores e colegas, mas a contribuição que os profissionais traziam eram todas voltadas às questões econômicas. Argumentação do pai: ele teve em castro, fazendo um curso [....] de leite, lá, essas coisa [...] é difícil, fazê, eu tenho assim, se o cara tive dinhero (....) pra quem tem dinhero é mais fácil, os estudo do filho se formá [...] se não tive, ninguém vive [....] se todo mundo se doto [....] todo mundo se formá, todo mundo estuda, quero ve quem vai trabaiá pros doto [...] os doto vão se toma deles memo, quero vê daí [....] tem que arguem pra puxa o cargerro [...]. Um terceiro momento o pai acha que foi importante porque pelo fato de ter cursado o CEFFA o jovem ingressou no pós-médio em zootecnia na UTFPR. Quando questionando por quanto tempo durou o envolvimento com o CEFFA, declara que durou até a formatura e após o afastamento foi gradativo até se extinguir. O projeto de vida do jovem, segundo o pai, foi bovinocultura leiteira, porque foi vontade do filho trabalhar nesta atividade. Quando perguntado se o filho teve ajuda dos monitores para elaboração do projeto, declara que sim, que o filho teve incentivo e um bom 134 acompanhamento. O projeto não foi implementado porque seu filho queria implantar a formação de pastagens, mas ele não permitiu porque a área era muito pequena e se tivesse permitido, não teria mais espaço para outras atividades. Tinha ainda o problema da falta de recursos financeiros, o que demandava financiamento, o que causava muita insegurança. Fala do pai: naquele tempo ele tinha interesse em vaca de leite [...] na época ele até foi em Castro né [....] eles incentivava o aluno na época [...] e ele tinha interesse né [...] até incrusive ele queria faze formação de pastage [...] a gente tem poca terra né [...] mas se tivesse uns dois arquere né [....] dexasse por conta né [...] faze na pratica [....] o leite não foi implantado [...] e depois outra né, se a agente é pra faze investimento né [...] a gente que é meio sem recurso [....] com medo de financiá [...] foi morrendo aí também [....] vai numa loja e compra dois metro de corda [....] quando não tem mais saída, daí vai se inforcá [....] daí degavazinho a gente vai né [...] o estudo, ninguém te toma. Quando perguntado sobre o acompanhamento dos técnicos do CEFFA na propriedade relata que eles visitavam o filho uma vez no mês para observar os trabalhos que o jovem desempenhava na propriedade. Fala do pai: “ele estava meio seguido aqui, pelo menos uma veis no meis, eles queria vê o que a gente tinha feito na propriedade né [....] não pode faze o paço mais do que a perna [....] tinha véis que ele aprendia [...] ele vinha em casa e tentava faze [...] faze uma experiência né”. Quando questionado sobre a participação da família no projeto de vida ele relata que se envolveram para alertar o jovem que não realizasse uma atividade que não pudesse ser mantida. No entanto, o projeto segundo o pai não contribuiu para família e propriedade e não teve pontos positivos e negativos. Fica evidente que a ação e influencia da família em relação aos projetos de vida tem grande relevância, o que precisa é entender que para além do patriarcal, há os limites concretos, no caso a falta de área e de dinheiro, que sob o olhar da gestão da propriedade poderia conduzir à família a ruína. Assim, o produto do trabalho familiar, único e indivisível, e, por conseguinte, a prosperidade da exploração familiar não aumentam de maneira tão marcada como o rendimento da exploração capitalista influenciada pelos mesmos fatores. Com efeito, o trabalhador camponês, ao tomar consciência do aumento da produtividade do trabalho, não deixa de equilibrar mais cedo os fatores econômicos internos da sua exploração, isto é, diminui a auto-exploração da sua capacidade de trabalho. Satisfaz as exigências da família de maneira mais completa despendendo menos trabalho e diminuindo portanto,globalmente, a intensidade técnica da sua atividade econômica (CHAYANOV, 1924, p. 485). 135 Em relação à análise da família sobre o processo de gestão, o pai ressalta que nunca havia participado da pesquisa participativa para elaboração do plano de formação, diz que o plano era realizado pela turma de jovens. Quando perguntado sobre quem decidia sobre o funcionamento do CEFFA ele relata que somente o coordenador e monitores se envolviam. Ao ser questionado se a família conhecia a Associação, ele diz que sim, pois eram as mulheres da comunidade Mazurana, incluindo sua esposa, que participavam do conselho de administração. Esse grupo organizava as assembleias e decidia sobre outras atividades. Quando questionado sobre a participação nas assembleias da associação relata que ele participava das assembleias somente quando tinha experimentações de campo, praticas ou confraternização, mas nunca opinava porque concordava com as opiniões dos outros. Em relação à avaliação da gestão do CEFFA relata que foi boa a administração da época, pois tinha muita ajuda do poder publico municipal. Quando questionado sobre uma avaliação das condições de vida da família e da propriedade ele declara, que sempre algo muda com a formação, que nas questões ambientais foram vendo que deveria cuidar mais das sangas e córregos e implantação da mata ciliar, que a natureza também recompõe a mata, em relação às questões econômicas permaneceram as mesmas. Fala do pai: lá mesmo era o coordenador que dicidia [...] a diretoria sempre participava da Casa Familiar [...] eles decidia o assunto que se desenvorvia lá né [...] daí fazia tudo uma reunião geral[...] depois eles fazia tipo assim uma confraternização [...] reunião lá tinha seguido [...] nois ia seguido lá pra ve o desenvorvimento da pranta, até de adubo verde , essas coisa até vo conta um caso, vo vê a raiz da aveia [...] a gente pensava daí [....] os monitor as veis convidava autoridade pra participa [...] ia o aluno e os pai do aluno. A gente não ia atrás disso aí, depois a gente foi vendo que esse negócio do ambiente, conservação, eu so contra o pessoal desmatá, a par da sanga no córrego né, se eu pudesse né dexa tudo a minha reserva, tudo nas nascente de fonte [...] vamo conservá onde tem [...] cara, quando eu comprei aqui, esse matinho, ele tava cercado arredor, o cara da proteção de sanga veio aqui daí [...] escuta, não dá pra larga criação aí [...] daí eu aprendia que se larga criação no matinho [...] ia roe o que? [...] as arvore de pé [...] não larguei a criação e a própria natureza que se desenvorve. Evidencia-se que as questões ambientais para a família tiveram melhoras, no entanto economicamente permaneceram estagnados. No entanto, os avanços ambientais considerados, trazem uma responsabilidade maior com o manejo de recursos naturais. Segundo Sachs (2010), a necessidade da formação para compreensão e reflexão da história possibilitam entender o futuro das sociedades tanto no âmbito da ecologia como na cultura. E por fim questionado sobre o que o CEFFA mais contribuiu com as famílias, com a comunidade e com os agricultores familiares comenta que na comunidade seu filho mesmo 136 não estando na propriedade assume o cargo de secretário da comunidade Mazurana onde seu antigo colega do CEFFA que também reside na comunidade passou o cargo a seu filho. Fala do pai: eles queria uma formação que na comunidade, ele seja um líder na comunidade [....] ser um arguem que representa a comunidade [...] eu achei importante isso daí [...] incrusive ele vai assumi em janero [....] então é uma coisa que apesar de i lá aprende, ainda se um líder na comunidade também [...]. Fica evidente que o jovem mesmo não tendo condições de exercer seu papel na propriedade da família, demonstra um perfil que corresponde aos padrões de ação comunitária. E neste aspecto contribua de maneira socialmente ativa com novos projetos buscando as necessidades do grupo social ao qual pertence a sua comunidade de origem. Perfil este já evidenciado no II capítulo sobre os impactos da formação por alternância, que mesmo com a centralização patriarcal, os jovens desenvolvem-se em condições de se inserirem no meio social, empresarial e cooperativo. Os reflexos da liderança e da participação são claramente percebidos, tornando-se um fator importante no desenvolvimento social. Portanto, como trata Santori (2008),é fundamental os jovens se tornarem protagonistas promovendo discussões nas comunidades, problematizando e construindo novos conhecimentos e projetos no sentido da mudança. 3.6ASPECTOS GERAIS EVIDENCIADOS PELA TRAJETÓRIA DAS FAMÍLIAS EM RELAÇÃO AO CEFFA Na perspectiva de construir um quadro geral da dinâmica do CEFFA para o desenvolvimento em bases sustentáveis para a agricultura familiar, foram constatadas algumas evidencias no ensino/aprendizagem sob a égide do processo educativo da PA. No entanto para visualizar ações e reações dos agricultores familiares foram consideradas de maneira mais clara e objetiva as ações favoráveis e desfavoráveis ao trabalho educativo do CEFFA. Buscou-se realizar uma análise contextual sobre os aspectos sociais, econômicos e ambientais nas famílias entrevistadas na última fase de campo, considerando os projetos de vida e a possível influencia decorrentes deste processo. As constatações que constam neste trabalho emergem da trajetória do CEFFA vinculada ao desenvolvimento dos projetos de vida no contexto das famílias, da comunidade e do meio social mais amplo. 137 Ações favoráveis ao CEFFA em torno da sustentabilidade: Importância e realização das dinâmicas de visitas de estudo e intercâmbios no espaço da CEFFA; Aproximação dos jovens com outras realidades da agricultura ou com atividades não agrícolas; Ações psicopedagógicas assumidas pelo CEFFA; Assessoria frequente da equipe do CEFFA para elaboração dos projetos de vida; Pelo processo educativo enfrenta os limites da educação tradicional porque visa atender as necessidades e demandas da juventude do meio rural; Reconhecimento da importância do campo, da agricultura familiar no contexto global; Ações econômicas do CEFFA para impulsionar os projetos de vida; Apoiado CEFFA aos jovens, para exercerem sua autonomia; A importância da ação de outros atores na formação educativa do CEFFA; Quando a proposta educativa da alternância se efetiva, há reflexos práticos no meio social; Quanto maior a aproximação e debate no coletivo, maior o desempenho individual; Trabalham com alguns aspectos em torno das questões e relações de gênero; Noções da importância da diversificação da produção e da renda; Reconhecimento da importância e tranquilidade que o meio rural disponibiliza; Ações do CEFFA voltadas para questões ambientais no contexto local; A intervenção do CEFFA acontece, no entanto é gradativa; O reconhecimento das potencialidades do meio de vivencia e de possibilidades de autonomia; Importância das ações coletivas e do desempenho da Associação; A importância das ações recíprocas, aproximação periódica do CEFFA com a família, sensibilidade aos impactos tecnológicos; Avanços na dinâmica da propriedade diante das possibilidades técnicas ofertadas. Reconhecimento familiar da formação integral do CEFFA, a qual contém a dinâmica das atividades em outros espaços públicos; Relações sociais comunitárias, na formação de líderes e participação; 138 Desempenho profissional ativo no âmbito familiar e institucional, mesmo quando não mais na agricultura e na propriedade; Ações desfavoráveis ao CEFFA em torno da sustentabilidade: Possíveis direcionamentos dos projetos de vida; Gestão familiar ausente no diálogo e participação nos espaços coletivos, em alguns casos; Patriarcalismo no contexto familiar; Noção das famílias em torno gestão do CEFFA como interesses político; Ausência de certificação no espaço educativo; Influencia de segmentos tecnológicos de cunho comercial; Ausência de incorporação de temas vinculados a outros interesses do jovem, que não sejam algumas atividades agropecuárias; Êxodo rural vinculado à necessidade de conhecer novas realidades e de sobrevivência, já que a propriedade familiar não comporta todos seus membros. Execução não efetivada de alguns projetos de vida; Execução efetivada do projeto de vida, no entanto, com mudança de seu propósito inicial; O progresso técnico atua por vezes na agricultura familiar de maneira ilusória afetando o CEFFA; Quanto mais distante da noção de pertencimento em torno do CEFFA, menos aproximação dos avanços coletivos; Limitações da gestão das atividades para a diversificação da produção e de renda; Estado de insegurança e vulnerabilidade das famílias sob a égide do mundo capitalista; Rotatividade de docentes e carência de políticas públicas para educação do campo; Necessidade de maior captação de recursos para o desenvolvimento das famílias; Variações no estado decisório dos jovens, dificuldade de manter o foco; Impactos ambientais (intempéries) refletidos na perca da auto estima e autonomia; 139 Falta de credibilidade diante das políticas públicas voltadas ao meio rural assumidas pelo CEFFA; Necessidade de resgate da identidade e potencial da juventude pelas famílias e pelo espaço educativo; Casos em que os avanços econômicos foram praticamente ausentes. Partindo das situações favoráveis e desfavoráveis, acima constatadas faz-se um diagnóstico da necessidade de reaver valores, praticas e conceitos no processo de formação voltada à agricultura familiar. Como trata Sachs (2010) é sobre a ruína dos velhos paradigmas que temos que pensar em novas ações e construir projetos plurais, em que as ciências sociais intervenham para fazer as perguntas certas, para alimentar o debate social e servir para serem refletidas em práxis política. Diante desta concepção, a sustentabilidades emerge de ações e de uma visão interdisciplinar, capaz de desvendar a complexidade da realidade socioambiental. A contextualização que os tópicos acima apresentaram é uma tentativa para evidenciar as ações voltadas ao contexto da sustentabilidade estabelecidas pelas famílias partindo do pressuposto de que o espaço educativo do CEFFA em sua trajetória diante das famílias possa atuar no campo do desenvolvimento sustentável. Neste contexto é possível destacar o esforço coletivo das famílias e da escola do campo, no sentido da sustentabilidade. Assumindo a noção da complexidade no debate paradigmático contido na lógica da sustentabilidade, é necessário entender, como diz Morin “o desenvolvimento das complexidades políticas, econômicas e sociais nutrem os avanços da individualidade. Estas se afirmam em seus direitos do homem e do cidadão adquirindo liberdades existenciais” (MORIN, 2000, p.109). Uma educação que associa o meio sócio profissional e meio escolar de forma integrada, inclusive pessoal e coletivamente, se transforma em uma matriz essencial perfeitamente em sintonia com o desenvolvimento local (GALVÃO, 2010, p.31). Como diz Ambrósio, um passo fundamental proposto para o novo milênio: que se provoque como prioridade de educação e formação a democracia participativa que dá poder as pessoas e que permite a procura de equidade (AMBRÓSIO, 2002, p.30). 140 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os aspectos metodológicos e analíticos sobre as estratégias de desenvolvimento social, econômico e ambiental, tornam-se fatores fundamentais para entender a perspectiva da sustentabilidade. É neste campo que o presente trabalho buscou considerar os pressupostos da Pedagogia da Alternância e o contexto da agricultura familiar. Sendo assim ao evidenciar de forma mais aproximada a situação das seis famílias diante das demais pertencentes a comunidade, observa-se que estas famílias desenvolvem ações que promovem de maneira parcial aspectos sustentáveis. Para os indicadores econômicos suas características comuns são de atividades pouco diversificadas, tendendo para modelo tecnológico convencional, visto que há indícios de empobrecimento aparente, ou seja, aquele que se traduz em situação sem muitos avanços econômicos, por estarem expostos as tendências comerciais pouco lucrativas. Verifica-se que o processo de gestão em sua maioria centralizada no sistema patriarcal, ou seja, dificultando o progresso nas ações de alguns jovens a partir dos projetos de vida. Também no que se refere aos indicadores ambientais, apenas uma das seis famílias está desempenhado ações perfeitamente condizentes aos cuidados com a natureza, no entanto grande parte das famílias dos egressos, igualmente ao total da comunidade, desenvolve práticas ambientais, parte pela consciência ambiental e parte pela obrigatoriedade vinculada as leis ambientais. Já em relação as questões sociais, nas seis famílias observa-se que a praticada participação comunitária vem se estabelecendo de maneira gradativa, no entanto, não se evidencia expressivamente, ou seja nem todas as famílias de egressos se destacam na participação social, o que demonstra uma certa dificuldade de inserção comunitária em alguns casos. E pertinente destacar que, em relação ao total das 47 famílias da comunidade essas seis famílias, mesmo com aparentes problemas, diferenciam-se pouco das demais. Elas desempenham melhorias e apresentam ações aproximadas ao contexto da sustentabilidade, no entanto, a trajetória das famílias no CEFFA, caracteriza-se através dos anseios e dificuldades diante do contexto amplo que a sociedade capitalista as pressiona. Os arranjos sociais, produtivos, econômicos e ambientais desenvolvidos pelo CEFFA estão vinculadas diretamente com a intervenção das ações tecnológicas sob a égide produtivista, imbricada nas inter-relações locais demonstradas pelas trajetórias dos egressos. Evidencia-se que a educação do campo, proposta pela PA, tendencialmente absorve apenas 141 uma parcela empobrecida da população rural e assim oportuniza algumas melhorias básicas promovendo diversas ações como: praticas sustentáveis de conservação de solo, manejo de animais, saneamento, inserção social, resgate da autoestima, formação através de cursos, diálogo familiar, entre outros, resgatando valores fundamentais para o contexto da agricultura familiar. Observa-se que à dinâmica interna do CEFFA, também enfrenta condições que dificultam o trabalho diante dos aspectos gerais a que se propõe, isso pode ser explicado pela vulnerabilidade em relação às políticas públicas para a educação do campo. É em meio a uma turbulência de informações e confrontos que o CEFFA estabelece sua identidade educativa integral e de resistência. Em síntese podemos afirmar que durante as três etapas propostas pela pesquisa o contato com as famílias da comunidade Mazurana, a equipe do CEFFA e as famílias dos jovens egressos demonstram que o processo educativo de formação integral, com o propósito de desenvolver de forma sustentável a agricultura familiar, estabelecendo um aporte educativo para os sujeitos do campo, assegure avanços. Avanços como: contribuição para a construção da identidade dos jovens, luta por seus direitos, capacitação profissional, participação social, e busca por práticas que possam conduzir gradativamente à sustentabilidade. No entanto, há retrocessos, como a limitação dos projetos de vida às atividades da agricultura nem sempre correspondentes às expectativas e oportunidades dos jovens, a limitação em não enfrentar o problema do acesso à terra para os jovens, entre outros aspectos. O aprofundamento teórico possibilitou uma análise crítica do processo de desenvolvimento regional no Sudoeste do Paraná, bem como, uma contribuição para o Centro de Formação por Alternância de Dois Vizinhos e para os processos municipais de gestão pública educativa ofertada na região. Oportunizou o crescimento profissional da pesquisadora e, por fim, a consolidação da importância do Mestrado em desenvolvimento regional, ofertado pela UTFPR - Campus Pato Branco. 142 REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, Ricardo. A atualidade do método de Josué de Castro e a situação alimentar mundial. Revista de Economia e Sociologia Rural, Brasília, Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural, 1992. AIMFR. 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Quem ( ) (1) Filho,(2) Filha, (3) Pais/Sogro, (4) Genro/nora, (5) Irmãos, (6) Empregados/Caseiros, (7) Outros 1.5) Quanto tempo a família reside nessa propriedade: ________________ 1.6) Título da propriedade é: do responsável ( ); dos pais do responsável ( ); dos pais do cônjuge ( ); não têm título ( ) II - CARACTERIZAÇÃO DA FAMÍLIA 2.1) Origem étnica dos pais: 1. Do responsável: ( ) brasileiro, ( ) português, ( ) polonês, ( ) ucraniano, ( ) italiano, ( ) alemão, ( ) outros ___________ 2. Do cônjuge: ( ) brasileiro, ( ) português, ( ) polonês, ( ) ucraniano, ( ) italiano, ( ) alemão, ( ) outros____________ 2.2) Composição da família A.1) Membros/nome 2) Grau de parentesco 3) Idade 4) Escolaridade 5) Residência 6) Ocupação atual 7) Horas trabalho/ dia atividades produtivas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 1) Primeiro nome de cada membro da família, do mais velho ao mais novo. 150 2) (1) Responsável,(2) Cônjuge, (3) Filho, (4) Filha, (5) Pais/Sogro, (6) Pais, (7) Irmãos, (8) Netos, (9) outros 4) (1) Sem escolaridade, (2) Pré escola, (3) Ensino fundamental incompleto, (4) Ensino Fundamental completo, (5) Ensino médio incompleto (6) Ensino médio completo, (7) Ensino superior incompleto, (8) Ensino superior completo. No caso de estar estudando acrescentar o numero 1; se não estuda o 2 5) Residência: (1) no estabelecimento; (2)no meio rural: (1) da comunidade; (2) do município; ; (3) da região; (4) outros; (3) no meio urbano: (1) do município; (2) da região; (3) outros 6) Ocupação: (1) Agricultor; (2) do lar; (3) Agroindústria; (4) Estudante; (5) Trabalho assalariado agrícola; (6) Trabalho assalariado não agrícola; (7) Aposentado/pensionista, (8) Autônomo, (9) Caseiro, (10) outros. III. CONDIÇÃO DO DOMICÍLIO 3.1) Condições da moradia ( ) Madeira ( ) Alvenaria ( ) Mista Ano de construção da casa____________ Tamanho da casa___________ Estado atual: ( ) Bom ( ) Razoável ( ) Ruim Possui forro: ( ) Sim ( ) Não Banheiro: ( ) Externo ( ) Interno Esgoto: ( ) Fossa negra ( ) Rede ( ) Vala, sanga Água: ( ) Poço/vertente individual ( ) Poço coletivo comunidade ( ) Rede pública Encanada sim( ) não ( ) Telefone ( ) Fixo próprio ( ) Fixo outros ( ) Celular ( ) Público Luz elétrica ( ) Sim ( ) Não Destino lixo orgânico: ( ) Enterra ( ) Céu aberto/vala ( ) Compostagem/adubo ( ) Coleta pública Destino lixo não orgânico doméstico: ( ) Enterra ( ) Queima ( ) Coleta pública _____vezes/ano 3.2) Veículos e equipamentos domésticos Tipo T V Gelade ira Fog ão gás Chuvei ro Elétric o Fre e Zer Rád io Paraból ica Computa dor Máquina lavar/ro upa Tanquin ho Carr o Mot o Bicicl eta Quantid ade IV. ACESSO AOS SERVIÇOS 4.1 Educação (da família) Quantos dependentes que residem na casa estão estudando:_________________. Eles estudam no: 1. Ensino fundamental da escola pública: ( ) na comunidade; ( ) no município; ( ) outro 2. Ensino fundamental da escola privada: ( ) na comunidade; ( ) no município; ( ) outro 3. Ensino Médio da escola pública: ( ) na comunidade; ( ) no município; ( ) outro 4. Ensino Médio da escola privada: ( ) na comunidade; ( ) no município; ( ) outro 7. Ensino superior: ( ) público; ( ) privado 9. Escola Familiar Rural sim ( ) não ( ) . Número de filhos _____________________________________ 10. Alfabetização jovens e adultos sim ( ) não ( ) 4.2. Saúde 1. Cite três problemas de saúde enfrentados pela sua família que necessitaram de assistência: __________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 2. Quando precisa de assistência tem sido atendido no (a): 1. Posto público: ( ) na comunidade; ( ) na cidade; ( ) na região 2. Clínicas médicas particulares: ( ) no município; ( ) na região ( ) Estado. Utiliza plano de saúde ( ) sim; ( ) não 3. Assistência médica do sindicato ( ) 151 4. Hospital pelo SUS: ( ) no município; ( ) na região; ( ) no Estado 5. Hospital particular:( ) no município; ( ) na região; ( ) no Estado. Utiliza plano de saúde ( ) sim; ( ) não 6. Dentistas: ( ) no sindicato; ( ) na saúde pública; ( ) particular. Utiliza plano de saúde ( ) sim; ( ) não 7. Benzedeira ( ) e ou curandeira ( ) 14. Farmácia: ( ) 15. Outros ________________________________________________________ 4.3. Assistência social 1. Cesta básica: 1. sim ( ) 2. não ( ) 2. Bolsa família: 1. sim ( ) 2. não ( ) 3. Bolsa do Programa de erradicação do trabalho infantil: 1. sim ( ) 2. não ( ) 4. Outros benefícios:1. sim ( ) 2. não ( ) _____________________________ 4.4Transporte utilizado pela família: 1. Transporte coletivo público: 1. sim ( ) 2. não ( ) 2. Transporte coletivo privado: 1. sim ( ) 2. não ( ) 3. Carro próprio: 1. sim ( ) 2. não ( ) 4. Moto própria: sim ( ) não ( ) 4. Outros: 1. sim ( ) 2. não ( ) 4.5 Participação na vida da comunidade e do município 1. Entidades/Instituições na comunidade 2. Entidade/Instituições no município 1. Igreja: sim ( ), qual:_______________; não ( ) 1. S.T Rurais: filiado: sim ( ) não ( ); diretoria: sim ( ) não ( ) 2. Associação agricultores: sim ( ) não ( ) 2. S. Rural : filiado: sim ( ) não ( ); diretoria: sim ( ) não ( ) 3. Clube de mães: sim ( ) não ( ) 3. Conselhos: sim ( ), qual:_________________________; não ( ) 4. ONG’s: sim ( ) não ( ) 4. Cooperativas: sim ( ), qual_______________________; não ( ) 5. APM’s: sim ( ) não ( ) 5. ONG’s1. sim ( ), qual:__________________________; não ( ) 6. Outros: _______________________________ 6. Associações de agricultores sim ( ), qual____________; não ( ) 7. Associação CFR( ) 7.Associação CFR ( ) 8. Não sabe( ) 8. Outros: _____________________________________________ 4.6 Acesso à informação: Responsável: 1. Escuta rádio sim ( ) não ( ). Qual o programa que mais gosta_____________________________________________ 2. Assiste televisão sim ( ) não ( ). Qual o programa que mais gosta_________________________________________ 3. Lê jornal sim ( ) não ( ) raramente ( ) Qual notícia mais lhe interessa_____________________________________ 4. Tem acesso à internet sim ( ) não ( ). O que mais lhe interessa____________________________________________ 5. Participa de cursos de formação profissional sim ( ) não ( ). Cite dois mais importantes________________________ Cônjuge: 1. Escuta rádio sim ( ) não ( ). Qual o programa que mais gosta_____________________________________________ 152 2. Assiste televisão sim ( ) não ( ). Qual o programa que mais gosta_________________________________________ 3. Lê jornal sim ( ) não ( ) raramente ( ) Qual notícia mais lhe interessa _____________________________________ 4. Tem acesso à internet sim ( ) não ( ). O que mais lhe interessa____________________________________________ 5. Participa de cursos de formação profissional sim ( ) não ( ). Cite dois mais importantes________________________ Filhos: 1. Escutam rádio sim ( ) não ( ). Qual o programa que mais gostam_________________________________________ 2. Assistem televisão sim ( ) não ( ). Qual o programa que mais gostam______________________________________ 3. Lê jornal sim ( ) não ( ) raramente ( ) Qual notícia mais lhe interessa _____________________________________ 4. Têm acesso à internet sim ( ) não ( ). O que mais lhes interessa___________________________________________ 5. Participa de cursos de formação profissional sim ( ) não ( ). Cite dois mais importantes________________________________________________________________________ 4.7 Acesso ao lazer: 1. A família ou parte de seus membros frequenta as festas da comunidade promovidas pela: a) igreja: sim ( ) não ( ); b) associação: sim ( ) não ( ); c) política: sim ( ) não ( ); d) escola: sim ( ) não ( ) 2. A família ou parte de seus membros frequenta as festas em outras comunidades: sim ( ) não ( ). 3. A família ou parte de seus membros visita: familiares ( ); vizinhos ( ); amigos ( ); outros ( ). 4. A família ou parte de seus membros vai à cidade em busca de lazer sim ( ) não ( ) raramente ( ). 5. A família viaja de férias: todos os anos ( ); poucas vezes ( ); nunca ( ). 6. Para se divertir participam de: jogo futebol ( ); pescaria ( ); jogo de cartas ( ); bingo ( ); caçada ( ); baile ( ); jogo bocha ( ); outros ( ) _________________________. V. UTILIZAÇÃO DA ÁREA E PRODUÇÃO 5.1) Condição do produtor Estabelecimento 1. Proprietário 2. Arrendatário 3. Parceiro 4. Meeiro 5.Ocupante 6.Total 1. Área 5.2) Utilização da área (ha) Tipo de uso 1.Área 1. Lavoura Temporária 2. Lavoura Permanente 3. Horta, e Pomar doméstico 4. Mata Plantada (espécies)_____________________________________ ________________________________________________________ _______________________ _______________________ 5. Mata Natural 5. Pastagem plantada (espécies)________________________________ ______________________ 7. Pastagem natural 8. Pousio 9. Outros usos 10. Sem uso 5.3) Manejo e conservação 1. Curva de nível ( ); Terraceamento ( ); plantio no nível ( ) 2. Cultiva em áreas quebradas: sim ( ) não ( ) 3. Rotação de culturas sim ( ) não ( ) 4. Queimadas sim ( ) não ( ) 6. Adubação verde sim ( ) não ( ) 153 7. Adubação orgânica sim ( ) não ( ) 6. Plantio Direto sim ( ) não ( ) 7. Sistemas Agroflorestais e ou Agrossilvopastoril sim ( ) não ( ) 5.4) Problemas com os recursos naturais do estabelecimento 1. Existem tipos diferentes de solos: sim ( ) não ( ) Frequência: ____________________ 2. Existem erosões de solos: sim ( ) não ( ) 3. Existem nascentes, sangas, córregos? sim ( ) não ( ) Quantas? ____ 4. Existe proteção artificial nas nascentes sim ( ) não ( ) 5. Existe mata ciliar nestas áreas de nascentes e córregos sim ( ) não ( ) 6. Se utiliza água da propriedade para que finalidade: Irrigação ( ); Abastecimento de pulverizadores ( ); Limpeza de maquinas e equipamentos ( ); Criação ( ); Outros ( )______________________________________________. 7. Utiliza madeira da propriedade: sim ( ) não ( ) 5.5) Destino das embalagens de agrotóxicos e produtos veterinários 1. Recolhido pela SEAB ou empresas : 1. sim ( ) 2. não ( ) Cada quanto tempo? _________ 2. Queima na propriedade : 1. sim ( ) 2. não ( ) 3. Enterra na propriedade : 1. sim ( ) 2. não ( ) 4. Reutiliza : 1. sim ( ) 2. não ( ) 5. Deixa a céu aberto : 1. sim ( ) 2. não ( ) 6. Armazena na propriedade: 1. sim ( ) 2. não ( ) 5.6) Assistência Técnica: 1. sim ( ) 2. não ( ) 1. Secretaria Municipal ( ) 2. Emater ( ) 3. Privada ( ) _______________________ (nome) 4. SENAR ( ) 5. SEBRAE ( )’ 6. ONG´s ( ) 7. Universidade ( ) 8. Cooperativa ( ) 9. CFR ( ) 10. Outros ( ) ___________________________________ 5.7) Integração: 1. sim ( ) 2. não ( ). Tipo ( ) (1) fumageira; (2) aves; suíno (3) ; outros (4) 5.8) Utilização de mão de obra: 1) Mão de obra familiar: 1. sim ( ) 2. não ( ). 2) Empregados permanentes: 1. sim ( ) 2. não ( ). Número de pessoas ( ) 3) Empregados temporários: 1. sim ( ) 2. não ( ). Número de pessoas/ano ( ) 4) Troca de dias: 1. sim ( ) 2. não ( ). Quantidade de dias/ano ( ) 5) Participa de mutirão 1. sim ( ) 2. não ( ) Número de Pessoas/ano ( ) 5.9. 1Veículos e equipamentos para produção do estabelecimento (quantidade) Condiçã o Caminhã o Trato r Grad e Motore s Pulverizad or mecânico Plantadei ra Colheitadei ra Micro - trator Ordenhadei ra mecânica Tanque de expansã o Próprio Coletiv o Alugad o Condição Pulverizador costal Arado/aiveca Carroça Carpideira/cultivador Riscadeira/ bico de pato Aterrador Outros Próprio Coletivo Alugado 154 5.9.2) Construções Tipo Silos Galinheiros Estrebaria Chiqueiros Estufas Galpões Tanques Casa Outros Área (m²) 155 5.10) Produção agrícola nos últimos 12meses Culturas 1) Área plantad a 2) Quantidade colhida (kg,maço,ton) 3) Valor gasto na produção 4) Valor recebido com a venda 5) Pra quem vende 6) Calc ário 7) Adu bo quí mic o 8) Adu . Org â nico / verd e 9)Agrotóxi cos 10)Sementes In F u H e Certi ficad a Pró pria criol a Venda Consumo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 Horta comercial - Qntd. de variedades 23 Horta doméstica - Qntd. de variedades 1) Seqüência de culturas por importância na geração de renda, horta e pomar caseiros 5) (1) Cooperativa; (2) Supermercado; (3) Empresas agropecuárias; (4) Direto ao consumidor; (5) Feiras; (6) Intermediários; (7) Outros (quem?). Uso de tecnologia (do 6 ao 10): (X) Sim e em branco para Não 156 5.11) Produção animal nos últimos 12 meses Criações 1) Quantidade Total/atual 2) Valor gasto na produção 3) Quantidade vendida 4) Valor recebido com a venda 3) Quantidade consumida 1. Bovino de corte 2. Bovino de leite 3. Suíno 4. Ovino 5. Caprino 6. Eqüino 7. Aves 8. Peixe 5.12) Principais derivados da produção animal nos últimos 12 meses Produto 1) Quantidade Total 2) Valor gasto na produção 3) Quantidade vendida 4) Valor recebido com a venda 3) Quantidade consumida 5.13) Principais produtos artesanais agrícolas e não agrícolas nos últimos 12 meses Produto 1) Quantidade Total 2) Valor gasto na produção 3) Quantidade vendida 4) Valor recebido com a venda 3) Quantidade consumida 5.14) Renda bruta nos últimos 12 meses - em R$ 1 Produção Agrícola 2 Produção pecuária 3 Derivados da produção vegetal e animal 4 Aposentadorias e pensões 157 5 Renda não agrícola 6.Arrendamento de terras 7 Aluguel de máquinas 8 Renda trabalho agrícola fora estabelecimento 9. Programas sociais 10. Outros Renda Total VI. FINANCIAMENTO. a) Tipo de financiamento b) Fontes financiadoras c) Valores financiados 1. Investimento 2008/2009 2007/2008 2006/2007 2. Custeio 2008/2009 2007/2008 2006/2007 6.1.) Quais são as estratégias da família para evitar frustrações na produção? (seca, geada, granizo, pragas, etc) ( ) Nenhuma ( ) Diversificação de produção ( ) Seguro agrícola ( ) Poupança bancária ( ) Poupança familiar ( ) Outros VII. MUDANÇAS OCORRIDAS NO ESTABELECIMENTO 7.1) Tipos das mudanças na propriedade nos últimos 20. Tipos de mudança Aumentou Diminuiu Mesma Motivo 1) Área total do estabelecimento 2) Área com lavoura 3) Área de mato/floresta 4) Área com pastagem 5) Numero de culturas 6) Uso de insumos químicos/agrotóxicos 7) Uso de insumos orgânicos/verde 8) Uso de máquinas e implementos agrícolas 9) Volume pássaros silvestres 10) Volume de outros animais silvestres 158 11) Diversidade de animais silvestres 12) Volume de peixes nos rios 13) Diversidade de espécies de peixe nos rios 14) Tipos de pragas e doenças 15) Fertilidade do solo 16) Volume de água das nascentes 17) Volume de água dos córregos e rios 18) Qualidade de água das nascentes 19) Qualidade da água dos córregos e rios 20) Mão de obra empregada na propriedade 21) Renda familiar 7.2) Mudanças ocorridas na comunidade nos últimos 20 anos?____________________________________________________________________________________________ VIII. Impactos das Políticas e Programas de interesse público: Programa/Política Pública No que contribuiu Problemas que gerou Sugestão 159 IX. Quais são os projetos/perspectivas de futuro da família no estabelecimento?________________________________________ 160 APÊNDICE B – FORMULÁRIO DE PESQUISA DE CAMPO CEFFA DOIS VIZINHOS Pesquisa : Centro de Formação por Alterância e a Sustentabilidade da Agric. Solicitante : Clariana Maria Werkauser Bressiani Entrevistador : __________________________ Data : ___/___/_____ Amostra : __________________________ Questionário Nº: _________ I - INSTITUIÇÃO 1) Identificação do respondente (Simples escolha) ( ) Coordenador ( ) Conselho administrativo ( ) Monitores ( ) Professores 2) Nome do CEFFA: (Aberta Texto ) ________________________________________________________ ________________________________________________________ 3) Endereço: (Aberta Texto ) ________________________________________________________ ________________________________________________________ 4) Número de alunos atuais: (Múltipla escolha) [ ] Meninos ____________________________ [ ] Meninas ____________________________ 5) Numero de Egressos: (Múltipla escolha) [ ] Meninos ____________________________ [ ] Meninas ____________________________ 6) Número de Funcionários: (Aberta Numérica ) ________________________________________________________ ________________________________________________________ 7) Professores da SEED: (Aberta Numérica ) ________________________________________________________ ________________________________________________________ 8) Monitores da ARCAFAR: (Aberta Numérica ) ________________________________________________________ ________________________________________________________ 9) Serviços Gerais: (Aberta Numérica ) ________________________________________________________ ________________________________________________________ 10) Outros: (Aberta Numérica ) ________________________________________________________ ________________________________________________________ 11) Nome da Mantenedora: (Aberta Texto ) ________________________________________________________ ________________________________________________________ II - MEMBROS DA ASSOCIAÇÃO 161 12) Agricultores/Pais: (Aberta Numérica ) ________________________________________________________ ________________________________________________________ 13) Agricultores não pais: (Aberta Numérica ) ________________________________________________________ ________________________________________________________ 14) Lideranças políticas: (Aberta Numérica ) ________________________________________________________ ________________________________________________________ 15) Funcionários públicos: (Aberta Numérica ) ________________________________________________________ ________________________________________________________ 16) Outros tipos de funcionários: (Aberta Numérica ) ________________________________________________________ ________________________________________________________ 17) Quem: (Aberta Texto) ________________________________________________________ ________________________________________________________ 18) Produtos utilizados na alimentação na CFR e sua Origem.(* Códigos: 1- Famílias dos Alunos; 2-Produ. própria;3- Famílias Egres.;4-doação comunid. rural;5- doação comunid. urbana;6-feira de agricultores;7- comércio local;8-instit. públ.; 9-assoc.CFR; 10- out Origem (*) Quantidade Total. (Kg, un, L) Quantidade de Orgânicos (%) Quantidade de Convencional (%) Arroz Feijão Carne Óleo Vegetal 19) Produtos utilizados na limpeza na CFR e sua origem.(* Códigos:1-Famílias Alunos;2- Produção própria;3- famílias Egres;4- Doação comunid. rural;5- Doação comunid. urba;6-feiras agricultores;7-Comércio Local;8- Inst. Públicas;9-Assoc. CFR;10- outros;) Origem (*) Quantidade Total. (Kg, un, L) Detergente Sabão em barra Sabão em pó Desinfetante Água sanitária com cloro 20) Produtos utilizados expediente na CFR e sua origem. ( *Códigos:1- Famílias dos alunos;2-Produção própria;3-Famílias Egressos;4- Doação comunid. local;5- Doação comunid.urbana;6-Feiras agricult;7- Comércio Local;8-Inst. Públicas;9-Assoc.CFR;10- outros) Origem (*) Quantidade Total ( Kg,un,L) Papel A4 162 Pincel Atômico Pincel Quadro Branco Giz Caneta Cartucho Impressora III - CONDIÇÕES ESTRUTURAIS FÍSICAS DA CFR. 21) Tipo de Construção: (Simples escolha) ( ) Madeira ( ) Alvenaria ( ) Mista 22) Ano da Construção: (Aberta Numérica ) ________________________________________________________ ________________________________________________________ 23) Tamanho da CFR (m2): (Aberta Numérica ) ________________________________________________________ ________________________________________________________ 24) Estado Atual da Construção: (Simples escolha) ( ) Bom ( ) Razoável ( ) Ruim 25) Destino do Esgoto: (Simples escolha) ( ) Fossa Negra ( ) Rede de tratamento ( ) Vala, Sanga 26) Origem da água Consumida: (Simples escolha) ( ) Poço/vertente Individual ( ) Poço Coletivo/comunidade ( ) Rede Pública ( ) Poço artesiano 27) Condições da água para consumo: (Simples escolha) ( ) Água não tratada com análise ( ) Água não tratada sem análise ( ) Agua Tratada 28) Telefone da CFR: (Simples escolha) ( ) Fixo próprio ( ) Fixo de outros ( ) Celular ( ) Público 29) Destino do Lixo Orgânico (Simples escolha) ( ) Enterrado ( ) Céu aberto/vala ( ) Compostagem/adubo ( ) Coleta pública 30) Destino do Lixo não orgânico doméstico: (Simples escolha) ( ) Enterra ( ) Queima 163 ( ) Coleta pública 31) Veículo e equipamentos de uso da CFR: TV Gelad eira Fogão a gás Chuve iro elétric o Freez er Rádio Parab ólica Comp utador Máqui na Lavar Roupa Carro Moto Ônibu s Quant idade 32) Quais são os temas e o número de projetos de vida dos alunos concluintes? (* Considerar número de projetos de vida por ano para cada Tema) TEMA 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 33) Ações desenvolvidas com as famílias nos últimos anos.(*Parcerias:1-Prefeitura 2-Emater 3-Petrobras 4-STR 5-Assesoar 6- Claf 7- Sisclaf 8-Copaf 9-Fetraf 10-Banco Brasil.11- Cresol 12-Igreja 13-Coamo 14-Camisc 15- Coasul 16- APMs. Nº Famílias atendidas Parcerias* Origem recursos e açoes:1-P.Pública 2-ONG. 3-CFR. Avaliação da Ação (positiva- negativa) Ações desenvolvidas. 34) Ações desenvolvidas com as famílias em 2009. Nº famílias atendidas Parcerias* Origem recursos e ação:1-P.Pública 2- ONG 3- CFR. Avaliação da ação (positiva-negativa) Ações nas famílias. 35) Ações desenvolvidas com as famílias em 2008. Nº Famílias Atendidas Parcerias* Origem recursos e ações:1-P.Pública 2- ONG 3- CFR Avaliação da Ação ( Positiva- Negativa) 164 Ações desenvolvidas. 36) Ações desenvolvidas com as famílias em 2007. Nº Famílias Atendidas Parcerias* Origem recursos e ações:1-P.Pública 2- ONG 3- CFR Avaliação da Ação (Positiva- Negativa) Ações desenvolvidas. 37) Ações Desenvolvidas com as famílias em 2006. Nº Famílias Atendidas Parcerias* Origem recursos e ações:1-P.Pública 2-ONG 3- CFR Avaliação da ação: (positivos- negativos) Ações desenvolvidas. 38) Existem instalações especiais no CEFFA? (agroindústria, panificadora etc...) (Aberta Texto ) ________________________________________________________ ________________________________________________________ IV - QUESTÕES DIRIGIDAS AOS MONITORES. 39) De que forma é construído o Plano de Formação considerando o projeto de vida do jovem? (Aberta Texto ) ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ 40) Qual ano, turma e alternância é tratado sobre os projetos de vida do jovem? (Aberta Texto ) ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ 41) O trabalhado de tutorias vinculadas ao projeto de vida é realizado? Comente. (Aberta Texto ) ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ 165 ________________________________________________________ ________________________________________________________ 42) Os jovens realizam estágios para as atividades selecionadas em seus projetos de vida. Comente. (Aberta Texto ) ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ 43) Quando os temas dos Projetos de Vida dos jovens não se vinculam à agricultura, quais procedimentos são tomados pelos educadores? (Aberta Texto ) ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ 44) A execução dos projetos de vida é realizado partindo de quais articulações do CEFFA? (Políticas públicas, etc...) Comente. (Aberta Texto ) ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ 45) O CEFFA em seu desempenho estabelece prioridades nos temas de formação? Quais são mais evidentes? (Múltipla escolha) [ ] Durante a alternância- ( )social ( )Cultural ( )econômico ( ) ambiental ____________________________ [ ] Na propriedade- ( ) social ( )Cultural ( )econômico ( ) ambiental ____________________________ 46) Como é trabalhado o projeto de vida com as famílias dos jovens? (quanto ao seu envolvimento) (Aberta Texto ) ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ 47) Qual é o procedimento do CEFFA para acompanhamento dos jovens egressos? (Aberta Texto ) ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ V - QUESTÕES DIRIGIDAS A ASSOCIAÇÃO. 48) Qual é o envolvimento dos membros do conselho de administração na elaboração e execução dos Projetos de vida dos jovens? (Simples escolha) ( ) Parcial ( ) Constante ( ) Nenhum 49) Em que medida o conselho de administração participa da apresentação dos projetos de vida dos jovem? (Simples escolha) ( ) Total participação ( ) Raramente participam ( ) Nenhuma participação 166 ( ) Razoável participação 50) O conselho de administração desenvolve ações estratégicas para participação de outras instituições na apresentação dos projetos de vida do Jovem? (Simples escolha) ( ) Sim ( ) Não 51) Em que media o Conselho de administração se envolve na elaboração do Plano de Formação do CEFFA? (Simples escolha) ( ) Pouco envolvimento ( ) Nenhum envolvimento ( ) Parcial envolvimento ( ) Total envolvimento 52) Existe trabalho do CEFFA para viabilizar a execução dos projetos de vida? (Simples escolha) ( ) Sim. Qual (s)? ____________________________ ( ) Não 53) Existem programas estratégicos para a viabilização dos projetos de vida (Simples escolha) ( ) Não ( ) Sim. Qual (s)? ____________________________ 54) Mantem-se alguma relação com jovens egressos? (Simples escolha) ( ) Não ( ) Sim. Como ocorre? ____________________________ 55) Como se avalia a relação do conselho de administração do CEFFA, no ambiente externo e interno ao CEFFA. (Múltipla escolha) [ ] Funcionários. ( ) ótima ( ) razoável ( ) difícil [ ] Família. ( ) ótima ( ) razoável ( ) difícil [ ] Parcerias. ( ) ótima ( ) razoável ( ) difícil VI - QUESTÕES DIRIGIDAS A PROFESSORES. 56) Qual é seu nível de envolvimento como professor na elaboração do projeto de vida do jovem? (Simples escolha) ( ) Envolvimento constante ( ) Envolvimento parcial ( ) Nenhum envolvimento ( ) Ótimo envolvimento 57) Como observa o Plano de formação do CEFFA no que se refere ao projeto de vida do jovem? (Aberta Texto ) ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ 58) Em sua opinião qual é a área de conhecimento que tem maior aproximação e envolvimento com o projeto de vida do jovem? (Múltipla escolha) [ ] Ciências da Natureza e suas Tecnologias [ ] Ciências Humanas e suas Tecnologias [ ] Ciências Agrárias [ ] Linguagens, Códigos e suas Tecnologias [ ] Matemática e suas tecnologias 59) Em sua função de educador achas importante a construção do projeto de vida? (Simples escolha) ( ) Sim. Por quê? ____________________________ ( ) Não. Por quê? 167 60) Tens acompanhado o trabalho na propriedade? (Simples escolha) ( ) Não ( ) Sim. Quais resultados observou? ____________________________ 61) Em que medida sua opinião é considerada nos processos decisórios? (Simples escolha) ( ) Pouco considerada ( ) Razoavelmente considerada ( ) Não é considerada ( ) Sempre considerada ( ) Por vezes 168 APÊNDICE C – TRAJETÓRIA DAS FAMÍLIAS EM RELAÇÃO AO CEFFA DE DOIS VIZINHOS 1. A trajetória da família na relação com a CFR de Dois Vizinhos. Primeira questão: Quando iniciou seu contato/ vivência com a CFR? Cite outro momento importante que marcou a relação com a CFR? Cite outro momento importante que marcou a relação com a CFR? Última questão: Por quanto tempo dura ou durou essa relação? Data: Motivo (o que aconteceu): Qual e como foi a participação dos pais Qual e como foi a participação do filho(a) Quem da CFR estava presente nesse momento: Como e no que esses profissionais contribuíram: Como os Srs avaliam (pontos positivos e negativos) esse momento: Quais os resultados práticos para a família: Quais os resultados práticos para a propriedade: Observar que: nos momentos importantes devem constar necessariamente o da entrada do filho na CFR; as ações mais importantes feitas pela CFR na propriedade durante o período de formação; o da formatura. 2. Análise do Projeto de Vida do Jovem: a) Qual foi (ou qual é) o projeto de vida do jovem? (pequeno resumo) b) Quem influenciou (ou decidiu) a escolha deste projeto? Porque? c) A CFR participou da construção do projeto? Como ou de que forma? Como avalia essa participação: d) Ele foi (ou será) implantado? Quando? Ele ainda está em andamento? e) Existe acompanhamento de técnicos da CFR? Para que finalidade? Com que frequência? f) Quem da família se envolveu com a realização do projeto? De que forma cada um se envolveu? Porque houve envolvimento destas pessoas? g) No que ele contribui com a família? e com a propriedade? h) Apontem os pontos positivos e negativos desse projeto: 169 3. Análise da participação da família no processo de gestão: a) A família participa da pesquisa participativa para a definição do Plano de Formação? Quantas vezes participou? Como a família avalia essa participação? Teve resultados práticos? b) Na sua opinião, quem que decide sobre o funcionamento da CFR? Os professores Os monitores Os jovens As famílias A associação c) A família conhece a Associação da CFR? Ela participa? De que forma? d) A família participa das assembleias da Associação? Quantas vezes participou? A família já deu sugestão ou ideia na assembleia? Foi aceita e aplicada? Porque: e) Qual a sua avaliação (positiva e negativa) da gestão da CFR? 4. Avaliando as condições de vida da família e as condições da propriedade (econômico, ambiental) como era antes e depois da participação da CFR? Houve alguma mudança? No que? Porque? 5. NO que a CFR mais contribui com as famílias, com a comunidade e com os agricultores familiares? 170 ANEXO 171 ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ PR Ministério da Educação Universidade Tecnológica Federal do Paraná Campus Pato Branco Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Estamos executando uma pesquisa vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da UTFPR, aprovada pelo Colegiado do Curso de Mestrado em Desenvolvimento Regional, que tem por objetivo a coleta de dados para a Dissertação que trata sobre o Centro Familiar de Formação por Alternância e a Sustentabilidade da Agricultura Familiar. Sua colaboração na pesquisa será muito importante. Por isso, pedimos a sua participação na mesma através do fornecimento de informações através de entrevista. As informações que você prestar serão utilizadas apenas para as finalidades da pesquisa e não serão objeto de avaliação pessoal no sentido de verificação de acerto ou erro. Se a qualquer momento você desejar informações adicionais sobre a pesquisa ou, se não querendo mais participar, desejar interromper sua participação, pode entrar em contato no horário comercial pelo telefone (46)88167735 ou pelo e-mail clarianawb@yahoo.com.br, endereçando a mensagem a Clariana Maria Werkauser Bressiani. Clariana Maria Werkauser Bressiani Mestranda .Hieda Maria Pagliosa Corona Orientadora TERMO DE CONSENTIMENTO Eu..................................................................................................................,........ ........................declaro que fui devidamente esclarecido/a sobre o projeto de pesquisa Centro Familiar de Formação por Alternância e a Sustentabilidade da Agricultura Familiar e concordo em participar da mesma fornecendo informações através de gravações e fotos, questionários e ou entrevistas. Dois vizinhos, 22 de dezembro de 2011.